O relatório global da Hilton revela: o turismo do futuro será movido por propósito, não por destino. Por que viajamos?
Uma pergunta simples, mas é ela que está moldando o turismo do futuro. O relatório de tendências Hilton 2026 (The Whycation)*, divulgado pela rede global de hospitalidade, analisou o comportamento de mais de 14 mil viajantes em 14 países e revelou uma mudança silenciosa: o foco das viagens deixou de ser o “onde” e passou a ser o “por quê”. Em outras palavras, viajar deixou de ser sobre o movimento, e passou a ser sobre sentido.
Ufa. Uma maravilha ver esse comportamento ganhar escala, ser traduzido em números, pesquisas e dados globais. Um alívio perceber que, depois de tantos anos em ritmo frenético, o turismo talvez volte a olhar para o essencial. E o mais interessante aqui, é observar uma das maiores redes hoteleiras do mundo, pautada muitas vezes em luxos inalcançáveis para uma grande maioria, reconhecer que o novo luxo não é o destino, mas a intenção. Que o verdadeiro desejo do viajante contemporâneo é se sentir vivo, e não apenas estar em algum lugar.
Será que o mundo vem aprendendo a desacelerar? Há também um cansaço que não é físico, e sim sensorial. As paisagens perfeitas, os quartos minimalistas e os cafés fotogênicos continuam existindo, claro, mas já não bastam. Vejo uma nova geração que quer voltar a sentir, não apenas registrar. Tive a impressão de ser um início do retorno à essência.
Segundo o estudo, 56% das pessoas afirmam que o principal motivo para viajar é descansar e recarregar as energias: um dado que confirma o surgimento do conceito de “hushpitality”, a hospitalidade do silêncio. Hotéis e destinos que oferecem calma, natureza e simplicidade serão os grandes objetos de desejo. Lugares que entendem que o verdadeiro luxo não é o excesso, mas a pausa.
E essa mudança de comportamento não está restrita aos viajantes de luxo. No Brasil, 61% dos brasileiros fazem pelo menos uma viagem de lazer por ano, e cada vez mais buscam contato com a natureza e momentos de reencontro com familiares e amigos (FSB Pesquisa, 2024). Já um levantamento do Sebrae com o TRVL Lab mostrou que 9 em cada 10 viajantes brasileiros escolhem destinos motivados por experiências — 57% procuram natureza e ecoturismo, e quase 70% querem relaxar (Agência Sebrae, 2024).
Tudo aponta para um mesmo lugar: a busca por sentido. Viajar, hoje, não é mais sobre consumo ou acúmulo de carimbos no passaporte, mas sobre o impacto que o trajeto deixa em quem vai — e em quem fica. O turismo, enfim, começa a olhar para o que realmente importa: o humano no centro da experiência.
É importante lembrar, porém, que o relatório da Hilton fala de uma parcela específica do turismo global — aquela que pode escolher o luxo do silêncio, o conforto do lar em outro país ou a pausa como experiência. Ainda assim, as mudanças que ele aponta ajudam a ler o comportamento mais amplo das pessoas diante da viagem.
Enquanto uma parte busca desacelerar do excesso, outra ainda luta para ter acesso ao descanso. E talvez o verdadeiro desafio do turismo contemporâneo esteja justamente aí: fazer do bem-estar um direito, não um privilégio.
*Sobre o relatório
O relatório “2026 Trends Report – The Whycation” da Hilton é um estudo global que mapeia tendências de comportamento dos viajantes para o ano de 2026, com foco em como as motivações, valores e expectativas em torno das viagens estão mudando.
Foi realizada uma pesquisa com 14.009 adultos planejando viajar nos próximos 12 meses, em 14 países (incluindo Brasil, China, Índia, EUA, Reino Unido, dentre outros) entre 9 e 30 de junho de 2025. Além da pesquisa com viajantes, o relatório incorpora insights proprietários da Hilton com mais de 5.000 colaboradores da empresa, e feedback de 1.000 membros do programa de fidelidade Hilton Honors.