Viajar para qualquer destino, seja no Brasil ou outro país, deve ser também uma oportunidade cultural: mesmo que o motivo principal seja profissional ou mero lazer, podemos incluir em nosso roteiro visitas a museus com interessantes acervos, peças de teatro, shows musicais ou apresentações de ópera. Só a prestigiosa The Metropolitan Opera de Nova York, da qual me orgulho de integrar seu conselho diretivo, por exemplo, oferece nada menos que 29 óperas diferentes ao longo do ano, um polo permanente de arte e cultura que serve de paradigma para nossa sociedade, assim como o Balé e a Sinfônica de Nova York, outros ícones da cidade. Iríamos a um destino como esse apenas para trabalhar obsessivamente ou relaxar em um banco de praça? Incluir atividades culturais em nossas viagens é uma forma de valorizá-las e torná-las inesquecíveis.

Além de seu aspecto educacional, a cultura também envolve negócios: só a Metropolitan Opera, por exemplo, movimenta receitas de 312 milhões de dólares por ano. Ao contrário do Brasil, onde as leis de incentivo cultural são complexas, lentas e cada vez mais exigentes — como a recente obrigação de oferecer de graça metade de uma plateia de espetáculos culturais —, nos Estados Unidos o marketing cultural recebe maciços investimentos da maioria das grandes empresas. O motivo é simples: a legislação americana permite que se invista na cultura até 80% do Imposto de Renda, o que, além do aspecto financeiro, propicia um enorme retorno em termos de prestígio e reputação. Não por acaso, empresas de setores polêmicos, como a petrolífera Texaco, investem altas somas na cultura.

“Apenas a prestigiosa Metropolitan Opera de Nova York oferece nada menos que 29 óperas diferentes ao longo
do ano”

Sendo o primeiro brasileiro e latino-americano a integrar o conselho diretivo da Metropolitan Opera, fundada em 1880 e popularmente conhecida como a “Met Opera” do complexo Lincoln Center for the Performing Arts, constatei com essa experiência que a gestão da cultura é um desafio constante. E essa gestão tem uma exigência fundamental: a honestidade.

No caso brasileiro, esse desafio ainda se torna maior. Basta lembrar o afastamento de integrantes da Sociedade de Patronos do Teatro Municipal de São Paulo por terem se locupletado de recursos que deveriam ser investidos na gestão cotidiana desse local histórico. E uma gestão honesta não apenas consagra princípios morais, como também propicia a obtenção de recursos financeiros da iniciativa privada, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Uma parceria em que todos ganham — de forma limpa.