Operadores de turismo, hotéis, companhias aéreas e até o Airbnb — onde casas e apartamentos podem ser compartilhados — apontam dados promissores para o fim de ano e o começo de 2022. O que surpreende, no entanto, é que o crescimento já começou nas férias escolares de julho e até mesmo em feriados e pequenas saídas em um final de semana comum. Com a vacinação avançada, com adultos de 18 anos com pelo menos a primeira dose ou a dose única no braço, todo o setor do turismo começa a se recuperar do grande tombo que levou em 2020. No mundo todo, o impacto da pandemia foi desastroso, segundo dados da Organização Mundial do Turismo, ligada a ONU, o declínio entre chegadas e partidas internacionais foi de 84% entre março e dezembro do ano passado. Mas essa situação começa a se inverter em alta velocidade. Há uma vontade generalizada de se livrar das restrições da pandemia e um turismo de libertação se organiza para o próximo verão.

Os dados agora são outros e se mostram muito promissores. O Airbnb revelou a ISTOÉ que “as reservas no Brasil no segundo trimestre de 2021 já ultrapassaram os níveis pré-Covid”. Apesar da variante delta do coronavírus — e das novas variantes que possam surgir — o brasileiro está disposto a sair da quarentena, tomando todos os cuidados que forem necessários. Com ampla aceitação das máscaras e da vacinação, principalmente entre os jovens entre 18 e 30 anos, os riscos de aumento do contágio parecem menores. E diante disso, os planos de viagem entram na ordem do dia. Os destinos são em sua grande maioria nacionais, mas as viagens ao exterior também começam a ser mais procuradas. A busca por viagens para Portugal, por exemplo, triplicaram nos últimos meses.

FORA DA ROTINA Jamila Araújo já programou um período de descanso no Uruguai com o marido (Crédito:Anna Carolina Negri)

A professora bilíngue Simone Faccio Dallastra já viajou para diversos países no continente americano e europeu, mas seu sonho sempre foi conhecer a Austrália. Aos 36 anos, ela diz que admira a beleza de Sydney, além da rica fauna e flora da região. “Mesmo durante as fases mais difíceis da pandemia, deixei o alerta de passagens para Sydney ligado, e aconteceu de um dia as passagens estarem a um preço muito abaixo do mercado, fui lá e comprei”, lembra. Um dos países mais fechados durante a pandemia, a Austrália só abriu suas fronteiras com a vizinha Nova Zelândia e não há planos para quando será possível entrar no país. “Eu comprei a passagem sem data definida, ida e volta com estadia de 15 dias, ela é válida até setembro de 2022, mas se fosse possível gostaria de ir em janeiro agora”, diz.

As viagens para as festas de fim de ano e durante o carnaval já movimentam as agências de turismo. “Há uma série de promoções que estão em vigor atualmente — e que não devem durar muito tempo. Estamos em um momento de excelentes oportunidades para quem quer garantir sua viagem para embarques futuros, fator que contribui para uma movimentação positiva do setor”, diz o presidente Associação Brasileira das Operadoras de Turismo, Roberto Haro Nedelciu. A demanda represada por viagens, segundo ele, faz com que haja esse movimento e com a lei de oferta e demanda, conforme o tempo passa, os preços ficarão mais caros. Quem não quer se aventurar nas datas onde os aeroportos e rodoviárias estão cheios, pode separar um feriado para relaxar. O grupo de amigos Maria Ferrari, Guilherme Ponce e Mayara Oliveira, de 21, 23 e 24 anos respectivamente compraram a passagem para passar o feriado de Sete de Setembro em Caravelas, no sul da Bahia, em janeiro. “Todo mês pensávamos em desistir, um ligava para o outro, conforme a pandemia mudava. Mas nós vamos” , diz Guilherme com um sorriso no rosto.

A viagem de quatro dias reunirá todos os amigos pela primeira vez desde o começo da quarentena. Eles vão alugar um carro para conhecer a região e ainda visitar o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. “Nós vamos ficar só entre nós, não vamos em festas, nem ficar próximo de pessoas sem máscaras”, conta Maria Helena. Com suas primeiras doses, se sentem à vontade para ir, principalmente porque os pais, com quem moram, já estão totalmente vacinados. “Nosso medo maior é passar o vírus adiante”, afirma Guilherme. Os meses de preparação contaram com o apoio das famílias, já que todos se conhecem desde os tempos da escola e sempre viajaram juntos. Essa viagem é uma retomada de um costume antigo — será diferente, mas a ideia de conexão é a mesma. Já a especialista em comunicação Jamila Araújo, de 34 anos, precisa encarar as longas viagens do marido, o engenheiro Ricardo Almeida, de 39 anos, a trabalho pelo País e ambos não vêm a hora de irem ao Uruguai juntos.Os dois compraram as passagens para junho de 2020, mas precisaram remarcar. A data ainda não está definida, mas nas frequentes videochamadas que fazem, combinam os planos da viagem e a ideia, por enquanto, é aproveitar o feriado de 15 de novembro por lá. “Nós já viajamos muito para o sul do país e para o Chile, agora queremos conhecer Montevidéu”, diz Jamila. Ambos já estão amplamente imunizados e se sentem seguros para ir, com muito álcool em gel e máscara PFF2.

REUNIÃO Os amigos Guilherme Ponce e Maria Helena Ferrari preparam viagem de carro para o Sul da Bahia (Crédito:Anna Carolina Negri)

Segundo os últimos dados coletados pela Associação Brasileira de Operadores de Turismo, em junho deste ano 78% dos embarques foram relacionados a novas vendas realizadas. Ou seja, não eram remarcações do primeiro ano da pandemia. No Brasil, o Nordeste segue com maior procura, seguido pelo Sul. Entre os destinos mais vendidos estão Porto de Galinhas, Gramado, Salvador, Maceió, Porto Seguro e Rio de Janeiro. Já nas viagens internacionais a América Central e Caribe ganham grande parte da atenção. Entre os destinos mais vendidos, estão o México, Dubai, Egito, Maldivas e Miami. A associação diz ainda que a maior parte das viagens comercializadas acontecerá no segundo semestre de 2021, seguidas por embarques programados para o início do ano que vem. A turismóloga Patrícia Oro diz que quem quer viajar para o fim do ano precisa correr. “É provável que os preços subam muito, deixar para a última hora, para acompanhar o andamento da pandemia pode sair caro. O melhor é comprar e quem sabe remarcar”, diz.