A CPI da Covid já possui provas e elementos suficientes para denunciar Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, e boa parte do seu desgoverno aloprado, incluindo o ex-ministro da Saúde, e sabujo quatro estrelas, Eduardo Pazuello, o general-fantoche do amigão do Queiroz, por crimes contra a população e a saúde pública brasileiras.
Omissão e desleixo no caso da falta de oxigênio em Manaus, que vitimou dezenas de pessoas; compra, produção e distribuição de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, notadamente cloroquina e hidroxicloroquina; publicidade de tratamento (precoce) falso; promoção e incentivo de aglomerações por todo o País; demonização do uso de máscaras e distanciamento social; omissão proposital na aquisição antecipada de vacinas; propaganda negativa e mentirosa acerca da eficácia e dos riscos dos imunizantes em uso. Tudo absolutamente provado e comprovado por documentos e depoimentos já colhidos.
GOVERNO PARALELO
Uma das principais linhas de investigação da CPI diz respeito a um provável time (de série C, diga-se) de colaboradores não oficiais, em sua maioria neófitos ideologizados por astrólogos picaretas sedizentes filósofos, que ou ditavam as normas e condutas do Ministério da Saúde (pós-Mandetta e Teich) ou mesmo influenciavam as decisões da Pasta e do próprio presidente da República.
Um dos participantes desse time seria o empresário, palestrante, escritor, filantropo e, ufa!, bilionário Carlos Wizard, um verdadeiro ‘self-made man’, digno dos mais efusivos aplausos no mundo empresarial e no terceiro setor. Sério e pra lá de bem-sucedido e respeitado, por essas razões que a lógica desconhece, Wizard se aproximou, com a melhor das intenções, de um incapaz e limitado chefe de Estado, cercado de gente ainda pior – nestes e em vários outros quesitos. E no intuito de ajudar, talvez tenha se metido em sérias implicações judiciais.
PAZUELLO
Apelidado justificadamente de Pesadelo, o general especialista em logística – que desconhece a separação adequada entre os hemisférios sul e norte – assumiu o Ministério da Saúde com pouco mais de 220 mil casos e 15 mil mortes por Covid-19, e entregou, menos de um ano depois, com quase 12 milhões de casos e 300 mil mortes.
Submisso assumido do pai do senador das rachadinhas e da mansão de seis milhões de reais, o militar da ativa (que vergonha para o Exército, meu Deus!) rezou pela mesma cartilha irresponsável e homicida do seu patrão. Promoveu oficialmente cloroquina e ivermectina como tratamento precoce; negligenciou o abastecimento de oxigênio no Amazonas; não comprou agulhas e seringas para a imunização em massa dos brasileiros; não se ateve aos problemas com a falta de kits para intubação; simplesmente ignorou as ofertas primárias para aquisição de vacinas; e, por fim, se tornou mero cabo eleitoral do ex-capitão desonrado que ocupa a Presidência da República.
LIVE DA ISTOÉ DINHEIRO
Em 19 de maio de 2020, durante uma ‘live’ com Celso Masson, diretor de Núcleo da Editora Três, empresa que edita essa IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, Carlos Wizard surpreendeu a todos e apresentou, ao vivo e em cores, o ‘novo Ministro da Saúde’, Eduardo Pazuello.
Sim, a proximidade entre ambos é desse tamanho todo, como vocês, leitores amigos, podem ver no vídeo acima. E mais: Wizard cantou as glórias do futuro ministro e deixou inequivocamente claras algumas das tarefas que lhe foram incumbidas.
Na ‘live’, Pazuello admitiu que teria muito trabalho pela frente, mas que ‘tenho a ajuda de amigos’, referindo-se ao seu, digamos, novo auxiliar. Mas não só. O ‘bicho’ é ainda maior, e a depender da interpretação da CPI e da Justiça, bastante feio.
Wizard explicou sua proximidade com o general-bibelô e admitiu que o novo ministro lhe delegou ‘uma missão’, qual seja, auxiliar na gestão de uma pasta com orçamento anual de 150 bilhões de reais. Lembrando sempre que: 1) Wizard não era servidor público, portanto não poderia imiscuir-se na administração federal. E 2) Pazuello não poderia delegar funções administrativas ou gerenciais, ainda que de maneira informal, a alguém da iniciativa privada. Entendem agora o tamanho do possível enrosco em que se meteu, repito, com a melhor das intenções, o nobre patriota.
De forma objetiva, Wizard disse: “Minha missão é auxiliar o general nos grandes contratos e grandes aquisições, pois ele confia na minha habilidade negocial”. Ou seja, amizade e governo se fundiram como jamais poderiam. Além disso, o próprio empresário declarou que ‘o Brasil estará forrado de medicamentos para serem usados ainda na fase inicial do tratamento; cloroquina e hidroxicloroquina’. E ainda se mostrou profundo conhecedor das motivações do presidente Bolsonaro em relação ao Ministério da Saúde.
FUJÃO
Intimado a depor na CPI da Covid, o empresário simplesmente não compareceu. Ao determinar sua condução coercitiva, a Justiça descobriu que havia saído do País e hoje se encontra nos Estados Unidos, após passagem pelo México. Parece fuga de filme? Sim, parece. E não digo que seja. Mas o que motivou Carlos Wizard a se mandar do Brasil? Aliás, já é o segundo caso relacionado ao governo do maridão da ‘Micheque’. Quem não se lembra do outro ‘fujão’ notório, o ex-ministro da Educação (eita, piada de mau gosto, sô!), Abraham Weintraub?
Bem, ao que parece, o ‘parça’ do general não está disposto a depor aos senadores da República. Especular não é pecado nem ofende, por isso, imagino que Wizard não queira, nesta ordem, comprometer a si próprio; comprometer o amigo Eduardo; comprometer Bolsonaro; comprometer de vez o governo federal.
Por quê? Ora, local e função de empresário é o escritório, cuidando dos seus negócios, e não em ministério, assessorando ministro incapaz. Por falar em incapaz, lugar de ministro (incapaz ou não) é no ministério, e não em palanque eleitoral pregando golpe militar. Além disso, se não der conta do trabalho, ou faz como o Zero Dois e pede pra sair, ou pede ajuda aos ‘universitários’. Até porque o que não falta em repartição pública é ‘universitário’. Apelar para amigo de fora do governo não pode. Simples assim. Ainda que seja um governo useiro e vezeiro em desrespeitar as leis e a moralidade na gestão pública.
E AGORA, CPI?
Bem, se o Brasil fosse um país relativamente normal, sob a ótica de um Estado democrático e de direito, um vídeo como o acima traria sérias repercussões aos envolvidos. Mas, se fossemos ‘normais’, Bolsonaro nem sequer estaria mais em Brasília; talvez em Bangu. Por isso, não será nenhuma surpresa se ‘nem te ligo farinha de trigo’ com a prova cabal e contundente da interferência indevida de um agente privado na administração pública federal.
Além do mais, governo paralelo, neste governo, é uma realidade velha e cansada. Bolsokids, olavetes, pastores, hipnólogos, blogueiros, terraplanistas, palpiteiros… o que não falta são ministros informais, já que o presidente da República não trabalha e fica apenas passeando e falando ‘zerda’ por aí. No caso de Wizard, ao menos, o ‘funcionário sem carteira’ é qualificado. Muito melhor que o Carluxo ou o Dudu Bananinha, né, não?
Se os senadores da República estiverem mesmo atentos e interessados no sucesso da Comissão, levarão o vídeo, com a ‘live’ da Istoé, para a próxima sessão da CPI e tomarão as devidas providências em desfavor de Pazuello, Bolsonaro e, colateralmente, coitado, do ‘fujão’. Sinto muito por Wizard, mas, em tese ao menos, ele se meteu numa tremenda de uma enrascada. Mas quem foi, afinal, que o mandou se meter onde não devia?