DENÚNCIAS Deputado Elias Vaz: “As Forças Armadas acham que não precisam prestar contas a ninguém” (Crédito:Divulgação)

Os médicos recomendam: antes de tomar Viagra é saudável alimentar-se bem. Para os militares pátrios do governo do capitão Jair Bolsonaro, os especialistas não precisam falar duas vezes: eles seguem à risca o aconselhamento. Querem ver? Não é de hoje, por exemplo, que o deputado federal Elias Vaz (PSB goiano) vem alertando para os estratosféricos gastos praticados pelas Forças Armadas. Trata-se de material bélico? Não. O que despertou a sua atenção foi o montante de dinheiro público que vinha sendo despendido na aquisição de picanha, cerveja, uísque e conhaque, entre outros itens cada vez mais inacessíveis aos carrinhos de supermercado da esmagadora maioria dos brasileiros. A partir das denúncias do parlamentar, o Tribunal de Contas da União chegou a recomendar severa fiscalização e diversos processos de investigação foram abertos. Mas quem se alimenta bem e bebe melhor ainda, com dinheiro dos outros, e pensa que manda em tudo e em todos porque veste farda e anda armado não se intimida com providências jurídicas. Ou seja: a ordem do dia seguiu sendo a de gastar e comer muito bem.

Prova disso é que o deputado Vaz voltou a denunciar em suas redes sociais novas compras do Ministério da Defesa, que dessa vez havia gasto irrisórios (vale rir) R$ 56,4 milhões em filé mignon, picanha e salmão para os comandantes das casernas. Tudo foi feito por meio de pregão ou dispensa de licitação e resultou em quinhentas e setenta e sete toneladas de filé mignon, trezentas e setenta e três toneladas de picanha, duzentas e cinquenta e quatro toneladas de salmão. Ao custo dos olhos da cara e no descaramento da farra com o erário, lá se foram, respectivamente, R$ 25,4 milhões, R$ 18,8 milhões e, finalmente, R$ 12,2 milhões. A notícia causou indignação. Cabe lembrar que aumenta cada vez mais o número de brasileiros que vivem na insegurança alimentar, nutrindo-se hoje sem saber se vão nutrir-se amanhã – popularmente é o que se diz: “vender o almoço para comprar o jantar”. O País tem 11% de desempregados que fazem malabarismos para sobreviver. E os militares se esbaldam sem limites. Em suas redes sociais, Vaz afirmou: “Para o povo, sopa de ossos. Para os amigos do alto comando das Forças Armadas, filé, picanha e salmão. Esse é o governo Bolsonaro!”.

Passaram-se poucos dias e Vaz divulgou outra compra, dessa vez ainda mais inusitada – ou seja: já que se está bem alimentado, pode-se ir ao comprimidinho azulzinho. Dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do Governo apontam que os militares aprovaram pregões para adquirir 35.320 comprimidos de remédio para o tratamento de disfunção erétil – leia-se Viagra. O total gasto com o medicamento foi R$ 92,7 mil. A notícia gerou uma série de memes e piadas, e uma multidão de internautas disse, acertadamente, tratar-se de “uma vergonha e que governo deveria ter outras prioridades”. Mas o Exército, sem demonstrar qualquer constrangimento, informou por meio de nota que o medicamento é utilizado para o tratamento de hipertensão pulmonar. Bolsonaro correu a respaldar essa tese que é pura balela: as dosagens adquiridas, de 25 e 50 miligramas, são mesmo para disfunção erétil, uma vez que somente na dose de 20 miligramas o princípio ativo do remédio (sildenafila) é eficaz na hipertensão arterial pulmonar. Bolsonaro tentou, então, minimizar o episódio, dizendo: “não é nada”,“a quantidade comprada não é tão grande”. É preciso avisar o presidente que o problema maior não é o número de comprimidos, mas, sim, o fato de eles estarem sendo adquiridos com dinheiro do contribuinte. É crime: seja um ou mil compridos. A compra do Viagra foi feita entre o começo do ano passado e fevereiro de 2022, tendo, o Brasil, o general Braga Netto como ministro da Defesa.

Quem já estava por demais de chocado com todas as denúncias, teve de suportar mais uma bomba quando chegou a noticia de que, além da picanha e do Viagra, nossos comandantes militares também haviam aprovado quase R$ 3,5 milhões na aquisição de 60 próteses penianas infláveis de silicone, com tamanhos diversificados: elas têm de dez centímetros de comprimento a vinte e cinco centímetros. Não se pode esquecer que houve outros dois gastos escandalosos: R$ 2,1 mil com remédios que prometem solucionar o problema da calvície e R$ 546 mil que foram reservados, entre 2018 e 2020, à aquisição de botox. A substância botulínica funciona em procedimentos estéticos e, também, como relaxante de músculos quando neles injetada. À ISTOÉ, Elias Vaz se disse indignado, acrescentado que insistirá em saber por quais razões tudo isso vem acontecendo. “Eu já tinha avisado há algum tempo, mas eles continuam a gastar dinheiro. Agora, nos deparamos com esse absurdo que é a compra de Viagra e de próteses penianas. A impressão que dá é que as Forças Armadas acham que não precisam prestar contas a ninguém.” Na verdade, é assim mesmo que os militares pensam, e isso vem ocorrendo ao longo de nossa história republicana. Eles acham que são plenamente donos de si e do Brasil. É, para ontem, a necessidade de se colocar fim a tanto privilégio.