09/02/2022 - 13:39
As vendas do varejo brasileiro encerraram 2021 com crescimento de 1,4%, o quinto ano positivo consecutivo. Apesar do bom desempenho no ano, a perda de fôlego do setor no segundo semestre acende um sinal de alerta para 2022, reflexo da inflação mais alta, o crédito mais caro e o elevado desemprego.
Dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as vendas do varejo cresceram 0,1% em dezembro, frente a novembro, na série com ajuste sazonal da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). O resultado foi melhor do que a mediana das estimativas captadas pelo Projeções Broadcast, que apontavam para queda de 0,5%.
Das oito atividades do varejo acompanhadas pelo IBGE, três tiveram queda em dezembro, incluindo setores relevantes para o comportamento geral das vendas, como Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,7%).
Segundo Cristiano Santos, gerente da PMC, o setor completou em dezembro três meses consecutivos de estabilidade. No período, o aumento da taxa básica de juros afeta o crédito ao consumidor – um ciclo que não terminou e que deve se prolongar neste ano. Ele lembra que a Black Friday e o Natal foram fracos em vendas.
“Existe também certa reestruturação de vendas. Os consumidores não aguardam mais a Black Friday para fazer algum tipo de consumo, por que determinados setores adiantaram-se e fizeram promoções no primeiro semestre do ano passado”, disse Santos, durante entrevista coletiva sobre os resultados de dezembro.
O varejo havia registrado crescimento de 6,7% no primeiro semestre de 2021, frente ao mesmo período do ano anterior. O segundo semestre do ano passado, porém, mostrou queda de 3% nas vendas. O comportamento foi o inverso do registrado no ano anterior, que teve um segundo semestre mais forte.
Com o desempenho ruim na segunda metade do ano, o nível das vendas do varejo está 2,3% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. As vendas também estão 5,7% abaixo do patamar recorde, de novembro de 2020, conforme dados divulgados pelo IBGE.
O economista da Rio Bravo Investimentos, João Leal, disse que o resultado de dezembro melhor do que a mediana das projeções não altera a avaliação de que a atividade deve perder força na virada para 2022. O analista manteve a projeção de crescimento de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre.
O economista reforça que os indicadores já disponíveis, como a de produção de veículos, sinalizam para o enfraquecimento da atividade neste início de 2022. Diante da pressão inflacionária sobre a renda, Leal estima que a tendência seria de moderação ou queda da atividade ao longo deste ano.
“A visão é de que a tendência para 2022 é de estagnação ou retração em toda a economia”, diz o economista da Rio Bravo Investimentos. “O Auxílio Brasil não deve dar um impulso relevante para o varejo, considerando os efeitos da inflação sobre a renda e o mercado de trabalho bastante ruim.”