Chegou ao fim nesta terça-feira a carreira esportiva de Renata Decnop, velejadora que fez duas campanhas olímpicas, nas classes match race (2012) e 470 Feminina (2016), mas não conseguiu classificação para os Jogos. Em seu aniversário de 31 anos, ela publicou um longo testemunho em suas redes sociais, evidenciando a falta de apoio, e colocou à venda seu barco 470.

“Tomei a decisão de parar, não vou seguir em campanha pra Tóquio. Mas não é porque estou me sentindo cansada, ou velha demais. Muito pelo contrário. Eu estava no auge da minha carreira, e tinha muito mais para conquistar. Se eu tivesse a opção, uma única chance, eu agarraria ela com toda a minha força, faria tudo de novo. Eu sei onde posso chegar, sei que poderia disputar uma medalha olímpica”, escreveu no Facebook.

Renata começou a campanha olímpica pelo Rio-2016 ao lado de Isabel Swam. Apesar de alguns bons resultados na 470, como o 10.º lugar no Princesa Sofia de 2014, na Espanha, e o sexto lugar no evento-teste daquele ano, no Rio, a dupla foi preterida por Fernanda Oliveira e Ana Luiza Barbachan, que acabaram convocadas para o Rio-2016 ainda em maio de 2015. “Elas estavam no auge também, mereceram a vaga com todos os méritos”, avalia Decnop.

A decisão antecipada da CBVela ajudou a dupla escolhida, que ganhou tranquilidade na preparação, e também Isabel Swam, que teve tempo de migrar para a Nacra 17 e conseguir a vaga olímpica com Samuel Albrecht. Renata, porém, acabou sobrando. Formou dupla com Larissa Junk visando Tóquio-2020, mas ficou praticamente sem apoio.

“Primeiro a CBVela me tirou o apoio. Não tinha mais técnico nem bote (auxiliar), e eu obviamente estava fora das prioridades pra competição internacional, afinal eu não ia pros Jogos. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) me cortou o fisioterapeuta, a nutricionista e o preparador físico. Quem não vai pros Jogos não precisa disso né? Errado, eu precisava, passei a pagar particular”, contou.

“A Bolsa Pódio, que já tinha sido aprovada a renovação, afinal eu era naquele momento a 13.ª do ranking mundial, foi cortada por decisão do Ministério do Esporte. Eles escolheram cortar, mesmo eu preenchendo os pré-requisitos, e com renovação aprovada”, relatou a agora ex-velejadora, que ainda perdeu o patrocínio da Embratel.

“Eu não escolhi desistir. As portas simplesmente se fecharam. É triste ver que essa é a realidade do esporte no Brasil, e não deveria ser. Não é só o orçamento limitado. A gente sabe que esse não é o problema. Na verdade falta planejamento, olhar um pouco para o futuro e ver que os legados são as conquistas mais valiosas que podemos ter, e se tivessem um mínimo de visão, talvez tantos talentos não fossem perdidos pelo caminho. É possível que essas pessoas que tiveram que tomar decisões de cortar gastos pra caber no orçamento, a velha história do cobertor curto, nem saibam o tamanho do prejuízo que isso resulta, encerrando prematuramente uma carreira promissora, como foi o meu caso, ou fazendo um jovem talento desistir antes de começar Mas fica aqui meu desabafo, pra que aqueles que pensarem as futuras gerações do esporte, que considerem sempre o legado, que priorizem manter o atleta ativo e em condições de sonhar, pois é isso que vai motivá-lo todos os dias, porque a rotina é muito dura, mas o sonho vale a pena.”