O vice-presidente sul-africano Cyril Ramaphosa foi eleito nesta segunda-feira como o novo líder do partido Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), no poder desde 1994, e aparece como o possível sucessor do chefe de Estado, Jacob Zuma.

Ao fim de uma disputa acirrada, Ramaphosa teve uma vantagem de apenas 174 votos, entre os quase 5.000 delegados presentes, sobre sua rival Nkosazana Dlamin Zuma, ex-esposa do atual chefe de Estado.

“Proclamamos o camarada Cyril Ramaphosa o novo presidente do Congresso Nacional Africano”, anunciou uma responsável da comissão de escrutínio do congresso partidário reunido em Johannesburgo.

Após uma recontagem que se prolongou muitas horas, e que foi a continuação de debates e uma votação que começou neste domingo, o anúncio da vitória do atual vice-presidente sul-africano foi recebida com aclamações de seus partidários e críticas do outro lado da tribuna.

Ramaphosa poderá se tornar dentro de dois anos, quando terminar o mandato de Zuma, no próximo presidente da África do Sul caso o ANC ganhe novamente as eleições gerais.

Durante a campanha, Cyril Ramaphosa, de 65, um ex-empresário que tem o apoio do setor econômico, denunciou a corrupção do Zuma e prometeu estimular a economia do país. Seus críticos garantem, porém, que ele defende apenas os interesses das classes mais abastadas.

“Cyril é o melhor candidato”, declarou hoje, depois de votar, o delegado Siya Kolase, de 35. “Ele vai se ocupar da questão da corrupção (…) com ele nossa economia vai-se recuperar”, completou.

“Não dormi nas últimas 24 horas, mas não me preocupo. Quero uma mulher presidente antes de morrer”, disse Patience Nomodi, de 62 anos.

Já Nkosazana Dlamini Zuma, de 68, recuperou o discurso do ex-marido sobre a necessidade de “transformação radical da economia” a favor da maioria negra do país.

Mais de 25 anos depois do fim do regime de segregação racial do Apartheid, milhares de sul-africanos continuam vivendo na pobreza.

– Um partido debilitado –

O partido chegou ao poder em 1994 nas primeiras eleições livres na África do Sul com a liderança do icônico Nelson Mandela.

Nos últimos, o ANC se viu debilitado pela crise econômica e pelas acusações de corrupção contra Jacob Zuma. Nas eleições locais de 2016 perdeu várias cidades importantes, como Johannesburgo e Pretória.

“Nosso fracasso para resolver os problemas começa a ter consequências em nosso movimento”, admitiu Zuma no sábado em seu discurso de despedida como líder do partido, citando em particular “a corrupção, o crime e o emprego”.

Muitos analistas acreditam que a feroz batalha pela liderança do CNA pode terminar com uma derrota na eleição presidencial de 2019.

Os mercados financeiros também estão muito atentos pelas “incertezas políticas” que afetam a economia da maior potência industrial do continente africano.

“As divisões continuarão afetando o ANC em 2018”, garante o analista George Nicholls, da consultoria Control Risks. “As facções rivais alimentarão (…) a instabilidade política e provavelmente obrigarão o presidente Jacob Zuma a renunciar antes do final do ano que vem”.