Em um ano de vacas magras no esporte olímpico, pós-Jogos do Rio-2016 e com muitas empresas diminuindo investimento, o ministério do Esporte designou R$ 23,8 milhões ao ano para o pagamento do Bolsa Pódio, programa que tem o objetivo de patrocinar atletas com chances de medalhas e de disputar finais nos Jogos Olímpicos.

A ciclista Priscilla Stevaux, do BMX, foi uma das 183 contempladas no novo edital que foi publicado recentemente. A verba de R$ 8 mil mensais será fundamental para a atleta, que teve a sua bicicleta roubada recentemente e não tem condições de comprar no momento um equipamento novo. O valor varia para cada atleta e ela ainda não começou a receber o benefício.

“Eu recebi já uma vez em 2015, com título de 2014. Tenho como planos investir na minha carreira esportiva, em busca de melhores infraestruturas para que eu possa aprimorar ao máximo meu desempenho e conseguir a classificação do Brasil para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Porém, ainda não sei quando vai sair e está fazendo muita falta um apoio neste momento”, disse a ciclista.

Na semana passada, ela estava no intervalo de um treino quando foi abordada por quatro pessoas, uma delas armada. Levaram a sua bicicleta e o carro do irmão. A polícia conseguiu recuperar o veículo e prendeu os assaltantes, mas até agora o seu equipamento de treino não foi encontrado. “A polícia foi muito eficiente e conseguiu abordá-los em flagrante com o nosso carro em 7 horas, porém a bicicleta não foi encontrada. Eles já haviam se livrado dela para não chamar ainda mais atenção da polícia”, contou Priscilla Stevaux.

Sem a sua bicicleta de BMX, ela já está em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, para a disputa da etapa do Campeonato Brasileiro da modalidade. Ela defende o tri, mas terá de improvisar para a competição. “Continuo procurando a bicicleta, mas ainda não foi encontrada. Tenho divulgado ao máximo nas mídias e redes sociais para que seja vista e se encontrada que seja devolvida, mas minhas esperanças já estão menores. Estou à procura de soluções para que eu consiga recuperá-la ou montar outra, pois meu material de trabalho está fazendo muita falta”.

Além do Campeonato Brasileiro, o que mais aflige a ciclista é a proximidade do Campeonato Mundial, que será realizado de 25 a 29 de julho, em Rock Hill, nos Estados Unidos. Ela é 13.ª do mundo e a falta de um equipamento próprio e personalizado pode atrapalhar seu rendimento. “Uma bicicleta como a que foi roubada custa por volta de R$ 7 mil e hoje eu não tenho o valor para comprar uma nova”, lamentou.

Priscilla Stevaux conta com apoio da Shimano, que dá algumas peças, Chase Bicycles e Powercyclesbmx, que oferecem alguns descontos em materiais. “Tirando isso, possuo apoio do hipnoterapeuta Rogério Castilho”, contou a atleta, que representa o Clube de Ciclismo de São José dos Campos e a Confederação Brasileira de Ciclismo. “Estou montando uma bike com algumas peças antigas e algumas emprestadas do meu irmão, que também é atleta, para não deixar de defender meu título de campeã brasileira neste final de semana”.

PATROCÍNIO – As dificuldades de Priscilla Stevaux são semelhantes às de muitos outros atletas brasileiros. Os recursos minguaram, mas o Ministério do Esporte promete continuar investindo no Bolsa Pódio. “No ciclo Rio 2013-2016 foram contemplados 322 atletas, por meio de três editais de seleção pública. O programa também prevê a reavaliação da permanência do atleta anualmente, desde que ele cumpra o plano esportivo, previamente aprovado pelo grupo de trabalho, e mantenha o ranqueamento da respectiva entidade internacional”, afirmou o ministério, em nota.

O investimento, até setembro de 2016, somou R$ 74,1 milhões, o que representa um desembolso médio anual de R$ 18,5 milhões. “A proposta é investir de forma contínua durante o ciclo Olímpico e Paralímpico, com o objetivo de contribuir para uma preparação adequada visando à próxima edição dos Jogos, com o aprimoramento e até ampliação do Bolsa Pódio”, continuou o ministério.

Para a campeã olímpica Kahena Kunze, o programa é uma espécie de garantia. “Qualquer esporte de alto rendimento requer um financiamento maior, especialmente o nosso esporte, que demanda um pouco mais de dinheiro”, afirmou a velejadora, ouro nos Jogos do Rio-2016 ao lado de Martine Grael. “A gente recebe o Bolsa Pódio desde o começo do ciclo passado e tem ajudado bastante nas nossas viagens, preparação. É bom porque a gente tem uma estabilidade (na entrada de recursos). Não é como com empresas, que pode haver alguma reviravolta de deixar o patrocínio”.

Os valores do Bolsa Pódio variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil – são quatro faixas de valor. A remuneração considera critérios técnicos e leva em consideração o ranking mundial do esporte e os resultados em campeonatos mundiais e Olimpíada.