APROXIMAÇÕES – BREVE INTRODUÇÃO À ARTE BRASILEIRA DO SÉCULO XX/ Fábrica de Arte Marcos Amaro, Itu, SP/ até 13/6

Enquanto a arte contemporânea brasileira volta corações e mentes para o exterior, em franco movimento de internacionalização, a mostra “Aproximações — Breve Introdução à Arte Brasileira do Século XX”, na Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), ensina que nem sempre foi assim. Com 60 obras modernas e pré-modernas, a curadoria de Aracy Amaral destaca o momento em que os artistas brasileiros deixaram de tomar a França e a Europa como referência, e começaram a se interessar pelo mundo imediatamente ao seu redor. “Os artistas viajantes que vieram por nossas terras em missões específicas de exploração ou mera curiosidade pelo exótico a partir de inícios do século XIX, registraram de maneira ímpar nossa realidade humana e nossas espécies vegetais”, pontua Aracy. “Só muito tardiamente nossos artistas se dariam conta ou se motivariam com a paisagem e o entorno brasileiro.”

PONTO DE PARTIDA “Descanso da modelo” (1882), de Almeida Junior, peça icônica da coleção FMA

A icônica tela “Descanso da Modelo” (1882), de Almeida Júnior, abre a exposição. A obra foi adquirida no ano passado e assumida emblema da Coleção Marcos Amaro não somente por seu valor estético, mas também pela origem do pintor, natural de Itu, cidade escolhida pelo colecionador para expor o seu acervo e sediar um centro cultural, a Fábrica de Arte. A peça de Almeida Júnior é a mais antiga do conjunto de 60 obras da exposição. Marco inicial nobilíssimo, trata-se de uma pintura realista com alta carga de encanto e magnetismo. Mas é um interior de casa — ou melhor, de ateliê de artista —, e portanto não aponta para o que viria a guiar os anseios a seguir: a vida exterior ao ateliê, a luz natural, a vida social do brasileiro.

COR BRASILEIRA “Paisagem de Mogi” (c. 1940), de Alfredo Volpi

Formada predominantemente com obras da Coleção Fundação Marcos Amaro — 34 delas —, a mostra, mesmo que concisa, tem núcleos bastante heterogêneos e aponta para varias direções, buscando formar o que o título anuncia: uma breve introdução à arte brasileira do século 20. Mas se há um eixo que se sobressai entre os outros, e perpassa todos os núcleos, é o de representações de várzeas, periferias e vistas de ruas de cidades interioranas. “Paisagem com a Igreja da Penha” (1915), de Artur Timóteo da Costa, um dos raros artistas de origem negra que se sobressaíram no pré-modernismo; “Paisagem (Dampierre)” (1922), de Belmiro de Almeira; e “Paisagem” (1902), de Diogo Silva Parreiras, estão entre as obras que anunciam o olhar para o novo mundo.

Dos anos modernistas, em que poesia, literatura, música, arquitetura e artes plásticas uniram esforços na busca de uma identidade brasileira, “Paisagem com três casas” (s.d), de Tarsila do Amaral, exibe paleta de cores formada a partir da observação da luz do interior de São Paulo. Do período pós-modernista, “Paisagem paulista” (1940), de Livio Abramo, e “Paisagem de Mogi” (década 1940), de Alfredo Volpi, também viajam ao interior.

ROTEIROS

Que tudo mais vá pro inferno

AUGUSTO DE CAMPOS – POEMAS E CONTRAPOEMAS/ Luciana Brito Galeria, SP/ até 1/6

O poema não é suficiente para abarcar a arte do poeta. Já dizia o poeta russo que “sem forma revolucionária, não há arte revolucionária” (Maiakóvski, 1893-1930). Assim foi que Augusto de Campos inventou o popcreto, o despoema, o poemóbile, clip-poema, o não-poema, o poema-bomba e o contrapoema. Em cartaz na Luciana Brito Galeria, em São Paulo, a mostra “Poemas e Contrapoemas” apresenta duas gerações dos poemas de contestação do grande poeta, tradutor e ensaísta.

Os primeiros Contrapoemas de Augusto de Campos foram escritos e publicados nos anos 1960, em reação à ditadura militar. Contra a cor chumbo do regime, Augusto aplicava o timbre vibrante da palavra ferina. Diante da recente ascensão conservadora na politica e na sociedade brasileira, o autor voltou retomou sua militância do contra. Entre os novos trabalhos, figura “Cláusula Pétrea” (2018), composto da transcrição de fragmento de texto da Constituição que afirma que ninguém pode ser considerado culpado antes de decisão judicial de última instância.

A seleção de obras inclui outros grandes momentos do Contrapoema, como “Sol de Maiakóvski” (1982-93), que imprime uma boa dose de psicodelia à rebeldia. Estão presentes ainda outros poemas clássicos, como “Luxo” (1965) — que ganhou nova versão com recorte circular —, e o enigmático “Código” (1973), que nos lembra que a obra de Augusto de Campos é um emblema da arte brasileira. PA