Sair da rotina e viajar é uma grande oportunidade para melhorar a saúde mental, garantem especialistas em saúde mental ouvidos pela ISTOÉ.

Algumas experiências, inclusive, podem ser terapêuticas e agregar aprendizados importantes, amenizando os sintomas do estresse e até da depressão.

“Viajar pode melhorar as condições e características de um transtorno psíquico. A viagem proporciona aumento de dopamina e prazer, que pode auxiliar, e muito, na redução de estresse e depressão, além de uma grande melhora no quadro de saúde geral”, garante o psicólogo, psicanalista, psicofarmacologista e terapeuta floral José Buongermino Raucci.

Espanha. Foto: Paty Moraes Nobre

“No caso da depressão, nunca falamos em cura, mas, sim, em grande remissão. A natureza e a diferença de cenários pode gerar uma sensação de bem estar e alívio do cansaço. É sempre bom fazer uma viagem para o relaxamento do cérebro e do corpo”, prossegue o diretor da Nuovavita.

Veja, a seguir, 5 benefícios de uma viagem para a mente e o corpo:

  • Idioma novo: Lidar com frustração na comunicação 

Quando nos deparamos com a nossa própria dificuldade na forma de se expressar em um novo idioma, primeiro, compreendemos que, mesmo que estejamos próximos fisicamente do outro, estamos infinitamente distantes mentalmente. Ou seja, percebemos que sempre estamos sozinhos dentro de nós mesmos e que, por esse motivo, precisamos nos adaptar à necessidade de entendimento do outro para as questões que passam unicamente em nossa consciência.

A segunda compreensão permite perceber que, da mesma forma que o outro se esforça para nos entender, também precisamos realizar um esforço para entender que muitos dos embates da vida são dificuldades de interpretação das reais intenções ou desejos dos outros. Nesse sentido, fica claro que a comunicação entre as pessoas (de outra nacionalidade ou não) sempre terá um déficit entre o que se pensa, o que se comunica e o que se interpreta.

Porém, em um idioma diferente, sentimos na pele a necessidade de revalidar as nossas formas de comunicação. Assim, estamos treinando também o aprimoramento cerebral e cognitio.

É justamente no estresse do movimento dessa realização que desenvolvemos nossa criatividade – já que ela permite uma real adaptação e uma melhora constante, não só das atividades, mas também das relações humanas.

Esse estresse (natural no contato com o novo e desconhecido) pode estar relacionado ao medo e à ansiedade. Assim, é possível perceber uma certa “ansiedade física e mental” que nos coloca no movimento de mudanças e descobertas, gerando, assim, uma ansiedade vital e positiva. Ela será responsável pelo aprimoramento de nossas ações e reflexões em relação ao comportamento do estranho e ou até desconhecido, que causava medo e apreensão em nossa consciência.

(Marcos Pereta, psicoterapeuta especializado em neurociência e ortomolecular, diretor do Grupo Cuhidar Saúde)

Marrocos. Foto: Paty Moraes Nobre
  • Novas culturas: Reavaliar preconceitos e julgamentos

É importante comentar que todos nós carregamos, em nossa existência, inúmeros pré-conceitos, pois, desde o ventre materno, vamos formando nossas janelas de memórias (iluminadas ou traumáticas), que irão fundamentar nossa leitura e interpretação das experiências do dia a dia.

Como interpretamos o mundo em que vivemos de acordo com as experiências e aprendizados anteriores, é natural que tenhamos algumas ideias pré-moldadas sobre elas. No entanto, é extremamente importante compreendermos que nossa personalidade e nossa consciência estão em constante evolução (o cérebro, inclusive, é dotado de uma neuroplasticidade). Por esse motivo, sempre poderemos reaprender a viver e interpretar a vida e, para isso, precisamos buscar novas fontes de estudo e contato.

O contato com outras nações e culturas se torna uma escola fantástica para o alargamento da consciência humana em relação à diversidade existencial e para o entendimento de que não existe o “melhor” ou “pior” e que a união da espécie humana se dá justamente pelas suas diferenças.

(Taty Ades, psicanalista especialista em transtorno borderline e amor patológico).

  • Novos sabores: Transformação de gostos 

Quando viajamos, nos tornamos mais dispostos a novas experiências. E, quando o cérebro está preparado para o novo, é o momento ideal de fazer coisas novas e diferentes. As vezes, viajando, é possível reavaliar gostos e perceber que uma comida que julgávamos difícil para o paladar, impossível de comer, pode ser boa. A flexibilidade cerebral pode mudar padrões alimentares, e nada melhor do que a viagem para ter essa mudança nos hábitos.

(Taty Ades, psicanalista especialista em transtorno borderline e amor patológico).

Itália. Foto: Paty Moraes Nobre
  • Transtornos e dificuldades: Exemplos para os problemas cotidianos

Programar uma viagem já é a pré-realização de algo que compensará o desgaste emocional do cotidiano. Logo, “tudo tem que dar certo!”. Só que, nem sempre, isso se realiza. A própria determinação de se divertir e esquecer, por um tempo, os perrengues do dia a dia torna “obrigatória” a satisfação buscada. E essa “obrigatoriedade” supervaloriza qualquer pequeno detalhe, incidente ou o inesperado. A começar pela propaganda enganosa, que “não entrega” os serviços contratados, por exemplo, que, infelizmente, acontece muitas vezes.

Independente da dificuldade enfrentada, a pessoa precisa saber lidar com a situação e enxergar sempre o copo meio cheio ao invés do copo meio vazio. Enfrentar dificuldades fora de sua cidade ou país de origem pode nos fazer crescer. Afinal, é nas adversidades que aprendemos as melhores lições, isso já é comprovado. E, lógico, fica marcada na história da pessoa a superação. Tipo: “Lembra daquela vez que perdi o voo e tive que voltar parte do trajeto dirigindo em na estrada do lado contrário que estava acostumado? Nossa, aquilo virou experiência para o resto da vida”.

(José Buongermino Raucci, psicólogo)

Inglaterra. Foto: Paty Moraes Nobre
  • Novos sentimentos: Ajuda para superar traumas amorosos 

No caso de frustração amorosa, qualquer término de relação doi, e disso não há como escapar. Quando temos novos estímulos, nós novamente vemos que a vida não é somente a nossa bolha, que temos a capacidade de nos reinventar.

Ao viajar, temos bastante desses novos estímulos. Por isso, é muito valioso ter esse tipo de contato com novas pessoas. Isso não significa que precisa viajar loucamente o tempo todo, não é isso: mas que a pessoa se promova novos estímulos e a viagem é um deles.

O ponto é que viajar não pode simplesmente servir como uma esquiva, mas, sim, como uma reestruturação mental. Nós somos seres sociais e temos, muitas vezes, necessidade de nos conectarmos com novas pessoas, de ouvir e contar histórias novas.  Isso nos alimenta.

(Yuri Busin, psicólogo, mestre e doutor em Neurociência do Comportamento e Pós-graduado em Psicologia Positiva e Terapia Cognitivo-Comportamental)

Espanha. Foto: Paty Moraes Nobre