Venezuela vai às urnas em meio a boicote e prisões

Expectativa é de fortalecimento da ditadura chavista em pleito que escolherá parlamentares e governadores, dez meses depois da contestada eleição de Nicolás Maduro; eleição em Essequibo é ponto de tensão com Guiana

Venezuela

A Venezuela realiza neste domingo (25/05) eleições para governadores e parlamentares, em processo marcado pelo boicote da oposição majoritária e pela expectativa de uma vitória esmagadora do chavismo – apenas dez meses depois da controversa reeleição de Nicolás Maduro.

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Em mensagem de áudio transmitida pela rede de televisão estatal Venezolana de Televisión (VTV), o mandatário pediu que as pessoas votassem “pela paz e pela vida” e “como uma família”.

Mais de 21 milhões de eleitores foram convocados às urnas para escolher 285 deputados para a Assembleia Nacional e 24 governadores. Pela primeira vez, será eleita a representação de um novo estado correspondente ao território do Essequibo, região em disputa com a Guiana.

Prisões e boicote

A eleição ocorre depois de uma onda de prisões que resultou na detenção de mais de 70 pessoas, incluindo o líder Juan Pablo Guanipa, aliado próximo da líder da oposição Maria Corina Machado.

Os detidos foram acusados de integrar uma suposta “rede de terrorismo” com o objetivo de sabotar as eleições. Segundo o ministro do Interior, Diosdado Cabello, “grupos empenhados em gerar violência” teriam planejado atacar embaixadas no país, usando o território colombiano para o plano.

Quase 30 ex-presidentes ibero-americanos condenaram neste domingo as prisões, que qualificaram de “desaparecimento forçado”, numa carta publicada pela Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (Grupo Idea).

Em meio ao clima de desconfiança, o regime de Maduro restringiu as passagens terrestres nas fronteiras e suspendeu os voos para a Colômbia. Mais de 400 mil agentes das forças de segurança foram mobilizados para garantir a realização do pleito.

Na quarta-feira, Maria Corina Machado pediu aos cidadãos que ficassem em casa, dizendo que as eleições são “uma farsa, uma armadilha”. O pedido de boicote é parte também de sua estratégia de contestação do resultado das eleições presidenciais de julho do ano passado.

Na ocasião, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado pela oposição de atuar em favor do governo, proclamou Maduro vencedor sem divulgar a apuração detalhada dos votos, como prevê a legislação. O órgão alegou um ataque ao sistema eletrônico de votação, que, segundo afirmou posteriormente, estaria agora protegido. A repressão aos protestos que se seguiram à proclamação resultou em 28 mortes e mais de 2.400 prisões.

Oposição dividida

Segundo projeção da empresa de pesquisas Delphos, a participação nestas eleições deve ser de apenas 16%, composta majoritariamente por eleitores ligados ao chavismo.

Uma pequena parte da oposição ignorou o apelo de Machado e também está participando do pleito. Essa ala é liderada pelo duas vezes candidato à Presidência Henrique Capriles, que buscará agora uma cadeira no parlamento. “Temos que votar como um ato de resistência”, defendeu.

Atualmente, o chavismo detém 253 dos 277 assentos da Assembleia Nacional, após o boicote oposicionista às eleições legislativas de 2020, e governa 19 dos 23 estados venezuelanos.

Disputa com Guiana

A eleição em Essequibo é outro ponto de tensão nas eleições deste domingo. O território, com área de 160 mil km2, rico em recursos naturais como petróleo e minerais, é administrado pela Guiana, mas reivindicado pela Venezuela, que a considera parte de seu território. Esse imbróglio ocorre desde o século 19.

Em 2023, a crise se agravou quando o governo de Nicolás Maduro organizou um referendo simbólico para legitimar a criação de um novo estado venezuelano na região disputada. A Guiana denunciou o ato como provocação e buscou apoio internacional.

A Corte Internacional de Justiça (CIJ) analisa o caso e não emitiu uma decisão definitiva. O órgão pediu ao governo venezuelano que “se abstenha de realizar eleições ou de se preparar para realizá-las” na região. Caracas rejeitou “categoricamente” essa declaração e reiterou que não reconhece a jurisdição do tribunal.

O governo guianense, liderado pelo presidente Irfaan Ali, disse que a Força de Defesa da Guiana está preparada para “defender cada centímetro” do território da Guiana.