O discurso de Bolsonaro na ONU reproduziu o mundo de fantasia que seus apoiadores tentam propagandear internamente. Descreveu uma nação sem desemprego, com investimentos em alta, índios protegidos, florestas intocadas, sem corrupção, que defende a tolerância, a ciência e conseguiu vencer a pandemia de forma pioneira com o “tratamento precoce“.

A Assembleia Geral foi o primeiro evento internacional de peso depois da pandemia. Como acontece desde que chegou ao poder, Bolsonaro promoveu mais um papelão mundial e histórico. Demonstrou seu isolamento e falta de sintonia com a comunidade internacional. Além da abjeta defesa do uso de remédios sem efeito que causaram milhares de mortes, ele e sua comitiva desfilaram sua decadência moral, apresentaram uma realidade paralela que não convenceu ninguém e promoveram um show obsceno nas ruas de Nova York, com pizzadas na calçada, dedo em riste do ministro da Saúde e arminha do chanceler. Nunca o Itamaraty se rebaixou tanto, incluindo a gestão do pária Ernesto Araújo.

Ao desfilar mentiras, Bolsonaro evidentemente não conseguiu atenuar sua imagem de pior líder mundial. Nem aliviou a situação brasileira perante os investidores, que fogem da instabilidade institucional promovida pelo presidente desde o primeiro dia de governo. E muito menos conseguiu angariar simpatia de outros líderes, que evitaram o brasileiro mostrando constrangimento ou repulsa.

No cenário interno, ninguém acha que o antipronunciamento será capaz de tirar o presidente das cordas. Foi então um discurso para o próprio Bolsonaro e sua bolha, cada vez menor. Até o extremismo bolsonarista, acostumado a viver num mundo à parte, parece cansado de tanto delírio. Foi um retrato da triste situação em que o País chegou. Pelo menos o evento de Nova York deverá atrair simpatia para o povo brasileiro. Assim como nações que viveram desastres naturais e ou guerras civis, o Brasil saberá se reconstruir sobre os escombros deixados por um populista insano.