Passaram-se quatro anos de um crime político, passaram cinco delegados pelo caso, passaram declarações e mais declarações de autoridades com palavras atiradas ao ar, mas não passaram a saudade e a dor de amigos e familiares nem a saudade e a indignação dos brasileiros que prezam o Estado de Direito — e sempre apoiaram a ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco em sua ampla luta por democracia racial e social. Ela foi assassinada em 14 de março de 2018, juntamente com o seu motorista, Anderson Gomes. Na segunda-feira passada, data exata dos quarenta e oito meses das execuções, houve novos protestos em diversas capitais do Brasil e também em Brasília. Presos estão os ex-PMs Ronnie Lessa (executor) e Élcio de Queiroz (dirigia o carro para o atirador). No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro recebeu parentes de Marielle e prometeu empenho nas investigações. Tudo bem, governador, fica combinado: se o mandante ou os mandantes não forem presos em quatro meses (boa proporção para quatro anos), também o senhor entra no rol dos que somente passaram no tempo.

LIVROS
Noventa aulas de FHC sobre democracia

LUCIDEZ CRÍTICA Arendt: dela, FHC herdou a teoria que faz da memória a garantidora de regimes não totalitários (Crédito:Fred Stein Archive)
NOVA OBRA O gesto e a palavra: FHC mais sociólogo, menos político

Desembarca na livrarias, no próximo mês, um livro essencial para diversos países nos dias de hoje (incluído o Brasil). Trata-se de O gesto e a palavra: escritos em defesa da democracia, do ex-presidente da República e sociólogo Fernando Henrique Cardoso (hospitalizado devido a uma lesão no fêmur). A obra reúne noventa artigos publicados no vasto período que compreende de 1972 a 2021 – ou seja, do auge da repressão da ditadura militar com Emílio Garrastazu Médici até o lastimável e inútil governo atual de Jair Bolsonaro. A editora é Companhia das Letras. Uma passagem do livro, na mais pura metodologia da pensadora Hannah Arendt:

• “Toda vez que me vêm à memória os dias de incertezas e de medo da ditadura, penso que o compromisso da minha geração é o de não esquecer. Cada um de nós carrega cicatrizes, uns na carne, outros na alma. E uma responsabilidade: assegurar que nada disso se repita”.

RELIGIÃO
A estátua de Nossa Senhora que será maior que o famoso Cristo Redentor

MONTAGEM Partes do monumento: faltava o aval da Justiça (Crédito:Zanone Fraissat)

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que uma monumental estátua de Nossa Senhora Aparecida, com cinquenta metros de altura, poderá ser instalada na cidade paulista de Aparecida. Na verdade, muitas de suas partes já estão prontas, e aguardava-se apenas a determinação judicial para dar-se início à montagem. Será ela uma das maiores do Brasil, ultrapassando a do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que possui trinta e oito metros. Esse novo monumento, em Aparecida, será somente menor em seis metros se comparado ao de Santa Rita de Cássia, localizado na cidade potiguar de Santa Cruz. O caso de Aparecida foi levado à Justiça pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos. Cabem recursos judiciais em relação à decisão do Tribunal paulista.

JUSTIÇA
A boa idea do STF com a Turma da Mônica

A idéia não poderia ter sido melhor. O Supremo Tribunal Federal está lançando revista em quadrinhos com a Turma da Mônica, criada pelo genial Maurício de Sousa, para ensinar crianças e adolescentes sobre o funcionamento da Justiça e o indispensável combate à desinformação e à onda atual de fake news. Os exemplares serão enviados às Secretarias de Educação de todos os estados brasileiros. Elas, por sua vez, os encaminharão às escolas. Além da revista (impressa e digital), há vídeos e tirinhas para as redes sociais. Tudo foi produzido nos Estúdios Maurício de Sousa e a iniciativa conta com patrocínio de associações de magistrados de todo o País

POLÍCIA FEDERAL
Virou bagunça: dorme-se diretor, acorda-se exonerado

A Polícia Federal deve cuidar melhor de sua imagem e parar com esse vaivém de cargos. Está desmoralizando a instituição — ela não existe para satisfazer desejos do Poder Executivo, mas, sim, como instituição republicana do Estado. Mais uma troca na semana passada: o novo diretor-geral, Márcio Nunes de Oliveira, afastou Luis Flávio Zampronha e colocou Caio Rodrigues Pellin na coordenação do setor de Investigação e Combate à Corrupção. É nele que se apuram fake news e atos antidemocráticos. Agora cabe a Pellin investigar Carlos, Flávio e Jair Bolsonaro. É esperar para ver. Nunes é o quinto-diretor-geral em três anos de gestão bolsonarista.