No Brasil, o cargo de presidente da República é temporário.

É assim em todos os países presidencialistas, mas aqui é mais passageiro que no resto do mundo.

Para provar meu ponto, basta conferir que em nossos 131 anos de república, tivemos 37 governantes, Bolsonaro é o 38º, e apenas 12 concluíram seus mandatos.

Se considerarmos os últimos 100 anos a coisa piora: de 25 presidentes, apenas 5 foram eleitos pelo povo e conseguiram o feito de chegar ao fim de seu termo.

Foram eles Dutra, Juscelino, Lula, FHC e Dilma (no primeiro mandato).

Por isso podemos dizer com tranquilidade que o Brasil tem uma forma de governo peculiar, única em todo mundo: o Presidencialismo de Impeachment.

Nesse sistema, o presidente já é eleito sabendo que chegar ao final de seu governo é uma possibilidade remota.

Ao assumir o cargo, capricha em seu discurso de posse porque é bem provável que não tenha a chance de um discurso de despedida.

É quase certo que deixará o Palácio do Planalto escorraçado pela porta dos fundos.

Quem olha de fora, os ingênuos ingleses, ou os arrogantes franceses, podem acusar nossa democracia de instável.
Ou mesmo, como Pelé, afirmar que somos um povo que não sabe votar.

Aqui mesmo há os que acreditam que esse nosso hobby de expulsar presidentes é a consequência de sermos uma democracia muito jovem.

Bobagem.

Somos um país à frente de nosso tempo, isso sim.

O eleitor brasileiro aprendeu a muito que político nenhum presta.

Então não se dá ao trabalho de prestar atenção nas promessas eleitoreiras.

O Presidencialismo de Impeachment é útil porque não perdemos tempo estudando quem é o melhor candidato, o que nos permite focar na eleição que realmente importa: a do BBB.

Para presidente, levamos na farra.

Fazemos bolão para ver quem ganha.

Votamos no primeiro das pesquisas que é para poder dizer que “acertamos” quando o líder do Datafolha for eleito.
Tudo isso porque sabemos que a democracia de verdade só será exercida quando começarem os panelaços, as manifestações, as carreatas e os buzinaços.

Aí é só dar tempo ao tempo e o Presidencialismo de Impeachment seguirá seu rumo.

O presidente vai cair, dando lugar ao vice.

Vice que também pode ser qualquer um, porque terá pouco tempo para produzir coisa que preste.

A função do vice, no Presidencialismo de Impeachment, é apenas “recuperar a estabilidade das instituições”, ou seja, ficar quietinho no seu canto e não atrapalhar.

E aguardar a nova eleição, onde um novo presidente qualquer assumirá o cargo para ser derrubado uns dois anos depois.

Já do ponto de vista do presidente, o Presidencialismo de Impeachment é libertador.

Já do ponto de vista do presidente, esse sistema é libertador. Ao ter consciência de que, mais dia, menos dia, vai cair, o chefe do executivo pode operar toda sorte de abusos

Ao ter consciência de que mais dia, menos dia vai cair, o chefe do executivo pode operar toda sorte de abusos enquanto está no comando sem ter que se preocupar com o eleitor.

Pode se cercar de ministros incompetentes, basear suas escolhas em nepotismo, ou simplesmente sequestrar o erário para seus interesses.

Alguns, coitados, pensam em reeleição já que o sonho é livre.

Dilma sonhou e realizou, mas rapidamente essa falha do sistema foi corrigida, como todos sabem.
Não por acaso que trago agora esse tema.

Por uma coincidência infeliz, na mesma semana, o BBB21 e o impeachment entraram na pauta dos principais veículos de notícias.

Esse texto, portanto, é um apelo a você, eleitor consciente.

O momento chegou.

Precisamos pressionar o Congresso para que inicie o quanto antes as discussões sobre o impeachment para que o país possa se dedicar, sem maiores distrações, às votações que realmente importam:

O paredão de terça-feira.