23/11/2018 - 9:30
Governos populistas são pouco criativos na forma de iludir demagogicamente o povo de seus países e no modus operandi de assaltar os cofres públicos — à população mais empobrecida, o truque assistencialista é dar pão, circo e migalhas de ajuda financeira que parecem grandiosas políticas econômicas, enquanto, nos bastidores, políticos costuram acordos de propinas e colocam em prática o velho patrimonialismo. Seguindo essa tese, basta cotejar a gatunagem da gestão de Hugo Chávez, quando esteve no comando da Venezuela (1999 a 2013), com os governos petistas que presidiram o Brasil. E, se aqui, a casa caiu graças à ação da Lava Jato, no país vizinho a coisa começa a ruir pela atuação da Justiça americana, empregando a mesma metodologia, a da delação premiada (instituto jurídico, aliás, criado e existente nos EUA desde a década de 1950). O delator em questão se chama Alejandro Andrade, e pode-se dizer que ele é o Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras) da Venezuela — ou seja, o primeiro a delatar e a puxar todo o fio da meada da corrupção. Sem Paulo Roberto, lá atrás, hoje o ex-presidente Lula estaria livre, leve e solto; sem Alejandro, agora, a famélica população da Venezuela seguiria a considerar Chávez um homem probo. Preso nos EUA desde o ano passado, Alejandro (mero guarda-costa de Chávez que voou para o cargo de chefe do Tesouro Nacional) revelou a existência de uma organização ilegal de câmbio que movimentou propinas e subornos de mais de US$ 1 bilhão. As informações levaram a Justiça a abrir inquéritos contra vinte diretores da PDVSA, a estatal do petróleo venezuelano (coincidência a ser observada: PDVSA lá, Petrobrás aqui, essa turma da rapinagem gosta mesmo de operar em empresas de petróleo). Foram feitas dezenas de transferências (US$ 14 bilhões) para o banco HSBC, na Suíça. Por determinação de Chávez, essa instituição financeira passou a gerir, de Genebra, o Tesouro da Venezuela, em Caracas. Afinal, o que são 7.867,30 quilômetros de distância? Lula e Chávez ficavam separados apenas por 3.592 quilômetros. E em linha reta.
JUSTIÇA
Fernando Haddad é réu
O candidato derrotado do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, se tornou réu na semana passada. A 5ª Vara Criminal de São Paulo acolheu denúncia do MP e instaurou ação penal. Haddad é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro a partir da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa (também envolvido no processo que trata da reforma de um sítio na cidade paulista de Atibaia, cuja propriedade é atribuída a Lula). A denúncia cita a quantia de R$ 3 milhões que Haddad teria pedido a Pessoa para quitação de dívidas de campanha. Ele já é réu em outra ação sobre caixa dois.
MAIS MÉDICOS
A negociata entre Dilma e Cuba
O presidente eleito Jair Bolsonaro foi crucificado por parte da esquerda por ter exigido que os profissionais de saúde cubanos, que integravam o programa Mais Médicos, se submetessem a exames de revalidação do diploma no Brasil. Foi igualmente criticado ao dizer que era absurdo a ditadura de Cuba ficar com 70% do valor dos salários (confiscava R$ 8.260,00 de cada
R$ 11.800,00). Na semana passada foram revelados documentos sigilosos:
1) Cuba é que pediu para o Brasil instaurar o Mais Médico; 2) o governo brasileiro (gestão Dilma) acertou o pagamento com a Organização Pan-Americana de Saúde para que o programa não precisasse do aval do Congresso. Agora está claro porque a ditadura da Ilha, fingindo-se ofendida, ordenou que seus médicos retornassem imediatamente ao país. A “ofensa” mesmo foi perder os 70%.
> Há muitos médicos brasileiros e de outros países interessados nas vagas deixadas pelos cubanos. Na quarta-feira 21, o número de profissionais inscritos, em 3 horas, foi 3.336
“Cuba retirou os médicos porque vai perder dinheiro. Eles não vão mandar mais os seus salários para lá” Adrian Barber, médico cubano
LEILÃO
O recorde do artista David Hockney
“Retrato de um artista (Piscina com duas figuras)”, quadro do britânico David Hockney, 81 anos, foi vendido na Christie’s de Nova York por US$ 90,3 milhões. É o mais alto valor para obra de um pintor vivo. O recorde anterior era de US$ 58,4 milhões para a escultura “Balloon dogs”, do americano Jeff Koons.
NISSAN
Executivo brasileiro é preso no Japão
O brasileiro Carlos Ghosn é um dos mais competentes executivos em todo o mundo. Conta para tal conceituação o trabalho que empreendeu à frente da Renault e da Nissan e o fato de ter conseguido unir essas duas empresas (a Mitsubishi também integra o grupo). Fica explicado, assim, a surpresa que causou a sua prisão no Japão. Motivo: Ghosn é acusado de sonegar impostos e de usar recursos corporativos para benefícios pessoais (teria desviado US$ 18 milhões com os quais comprou imóveis no Rio de Janeiro e Beirute). O seu pacote de remuneração em 2017 foi de US$ 8,5 milhões. Analistas acham que a prisão de Ghosn pode ser uma manobra da própria Nissan.
UNIVERSIDADE
Johns Hopkins cria bolsa Marielle
A School of Advanced International Studies, que integra a universidade americana Johns Hopkins (uma das melhores do planeta), acaba de criar o programa de bolsa de estudos Marielle Franco. Abrigará estudantes que cursam o mestrado em relações internacionais com ênfase na América Latina. Doação anônima à universidade financia a bolsa. O custo anual do curso é de cerca de US$ 25 mil (aproximadamente R$ 94 mil). As aulas serão dadas na unidade da Johns Hopkins em Washington e também na da cidade italiana de Bolonha. A vereadora Marielle Franco foi executada no Rio de Janeiro, juntamente com seu motorista, Anderson Golmes, em março desse ano.