A Nação Precisa Acordar
Mary E. Jones Parrish
Ed. Fósforo | 147 págs.
Preço: R$ 59,90

A escritora Annelise Bruner tinha 35 anos quando ouviu falar do massacre de Tulsa pela primeira vez. Seu pai lhe entregou um pequeno caderno de capa vermelha escrito pela avó, Mary E. Jones Parrish. Ficou chocada ao conhecer, pelo testemunho da matriarca e de outros sobreviventes, detalhes de um dos episódios mais atrozes da história dos EUA.

O caso torna-se ainda mais dramático quando se conhece o estopim da tragédia: um garoto negro pisou no pé de uma ascensorista branca, que lhe deu um tapa na cara. Ao xingá-la, foi detido sob a acusação de agressão e ofensa. A notícia publicada no jornal local saiu de forma distorcida, dando a entender que tratava-se de um estupro. A confusão levou uma turba de brancos raivosos para a frente da cadeia, prontos para o linchamento do jovem. Familiares do garoto se juntaram para impedir o ato – foi quando um tiro não identificado levou ao caos.

A região de Greenwood, em Tulsa, no estado de Oklahoma, era conhecido como a “Wall Street negra”. Além do bairro residencial, abrigava um hotel sofisticado e algumas das mais bem sucedidas empresas de empreendedores pretos do sul dos EUA. Na noite de 31 de maio de 1921, mais de mil casas foram queimadas e nove mil pessoas ficaram desabrigadas. Em menos de 24 horas, o bairro afro-americano de Tulsa tinha sido destruído. Igrejas, farmácias e até o hospital da região, o Frissel Memorial, exclusivo para negros. Brancos também perderam a vida, embora em menor número.

A polícia foi conivente com os ataques, protegendo apenas os cidadãos brancos. Os dados oficiais apontam nove brancos e 26 negros mortos, mas o relatório de Maurice Willows, diretor da operação de resgate da Cruz Vermelha, trouxe um número bem maior: quase 300 vítimas fatais – pretos, em sua grande maioria. Graças ao empastelamento dos dois jornais locais, o Tulsa Star e o Oklahoma Sun, notícias sobre o confronto não chegaram à mídia em outros pontos dos EUA. Como consequência, o evento acabou caindo no esquecimento – se não fosse pelo relato da jovem jornalista Mary E. Parrish, contratada para fazer o registro do que havia acontecido.

A obra teve poucas cópias impressas na época, mas essa memória esquecida durante um século ganha agora reedição organizada por sua neta, Annelise Bruner. Ela assina o posfácio à luz de acontecimentos recentes, como a morte de George Floyd e o movimento Black Lives Matter. É um documento necessário para que a história não seja esquecida – e para que episódios como esse não se repitam.