O efeito sanfona é o pior inimigo das dietas. Mas cientistas descobriram como detê-lo. Os testes foram feitos em ratos, mas as descobertas poderão ajudar humanos também.

Ao afetar milhões de pessoas em todo o mundo e se tornar uma doença crônica, a obesidade virou um grande problema de saúde. A enfermidade se espalhou por quase todos os cantos do planeta a ponto de “atingir proporções epidêmicas”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 5 milhões de pessoas morrem a cada ano por causa de doenças e efeitos nocivos associados à condição.

Até 2035, mais da metade da população mundial − mais de 4 bilhões de pessoas − poderá ser obesa ou ter sobrepeso, de acordo com o Atlas da Federação Mundial da Obesidade de 2023.

Mas afinal o que é obesidade?

A obesidade é uma doença complexa que pode ocorrer em qualquer idade e afeta adultos e crianças. A OMS define a obesidade como “acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde”.

Em essência, a obesidade ocorre quando uma pessoa consome excesso de calorias, que o corpo converte em gordura. Esse desequilíbrio entre as calorias que se ingere e as calorias queimadas – como quando se pratica exercícios físicos – pode ser causado por muitos fatores, incluindo sociais, estilo de vida, físicos, psicológicos, biológicos e genéticos.

Ao contrário do que ainda se acredita, a obesidade não é uma escolha ou resultado da falta de força de vontade, mas uma doença crônica que deve ser tratada como tal.

A obesidade é um dos principais fatores de risco para a morte precoce, pois aumenta o perigo de desenvolver outras doenças. Ela é associada a enfermidades cardiovasculares e respiratórias, problemas de saúde mental, alguns tipos de câncer e males metabólicos, como diabetes tipo 2, entre outros.

O que causa a enfermidade?

“Sabemos que apetite e saciedade são herdados e que até 70% do peso é geneticamente determinado. Há todas as razões para tratar a obesidade como uma doença crônica e recorrente”, disse John Wass, professor de endocrinologia da Universidade de Oxford, à revista científica The Lancet.

Há muitos motivos pelos quais uma pessoa pode começar a consumir mais calorias do que queima, levando à obesidade. Esses fatores podem ser divididos em duas categorias: fatores internos, como o corpo da pessoa, sua biologia e genética; e fatores externos, como condições ambientais e sociais, como a renda, acesso a cuidados de saúde, a um parque, etc.

Aspectos genéticos, falta de exercício, maus hábitos alimentares, problemas psicológicos, problemas de saúde, condições sociais e econômicas, drogas, poluentes e outros fatores relacionados ao corpo podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade.

Condições médicas como a doença de Cushing e certos medicamentos, incluindo esteroides e alguns antidepressivos, também podem causar aumento de peso ou obesidade.

Mais recentemente, foi demonstrado que a flora intestinal pode estar desempenhando um papel importante em relação à obesidade. A flora ou microbiota intestinal diz respeito a todos os microrganismos que vivem dentro do intestino e aos quais é atribuída parte da saúde e bem-estar.

Como problema afeta o corpo?

A obesidade pode afetar quase todas as partes do corpo e levar a muitos problemas de saúde. Os pesquisadores estimam que, para cada 5 aumentos no Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25, há cerca de 30% de aumento na mortalidade.

Os sintomas relacionados ao excesso de gordura e peso corporal incluem dificuldade para realizar atividades físicas, dores em diferentes partes do corpo, como nas costas, e até osteoartrite. O sobrepeso também pode dificultar a respiração à noite, o que é chamado de apneia do sono.

A obesidade pode causar diabetes tipo 2, aumentar a pressão arterial, o colesterol e o açúcar no sangue e levar a doenças cardiovasculares, como derrames e ataques cardíacos devido ao aumento do acúmulo de gordura nas artérias.

A doença também tem sido associada a certos tipos de câncer, como do endométrio, esôfago, fígado, rim e cólon, entre outros. E ela pode afetar ainda gravemente a saúde mental de uma pessoa, causando ansiedade, baixa autoestima e aumentando o risco de depressão.

Como a obesidade é constatada?

Determinada principalmente pela medição do Índice de Massa Corporal (IMC) de uma pessoa, a obesidade é diagnosticada quando o IMC de uma pessoa está acima de 30. O IMC é calculado dividindo o peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Ele pode ser calculado, por exemplo, nesta calculadora do governo do Rio de Janeiro. (https://www.saude.rj.gov.br/obesidade/calcule-seu-imc)

Se a pessoa mede 1m80 e pesa 75 kg, seu IMC é 23, o que é considerado saudável. Mas, segundo a OMS, se o IMC for superior a 25, a pessoa está com sobrepeso; e, se for superior a 30, então esta é uma pessoa com obesidade. Mas isso pode variar de país para país e entre grupos étnicos.

No entanto, o IMC não é uma medida direta da quantidade de gordura, pois idade, sexo, etnia e massa muscular podem afetar a relação entre o IMC e a gordura corporal. Por exemplo, um levantador de peso com muita massa muscular pode ter um IMC alto, acima de 30, e não ter excesso de gordura.

Existem outras ferramentas para medir a quantidade de gordura com mais precisão, como bioimpedância elétrica ou varreduras DXA, mas elas não estão amplamente disponíveis. “A melhor maneira de medir a gordura corporal é usando ressonância magnética”, disse à DW Alexander Miras, professor de endocrinologia da Universidade de Ulster, no Reino Unido.

Mas os exames de ressonância magnética são caros e são usados principalmente para determinar a gordura corporal para fins de pesquisa. O teor de gordura abdominal está associado a riscos de saúde mais elevados do que no resto do corpo. Por isso, as diretrizes médicas recomendam usar a circunferência da cintura para determiná-la.

Como pode ser tratada e prevenida?

A nível individual, a melhor forma de prevenir a obesidade passa por uma alimentação equilibrada, com menos gorduras e açúcares e mais frutas, legumes, cereais e frutos secos, e manter-se ativo, fazendo atividade física constante com exercício físico regular, cerca de 20 minutos por dia, recomenda a OMS. Mas isso só pode funcionar plenamente em conjunto com intervenções políticas, de saúde pública, sociais e da indústria alimentar.

“Na verdade, tem havido muita ênfase na culpa e na responsabilidade pessoal, inclusive por parte dos médicos”, disse Francesco Rubino, presidente de cirurgia metabólica e bariátrica do King’s College London, à The Lancet.

Como numa doença crônica, o médico deve fornecer um plano de tratamento de longo prazo que pode incluir modificações no estilo de vida, de hábitos alimentares, a opção por uma dieta mais equilibrada e modificar a forma como as pessoas se movem, promovendo a atividade física. Acompanhamentos regulares são importantes.

A perda de peso não precisa ser extrema no começo. Estudos demonstraram que mesmo uma redução de 10% no peso corporal pode diminuir significativamente a ameaça de fatores de risco relacionados à obesidade e que isso pode ser alcançado em seis meses com programas de tratamento bem planejados. Depois disso, programas de perda de peso mais intensos podem ser discutidos com o médico.

Pode ser difícil para os pacientes se manterem motivados, ou eles podem enfrentar problemas de saúde mental por causa da doença, e justamente por isso o acompanhamento psicológico e a motivação constante são fundamentais.

Quais medicamentos e cirurgias existem?

Se a dieta e o exercício não funcionarem, existem poucos medicamentos aprovados para tratar a obesidade que podem ajudar, mas também podem ter efeitos colaterais. O último a ser aprovado foi a semaglutida.

A medicação, vendida sob a marca Ozempic (versão injetável) ou Rybelsus (versão comprimido), foi aprovada pela Anvisa, no Brasil, e também nos Estados Unidos e pelo National Institute for Health and Care Excellence (Nice) no Reino Unido. Ela pode levar a mais de 10% de perda de peso. A droga deve ser autoinjetada uma vez por semana e pode causar efeitos colaterais como náusea, vômito, diarreia e obstipação.

A semaglutida reduz o apetite imitando o hormônio GLP-1, que é liberado depois que comemos.

Caso a dieta e os exercícios falharem para pessoas com obesidade grave, geralmente com IMC acima de 40, a cirurgia bariátrica, como o bypass gástrico, pode ser um tratamento eficaz para redução de peso e melhoria da saúde. É importante discutir com o médico os benefícios, riscos e implicações deste procedimento.

As pessoas respondem de forma muito variada às diferentes intervenções, por isso o melhor tratamento possível deve ser cuidadosamente discutido com um médico.

Principais estatísticas sobre doença

Em 2016, 1,9 bilhão − ou 39% dos adultos em todo o mundo − viviam com sobrepeso, e 650 milhões − ou 13% − tinham obesidade.

A obesidade é um problema global crescente. A proporção de adultos obesos quase triplicou desde 1980, de acordo com o Observatório de Saúde Global da OMS.

Segundo o Observatório Global de Obesidade, a porcentagem de pessoas com obesidade é: 43% nos Estados Unidos, 20% na Arábia Saudita, cerca de 5% na Índia, 35% no Brasil, e nos países europeus os números giram em torno de 20%. Essas porcentagens não incluem pessoas com sobrepeso.

As crianças não estão isentas do problema. De acordo com a OMS, cerca de 38 milhões de menores de 5 anos são atingidos por sobrepeso ou obesidade, enquanto na faixa dos 5 aos 19 anos são 340 milhões em todo o mundo.