“Há muito tempo que não tínhamos níveis tão baixos de água nos canais, mas logo tudo volta ao normal”, comenta um experiente construtor de gôndolas, enquanto trabalha no Cantiere Nautico Crea, um dos mais importantes estaleiros de Veneza, na Ilha Giudecca, na Itália, na tarde desta quarta-feira (22).

Além do Grande Canal, Veneza ainda tem 120 ramificações navegáveis.

Foto: Paty Moraes Nobre

Foram centenas delas (estima-se mais de 300, ao todo) levando parte dos mais de 11 mil turistas mascarados no feriado de Carnaval. A caminho da praça São Marco ou em direção aos bailes privativos disputados, foliões enigmáticos lembravam a época de origem da festa (sec. XVIII) vestindo trajes rebuscados, facilmente suportáveis a 9°C.

Mascarados no Carnaval 2023 de Veneza. Foto: Paty Moraes Nobre

“Aqui, nunca faltará água. Sempre terá”, acrescenta um gondoleiro.

“De ontem para hoje, os níveis de água já subiram cerca de 30%”, comemora outro veneziano.

Foliões fantasiados em gôndolas no Carnaval de Veneza 2023. Foto: Paty Moraes Nobre

O que diz especialista em clima

“Estamos em uma situação de déficit hídrico que vem se acumulando desde o inverno de 2020-2021”, alertou o especialista em clima Massimiliano Pasqui, do instituto italiano de pesquisa científica CNR, segundo o jornal diário “Corriere della Sera”.

“Precisamos recuperar 500 milímetros nas regiões do noroeste: precisamos de 50 dias de chuva”, acrescentou Paqui.

Cada gôndola leva dois meses para ficar pronta 

‘Esqueleto’ de gôndola em Giudecca, Veneza. Foto: Paty Moraes Nobre

As embarcações pretas em estilo único, destaque em cartões-postais e selfies de Instagram, levam cerca de dois meses para ficarem prontas e requerem dedicação de, no mínimo, quatro especialistas em mecanismo, madeira e pintura. Tanto cuidado pode fazê-las durar anos navegando pelas famosas águas da “cidade alagada”.

No estaleiro, o estranho esqueleto de uma contrasta com a perfeição do acabamento da outra. E o trabalho segue normal em meio ao nevoeiro habitual dessa época carnavalesca (o que causa estranhamento em qualquer brasileiro acostumado ao calor do período).

Gôndola nova no estaleiro de Giudecca, em Veneza. Foto: Paty Moraes Nobre

As imagens de canais secos e gôndolas atoladas em lama, que circularam na internet nos últimos dias, assustaram, mas, o problema em Veneza está sendo atribuído a uma combinação de falta de chuva (normal para a época), sistema de alta pressão, lua cheia (maré) e correntes marítimas.

E, de acordo com as previsões meteorológicas, que registram precipitações para os próximos dias, não há razão para se preocupar a longo prazo.

Carnaval em Veneza 2023. Foto: Paty Moraes Nobre