As queimadas na Amazônia chamuscaram a popularidade do presidente e carbonizaram a sua imagem no exterior. Jair Bolsonaro já era uma figura bizarra para a comunidade internacional. Era visto como um fã caipira de Donald Trump (na melhor das hipóteses) ou uma versão latina do filipino Rodrigo Duterte (na pior das hipóteses, já que este promove a barbárie e execuções sumárias). Agora, tornou-se um pária.

Eleito com um discurso de ódio contra o PT, Bolsonaro tem apostado todo o seu mandato no confronto e no discurso radical para sua própria base. Ao pregar para os convertidos, ignora a maioria da população. No exterior, a estratégia tacanha levou-o a se aproximar das poucas estrelas extremistas de direita, como o húngaro Viktor Orbán e o italiano Matteo Salvini. Na América do Sul, tentou se alinhar com o chileno Sebastián Piñera e com o liberal argentino Mauricio Macri. Nos EUA, conseguiu até agora o apoio de Donald Trump.

Essa rede exterior está prester a ruir. Macri deve perder a presidência em outubro para os peronistas. Salvini derrubou seu próprio governo numa manobra desastrada. Piñera se afastou, pois Bolsonaro defendeu em uma visita ao Chile o ditador Augusto Pinochet — uma heresia até para os conservadores. E Orbán acelera a marcha autoritária em seu país ao esmagar a oposição e asfixiar a ciência, afastando-se da comunidade europeia. Trump endossa Bolsonaro, por enquanto, mas os interesses comerciais e econômicos do Brasil e EUA podem entrar em choque.

No exterior, o discurso misógino, sexista, pró-tortura e antiambiental foi arrasador até o momento. Além disso, entre os tradicionais aliados, Bolsonaro já agrediu a chanceler alemã e insultou o presidente e a primeira-dama da França. Também atacou o provável substituto de Macri na Argentina, nosso terceiro maior parceiro comercial. Além disso, implodiu acordos internacionais com a Noruega e a Alemanha, como o Fundo Amazônia. Com sua diplomacia de confronto em xeque, agora o presidente deu meia-volta. Programa gastos com publicidade oficial para melhorar a imagem do País (do governo Bolsonaro?) no exterior. Trata-se de desespero, já que nenhuma medida vai reverter a péssima impressão deixada nos primeiros oito meses de governo. Além disso, o presidente quer ir à ONU para falar sobre a Amazônia “nem que seja com a cadeira de rodas”, por causa de sua nova intervenção cirúrgica. É bom calibrar o discurso. No plenário da ONU, até Trump já foi motivo de chacota com suas bravatas. O vexame pode ser maior para Bolsonaro.

As poucas alianças de Jair Bolsonaro no exterior estão prestes a ruir. Presidente quer reverter o desastre de sua diplomacia nas Nações Unidas, mas o resultado poderá ser um fiasco

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