A Polícia Civil e o Ministério Público do Estado de Santa Catarina (MPSC) investigam a creche particular Bem Me Quer, localizada em Florianópolis (SC), após denúncias de maus-tratos contra crianças, com idades entre zero e cinco anos. O caso veio à tona após ex-funcionários e pais dos alunos apresentarem fotos e vídeos de agressões físicas e psicológicas que teriam sido praticadas pela diretora e proprietária do local, Twuisa Alexandre Marcelino. As informações são do Uol.

Há estimativa que entre 10 a 20 crianças tenham passado pelo local na Bem Me Quer nos últimos meses, que cobra uma mensalidade de R$ 1.400.

https://www.facebook.com/307303496652829/videos/575023964241571

No vídeo, registrado por uma ex-funcionária, é possível ver a diretora cobrindo a cabeça de uma bebê com um cobertor. “Para, para com essa porcaria. Que chata!”, reclamou Twuisa. “Chega! Deu. Não solta essa chupeta, que fica perdendo essa porcaria”, disse ela em outro episódio.

A bebê das imagens tem 11 meses e era a mais nova aluna da creche Bem Me Quer. O Uol entrou em contato com a mãe da menina, que pediu para não ser identificada, e ela ressaltou que ainda está indignada com o que viu.

“Estamos tentando processar as informações. Parece mentira, por tudo que nos foi vendido. A ideologia maravilhosa da creche: preservava a natureza, cuidava dos animais, cardápio bem montado. Está doloroso, sofrido para nós.”

Ela frisou que colocou a bebê na creche em fevereiro deste ano e pelo período integral. A mãe optou pela Bem Me Quer por ser próxima ao seu trabalho.

“Ela é muito bebezinha ainda, não dá para saber direito se algo havia de errado. Mas agora, com tudo isso, é que nós ligamos os pontos. Quando colocamos uma roupa mais pesada, por conta do inverno, e a blusa passava pela boca, pelo rosto, ela ficava agoniada. É um desespero para ela. Devido aos fatos, aos vídeos, a gente crê que a menina ficava tapada por horas”, disse.

“(A bebê) Está abatida. Percebemos que está um pouco afastada de mim. Ela só dorme com meu marido. Não sei se a figura ‘mulher’ tem relação”, acrescentou.

Denúncia no Conselho Tutelar

Uma outra ex-funcionária já havia denunciado a creche Bem Me Quer no Conselho Tutelar. Mas, por falta de fotos ou vídeos, o caso não foi levado adiante.

Ela relatou ao Uol que não percebeu nada de estranho na creche no início. “Realizei a entrevista lá e tudo me pareceu muito certo, mas o que acontece não chega nem perto disso.” Porém a situação mudou depois de uma semana de trabalho.

A ex-funcionária ainda afirmou que a diretora manteve um menino autista sentado o dia inteiro atrás da mesa dela, porque ele batia nos outros colegas. “Ela raramente alimentava o menino, pois alegava que ele não comia muita coisa, os remédios dele eram jogados fora, pois dizia que ele cuspia nela quando tomava. Quando ele gritava, ela mandava calar a boca, gritava e às vezes batia.”

Segundo ela, um aluno que usava aparelho auditivo também era vítima de violência. “Assim que ele chegava na escola, ela nos mandava tirar o aparelho dele para que ele não o perdesse, deixando ele o dia todo sem.”

A ex-funcionária frisou que, além dos alunos, os empregados da creche também eram maltratados com gritos e humilhações.

Prefeitura afirma que creche estava irregular

No último fim de semana, os pais dos alunos receberam um comunicado da creche Bem Me Quer informando que as atividades foram suspensas por tempo indeterminado.

Nesta quinta-feira (7), a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) Santa Catarina interditou o local. O órgão afirmou que fez isso com “o objetivo de inibir condutas desonestas e abusivas e a falta de comprometimento na oferta de serviços impróprios”.

Procurada pelo Uol, a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis informou que a creche não tinha autorização para funcionar. Também ressaltou que o Conselho Municipal de Educação recebeu, em fevereiro deste ano, uma denúncia, mas, na época, nenhuma irregularidade foi constatada.

Já o Conselho Tutelar do Continente, que é responsável pela região em que a creche está localizada, disse que recebeu uma denúncia em dezembro de 2021, mas não levou o caso adiante porque “faltava embasamento”.

Agora, a ocorrência é apurada pela Polícia Civil, que já ouviu ao menos 12 mães na Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso de Florianópolis.

A delegada Michele Alves informou que os policiais esperam ouvir a diretora da creche Bem Me Quer ainda nesta semana.

Por meio de nota enviada ao Uol, a defesa da creche afirmou que “não reconhece a validade dos fatos e das imagens divulgadas que estão lhe sendo atribuídas, informando que não há registros de eventuais irregularidades, permanecendo à disposição das autoridades”, concluiu.