A cantora Phoebe Bridgers venceu o Grammy junto à banda Boygenius, e mandou um recado ao ex-presidente da premiação, Neil Portnow. Em entrevista à revista Rolling Stone logo após receber o troféu, a cantora desabafou: “O ex-presidente da Academia de Gravação, Neil Portnow, disse que se as mulheres quisessem ser indicadas e ganhar um Grammy, elas deveriam ‘se esforçar’. Bem… gostaria de dizer para ele: eu sei que você ainda não está morto, mas quando estiver, apodreça”.

Com a fala, a cantora lembrou tanto da acusação de violência sexual que o produtor musical recebeu, quanto da polêmica que rondou o Grammy de 2018. Após Alessia Cara ter sido a única mulher levar um troféu naquele ano, a premiação sofreu duras críticas, inclusive com a campanha “Grammy tão masculino” que virou hashtag nas redes sociais. Artistas como P!ink e Katy Perry entraram no coro contra os critérios da premiação.

Questionado na época, o então presidente da Academia disse a polêmica frase: “Temos que começar com as mulheres que têm criatividade, que querem ser artistas … se esforcem”.

A declaração não repercutiu bem entre os próprios membros da Academia, e Neil se afastou da presidência da Instituição, cargo que ocupava desde 2002. Posteriormente, ele chegou a se desculpar pela fala.

Acusações de abuso sexual

Em 2023, o nome do produtor musical voltou à tona após ele ter sido acusado por uma mulher de dopá-la e estuprá-la em um hotel de Nova York, naquele mesmo ano de 2018.

De acordo com a acusação, a Academia teria sua parcela de culpa ao “abafar a conduta de Portnow e silenciar a vítima e outras mulheres da indústria que decidiram se pronunciar”. Tanto a Academia quanto o produtor negaram as acusações.

Grammy 2024

Neil foi substituído por Deborah Dugan, que ficou no cargo até 2022. Na época de sua demissão, Deborah declarou à CNN: “Fui recrutada e contratada pela Academia de Gravação para fazer mudanças positivas. Infelizmente, não fui capaz de fazer isso como CEO. Então, em vez de tentar reformar uma instituição corrupta, continuarei trabalhando para responsabilizar aqueles que continuam manchando o processo de votação do Grammy e discriminando mulheres e negros. Os artistas merecem o melhor”, completou. Ela foi substituída por outro homem, Harvey Jay Mason Jr., que permanece na gestão.

As críticas à falta de representatividade feminina no Grammy, porém, parecer ter gerado uma autocrítica na Academia. Desde então, mais mulheres foram ocupando seus espaços na premiação. Na edição de 2024 que aconteceu no último domingo, 4, de forma inédita, elas receberam o maior número de indicações nas três principais categorias: Álbum do Ano, Música do Ano e Gravação do Ano.

Phoebe Bridgers venceu, com a Boygenius, categorias conhecidas por serem majoritariamente masculinas: Melhor Canção de Rock e Melhor Performance de Rock, ambos com a música Not Strong Enough e Melhor Álbum de Música Alternativa com The Record. A cantora ainda levou o Grammy em sua parceria com SZA na categoria Melhor Performance Pop em Duo/Grupo por Ghost in the Machine.

Porém, a premiação ainda precisa evoluir em questão de recorte racial em suas categorias. A crítica foi levantada, de forma sutil, por Jay Z durante a premiação, ao receber o troféu pelo conjunto de sua obra. O rapper e produtor lembrou que a mulher, Beyoncé, nunca levou a categoria de Álbum do Ano: “Pensem, a maior vencedora do Grammy nunca ganhou Álbum do Ano. Isso não funciona”.

Nesta edição, a vencedora da categoria foi, novamente, Taylor Swift, desta vez com o álbum Midnights. Com o mais novo troféu, a cantora quebra o próprio recorde de artista que mais venceu na categoria, com 4 prêmios, superando nomes como Stevie Wonder.