A Justiça venezuelana entregou a sede do jornal El Nacional, crítico do governo, ao líder chavista Diosdado Cabello, informou o jornal em seu site nesta segunda-feira (7).

“Em leilão judicial irregular e clandestino”, diz uma nota de imprensa do jornal, “a propriedade da sede do El Nacional e os lotes de terreno sobre os quais está construído foram concedidos a Diosdado Cabello Rondón”, número dois do governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) após o presidente Nicolás Maduro.

A decisão ficou a “cargo da juíza Lisbeth del Carmen Amoroso Hidrobo, irmã do controlador-geral (…), Elvis Amoroso Hidrobo, em 27 de janeiro deste ano, sem ter sido publicada de forma regular nos cartazes de leilão nos quais deve se informar publicamente o dia, a hora e o valor mínimo para que os interessados fizessem suas ofertas”, acrescenta o texto.

A decisão foi anunciada após o embargo anunciado em maio de 2021 para cobrir os 13 milhões de dólares que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), de linha oficialista, ordenou o jornal a pagar Cabello em uma denúncia por difamação, apresentada em 2015.

“Essa concessão ilegal, que devido à maneira irregular como foi executada, pode muito bem ser classificada como ‘roubo judicial’, completa parte da condenação imposta a este jornal, pelos supostos danos morais causados (…), em exercício legítimo de seu jornalismo investigativo”, diz o El Nacional.

Cabello apresentou ações judiciais contra o jornal após uma reportagem do jornal espanhol ABC que o vinculava ao tráfico de drogas.

Depois de apresentar a ação, o poderoso dirigente fez várias ameaças ao veículo, fundado há oito décadas e prometeu transformá-lo em uma universidade ou usar seus terrenos para a construção de casas populares.

“Não quero essa grana para mim”, disse Cabello em uma de suas declarações sobre o caso.

A justiça venezuelana considerou que Cabello foi “vítima” de um “dano moral gravíssimo”. Ações similares foram indeferidas na Espanha e nos Estados Unidos contra meios de comunicação destes países.

A forma como o caso foi gerido provocou uma onda de protestos contra a justiça venezuelana. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) considerou, ao condenar a decisão, que a entrega do jornal a Cabello é a “consumação do ‘roubo do século’ contra o jornalismo independente”.

Mais de cem veículos de comunicação fecharam desde a chegada de Maduro ao poder, denuncia a ONG Espaço Público.