Vera Fischer relembra início da carreira: ‘Eu não escolhi ser atriz, me escolheram’

Em entrevista à IstoÉ Gente, atriz conta sobre sua trajetória na atuação e conta bastidores da montagem "O Casal Mais Sexy da América", que estreia nessa sexta-feira, 24

Vera Fischer
Vera Fischer Foto: Reprodução/Instagram

Com uma carreira que ultrapassa 5 décadas, Vera Fischer, de 73 anos, contou que, inicialmente, não queria virar atriz. Dona de papéis icônicos em “Coração Alado”, “Amor, Estranho Amor”, “Desejo” e “Riacho Doce”, a artista explica que sua motivação era apenas “ter um trabalho” e “ganhar um salário” — o que a levou a se tornar Miss em 1969 e, mais tarde, a iniciar sua trajetória no cinema.

+ ‘O Casal Mais Sexy da América’: espetáculo com Vera Fischer estreia no Rio de Janeiro

“Eu não escolhi [ser atriz], me escolheram”, conta, em entrevista à IstoÉ Gente. “Ser Miss, naquela época… As pessoas acompanhavam. Então, eu comecei a viajar depois pelo Brasil inteiro, me apresentando, desfilando com os discos de baile, com mariô, com traje típico. E aí, tinha um salário no fim do mês, o que era ótimo. Porque isso me deu uma liberdade de poder não receber dinheiro do meu pai, ficar morando no Rio com uma amiga”, relembra.

“Tinha um programa naquela época, nos anos 1960, 1970, chamado ‘Flávio Cavalcante’, que era de entrevistas. Tinha um júri, composto por ex-misses, cantores e tal. Até que um dia me chamaram para fazer parte desse júri, e eu meio que botei na minha cabeça que queria ficar lá para ter um trabalho”, afirma. “Aí fiquei um tempão, mais de um ano. Um pouco depois, quando eu tinha 20 anos, fui chamada para fazer meu primeiro filme. Eu falei: ‘Vou fazer’, mas não me considerava atriz.”

Vera nos bastidores do programa em 1971 – Reprodução/Instagram

“Eu nem sabia o que eu queria fazer da vida. Eu estava tentando me sustentar para não depender de ninguém. E isso estava dando certo. Então, fiz o primeiro filme, depois fiz o segundo, fiz o terceiro, aí foi indo. Eles fizeram muito, muito sucesso.”

Vera conta que essas produções eram conhecidas como “pornochanchadas”, marcadas por temas como piadas de duplo sentido, erotismo, perda de virgindade e uma maior exibição do corpo feminino, ainda que na censura da Ditadura Militar [1964 a 1985].

“Em 1975, o meu primeiro marido [Perry Salles], que era um cara que era muito famoso no teatro, resolveu fazer um filme comigo. A produção era sobre uma mulher que era massacrada pela mídia e tinha um marido que só queria ter uma mulher bonita para desfilar com ela. Então, ela conhece um pintor e eles têm um romance”, relembra. “Nossa, eu tinha uma vergonha, porque eu falava: “Não vou conseguir fazer esse filme, ele é para uma atriz de verdade, eu ainda não sou atriz‘”.

“Mas ganhei todos os prêmios com ele. O APCA, da Associação dos Críticos Paulistas, ganhei o equivalente à Mulher de Teatro… E eu vi e falei: ‘Esse é o meu divisor de águas, agora eu sou uma atriz'”. 

+ ‘Faltou pouco’, confessa Vera Fischer sobre relacionamento com outra mulher

Vera Fischer: de um simples trabalho à paixão pelo teatro 

Após estrelar filmes nas telonas e novelas na televisão – “Espelho Mágico”, “Sinal de Alerta” e “Os Gigantes” -, chegou a vez da atriz finalmente enfrentar o teatro. Em 1983, Vera se apresentou em “Os Desinibidos”, montagem descrita como uma comédia surreal e musical: “Eu senti um medo, porque… O palco ia me engolir, sabe? Eu estava na frente das pessoas, ao vivo.”

“Eu pirei um pouco quando fui fazer teatro, porque eu achava que não ia conseguir. Era para Fernanda Montenegro, Nathália Timberg, Eva Wilma, sabe? Para essas pessoas assim. A minha primeira peça foi um fracasso gigantesco, porque era algo ‘cabeça’, muito diferente das novelas. As pessoas não gostaram. Mas ganhei mais outros prêmios com ela. Hoje em dia, eu sou uma mulher do teatro.”

Atualmente, a atriz está em cartaz com o espetáculo “O Casal Mais Sexy da América”, comédia romântica que combina humor inteligente com crítica social ao abordar temas como envelhecimento, igualdade de gênero e ética no trabalho. A trama se passa nos bastidores da indústria do entretenimento e acompanha o reencontro de dois atores veteranos após terem estrelado uma série de TV 30 anos atrás.

A peça, que deveria ter estreado no Rio de Janeiro em 17 de outubro, precisou ser adiada para essa sexta-feira, 24, por causa de um quadro de pneumonia na atriz.

“Foi sério, e eu morro de ter que parar uma peça. Só uma vez aconteceu isso na minha vida, quando eu fazia, quando eu produzia ‘Gata em Teto de Zinco Quente’, que as minhas cordas vocais se juntaram, e eu tive que fazer uma operação de garganta”, conta. “Mas, graças a Deus, vai ser uma estreia bacana. Temos uma temporada aqui no Teatro Clara Nunes até praticamente o final de novembro.”

“Ela [O Casal Mais Sexy da América] é muito necessária para os dias de hoje, tanto para jovens quanto para pessoas mais velhas, para homens e para mulheres. Os homens sempre têm mais vergonha de declarar o seu desempenho sexual, talvez. E as mulheres também têm vergonha dos seus corpos, depois que ficam mais velhas.”

**Estagiária sob supervisão