Ativistas ambientais mostraram, na quinta-feira, um vídeo feito em segredo que sugere que uma “grande brecha” na aplicação da lei japonesa está prejudicando os esforços para conter o comércio ilegal de marfim.

Especialistas dizem que a maioria do marfim ilegal é levado para a China, que responde por cerca de 70% da demanda global, onde o produto é utilizado na medicina tradicional e na ornamentação.

O comércio internacional de marfim foi banido em 1989 pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens.

O Japão também proíbe o comércio transfronteiriço, e as autoridades dizem que o marfim comprado e vendido no interior do país foi obtido legalmente antes da proibição ou sob arranjos especiais com países africanos.

Mas a ONG Agência de Investigação Ambiental (EIA), sediada nos Estados Unidos, filmou secretamente quatro comerciantes de marfim em diferentes cidades no Japão, que não hesitaram em vender o produto para compradores chineses.

Os comerciantes japoneses agiram “sabendo que as presas seriam exportadas ilegalmente para a China”, disse a EIA em um comunicado.

Um ativista da EIA disfarçado se apresentou como um comprador chinês e mostrou explicitamente que estava disposto a enviar marfim para a China, disse o presidente da EIA, Allan Thornton, enquanto mostrava o vídeo para jornalistas.

“Você chegou tarde demais”, diz um comerciante de Osaka no vídeo. “Nós vendemos tantas presas de marfim que o marfim está desaparecendo do Japão”.

Outro comerciante na cidade de Gifu diz: “Eu não me importo, ok? Ilegal é ok”.

As leis japonesas criaram uma “grande brecha”, em parte porque os comerciantes não têm que registar todas as presas que possuem, a não ser que tenham a intenção de vendê-las, e porque o registro de peças cortadas de marfim não é exigido, disse Thornton.

“Embora saibam que é ilegal, os comerciantes não têm qualquer preocupação em vender a presa para pessoas que dizem que vão exportá-las”, afirmou Thornton.

“Nos Estados Unidos e em outros países, isso seria considerado conspiração para infringir uma lei”, completou.

A divulgação das filmagens chega semanas depois de que os Estados Unidos anunciaram a proibição quase total do comércio de marfim de elefantes africanos.

A África é o lar de entre 450.000 e 500.000 elefantes, mas mais de 30.000 são mortos anualmente no continente para satisfazer a demanda de marfim, em grande parte da Ásia, onde um quilo é vendido por cerca de 1.000 dólares.

“Enquanto a China está capturando criminosos que contrabandeiam toneladas de presas de marfim do Japão, nenhuma ação está sendo feita pelo Japão para processar os comerciantes de marfim que facilitam a exportação ilegal”, disse Danielle Grabiel, analista sênior da EIA.

Procuradas, as autoridades ambientais do país não estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto.

Uma autoridade do Ministério do Comércio do Japão, no entanto, disse que as autoridades estão monitorando de perto os comerciantes registrados, enquanto “tais casos (ilegais) se enquadram na categoria de investigação criminal”.

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