Vendas no varejo do Brasil sobem em outubro pelo 3º mês com antecipação de descontos

Vendas no varejo do Brasil sobem em outubro pelo 3º mês com antecipação de descontos

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -O setor de varejo brasileiro iniciou o quarto trimestre com aumento das vendas pelo terceiro mês seguido em outubro e um pouco acima do esperado graças à antecipação das promoções de Black Friday, apesar do cenário de desaceleração econômica.

As vendas no varejo registraram alta de 0,4% em outubro, mostraram os dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), marcando a leitura mais alta para o mês desde 2020 (+0,9%).

O resultado foi o terceiro seguido no azul, acumulando no período crescimento de 1,7%. Ficou ainda ligeiramente acima da expectativa em pesquisa da Reuters de 0,3%, mesmo em um ambiente de aperto de crédito, juros altos e endividamento elevado das famílias.

“Houve um aumento na ocupação e Auxílio Brasil ajudando por um lado, mas por outro inflação, inadimplência e juros elevados frearam o crescimento (do varejo). Por isso essa cara de estabilidade na margem, apesar de uma taxa positiva”, explicou Cristiano Santos, gerente da pesquisa.

Isso também deixou o setor 2,9% abaixo do nível recorde de outubro de 2020 e 3,4% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, as vendas subiram 2,7%, contra expectativa de 2,3%..

“Desde 2020, a Black Friday vem se pulverizando, porque as empresas começaram a antecipar promoções e descontos. Vimos isso agora em outubro, sobretudo em Móveis e eletrodomésticos e Equipamentos e material para escritório”, disse Santos. A Black Friday acontece no final de novembro.

Ainda assim, analistas não preveem ganho de tração para o varejo à frente, que vem apresentando resultados mensais próximos da estabilidade, considerando a política monetária restritiva do Banco Central e a perspectiva de desaceleração econômica, mesmo com o desemprego em queda e a inflação moderada.

“A política monetária restritiva imposta pelo Banco Central, que deve ajudar na desaceleração econômica ao longo de 2023, afetará diretamente o desempenho do comércio, que terá dificuldades em estabelecer uma trajetória sustentável de crescimento e também deve perder tração no decorrer do próximo ano”, alertou Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

CINCO TAXAS POSITIVAS

Entre as oito atividades pesquisadas, cinco apresentaram taxas positivas em outubro –Móveis e eletrodomésticos (2,5%); Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,0%); Outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,0%); Combustíveis e lubrificantes (0,4%); e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,2%).

As atividades que tiveram queda em volume de vendas foram Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,4%); Tecidos, vestuário e calçados (-3,4%); e Livros, jornais, revistas e papelaria (-3,8%).

O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, registrou aumento de 0,5% no volume de vendas em comparação com setembro e de 0,3% sobre outubro de 2021.

Nesse caso, as vendas de Veículo e motos, partes e peças caíram 1,7%, enquanto Material de construção apresentou recuo de 3,5%.

“Material de construção vem caindo nos últimos meses pois estava num patamar alto depois da pandemia, e tem tido uma certa compensação. Veículos também mostra compensação: houve um forte crescimento em agosto, devido a uma demanda reprimida por renovação de frotas nas empresas e também refletindo a trajetória de queda nos preços da gasolina”, explicou Santos.

O desempenho do varejo no país acompanha no mês o da produção industrial, que em outubro cresceu 0,3% sobre o mês anterior, depois de dois meses de retração.

(Edição de Luana Maria Benedito)

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