17/09/2024 - 19:53
Um cidadão americano foi preso nesta terça-feira (17) na Venezuela sob acusações de um suposto plano para assassinar o presidente Nicolás Maduro, no momento em que especialistas da ONU denunciam uma “intensificação do aparato repressivo” no país após a controversa reeleição do governante de esquerda.
A nova detenção se soma a outras anunciadas no sábado pelo ministro do Interior, o poderoso dirigente chavista Diosdado Cabello, em meio à crise surgida após as eleições de 28 de julho, denunciadas pela oposição como uma fraude, e que Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina não reconhecem.
O cidadão americano detido “foi capturado em Caracas tirando fotos de instalações elétricas, petrolíferas e de unidades militares”, informou Cabello em uma aparição no Parlamento, sem identificá-lo. “Tenham certeza de que este senhor faz parte do plano contra a Venezuela (…): assassinar o presidente Nicolás Maduro, a (vice-presidente) Delcy Rodríguez e a minha pessoa”.
Dois espanhóis e um tcheco também estão presos pelo caso, e as autoridades reportam a apreensão de 400 armas de guerra.
Não está claro o local onde estão detidos, as acusações contra eles ou se foram apresentados perante um juiz. Seus países solicitaram “informações” à Venezuela.
“Estão perguntando onde está seu pessoal, que maldade estamos fazendo com seu pessoal. Nós respeitamos os direitos humanos e eles estão sob a proteção das autoridades da Venezuela em um local seguro”, respondeu Cabello.
Os três americanos detidos anteriormente foram identificados como Wilbert Castañeda – militar da ativa -, David Estrella e Aaron Barren Logan. Os espanhóis são José María Basoa e Andrés Martínez Adasme; e o tcheco, Jan Darmovrzal.
Cabello disse que Castañeda era “o chefe” do complô.
Não é a primeira vez que estrangeiros são detidos na Venezuela, acusados de conspiração.
Os americanos Luke Denman e Airan Berry foram condenados a 20 anos de prisão pela ‘Operação Gedeón’, um plano de invasão à Venezuela denunciado em 2020 pelo governo chavista que terminou com oito “mercenários” mortos. Ambos foram libertados em dezembro passado em uma troca de prisioneiros que levou à libertação do empresário colombiano Alex Saab, acusado de ser “laranja” de Maduro.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, teve uma conversa telefônica com seu homólogo venezuelano, Yván Gil, e informou que Madri “vai exercer” proteção diplomática e consultar sobre os espanhóis detidos.
Gil, por sua vez, insistiu que os presos fazem parte da agência de inteligência espanhola (CNI), afirmação que o governo espanhol nega.
“Desejamos que o governo espanhol retifique imediatamente” e “condene o terrorismo sem ambiguidades”, afirmou.
A Espanha não reconheceu a vitória de Maduro e nem a do candidato opositor Edmundo González Urrutia.
Um relatório da Missão Independente de Determinação dos Fatos sobre a Venezuela, criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em setembro de 2019, afirmou, nesta terça-feira, que a resposta das autoridades aos protestos que ocorreram após as eleições representou “um novo marco na deterioração do Estado de Direito”.
O documento, que examina a situação entre 1º de setembro de 2023 e 31 de agosto de 2024 com centenas de entrevistas e documentos, relata violações aos direitos humanos – incluindo crimes contra a humanidade -, que considera parte de um “plano coordenado” para “silenciar” a oposição.
“Não são atos isolados ou aleatórios”, destaca o texto, ressaltando que a “brutalidade da repressão” gerou um “clima de medo generalizado”.
Os protestos que eclodiram após a proclamação da vitória de Maduro resultaram em 27 mortes e cerca de 2.400 pessoas detidas.
“Estamos presenciando uma intensificação do aparato repressivo do Estado em resposta ao que percebe como críticas, oposição ou dissidência”, afirmou Marta Valiñas, presidente da missão.
Exilado na Espanha após ser alvo de um mandado de prisão, González Urrutia, que reivindica a vitória nas eleições presidenciais, afirmou em um comunicado que o relatório da missão de especialistas da ONU “mostra que os venezuelanos não estão sozinhos”.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, conversou por telefone com a líder da oposição, María Corina Machado, e com o próprio González Urrutia, para expressar que a Casa Branca “continuará defendendo o retorno às liberdades democráticas” na Venezuela e “lutará para que a vontade dos eleitores seja respeitada”, disse Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado americano.
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