Verônica Hipólito sofreu um AVC quando tinha 12 anos, depois precisou tirar 90% do intestino grosso e enfrentou três cirurgias na cabeça porque seu corpo produz tumores. Ela sabe que só está viva até hoje, aos 23 anos, porque os pais tiveram condições de pagar um bom plano de saúde e por isso teve acesso aos melhores médicos.

Mesmo com essas dificuldades, ela manda para os ares o rótulo de pobre coitada e aproveita o fato de participar dos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, por ampliar a voz em sua luta por direitos iguais. Verônica costuma frequentar projetos sociais em comunidades pelo Brasil e pelo mundo. Apesar de estar concentrada para competir na capital peruana, seus olhos continuam voltados para os problemas no Brasil.

“Agora tem as queimadas nas florestas. A gente não pode ficar calada diante disso. Tem que começar a se posicionar e ajudar. Temos que ajudar mais uns aos outros e nos unir diante dessa causa ambiental. Temos que lutar”, disse em entrevista ao Estado. “Não dá para ficar só no curtir, publicar e compartilhar. A internet serve para divulgar informação. A gente tem que partir e começar a falar. Ainda dá tempo para salvar o planeta”, prosseguiu.

Verônica estreia no Parapan de Lima nesta segunda-feira nos 100 metros livre do atletismo. Depois ela ainda competirá nos 200 metros livre e no revezamento 4×100 metros. Apesar de ter faturado três ouros e uma prata em Toronto-2015, no Canadá, a sensação para ela é de estreia. Isso porque duas das cirurgias que ela enfrentou aconteceram entre 2017 e 2018. Os problemas fizeram com que ela mudasse de classe, da T38 que era de paralisia só de um membro do corpo, para a T37, que é para quem tem uma paralisia um pouco maior.

“É difícil ter esse novo corpo, com mobilidade menor e um peso maior por causa dos corticoides e do hipotireoidismo, mas estou me adaptando e estou vendo que esse corpo pode me levar muito longe. Para quem achava que nem iria mais andar… Estou correndo”, disse.

Os dois últimos anos foram difíceis para Verônica. Ela passou longos dias internada, ficou meses com uma sonda nas costas, tinha dificuldades para dormir e não conseguia comer direito. 2019 foi o ano da recuperação. Ela voltou a treinar em janeiro e participou da primeira competição em abril. Havia a dúvida se daria tempo de participar do Parapan.

“Por isso que digo que é o segundo com gosto de primeiro. No outro sabia que sabia que seria convocada. Nesse comemorei demais, chorei com a minha família, porque não sabia se meu nome estaria lá. Estou com frio na barriga enorme e muito feliz com amigos tão queridos que estão aqui comigo”, comentou.

“Problema todo mundo tem, mas só você sabe do seu. Só você sabe da dor que você sente. A gente tem que focar na solução. Para todos os meus problemas eu operei. Fiquei muito feliz porque tive a possibilidade de resolvê-los. Por isso que luto para que todos tenham direitos iguais. Acredito que muita coisa tem de ser mudada e pode ser mudada. É só a gente querer”, encerrou.