14/04/2020 - 12:00
Homem de confiança do presidente Jair Bolsonaro, o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que o governo passou a investir na relação direta com líderes de partidos do Centrão. A estratégia, que contraria o que o presidente pregou durante seu primeiro ano de mandato, é uma tentativa de esvaziar os poderes dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), até agora os principais interlocutores do Palácio do Planalto no Legislativo. Para Vitor Hugo, a mudança de rota é reflexo da conduta dos chefes do Legislativo. “Vejo é um excesso de críticas em relação ao Executivo.”
O governo mudou de postura em relação ao Congresso? Vai negociar com líderes de partidos?
Como um todo o Brasil vai sair diferente da crise. Uma das consequências é a necessidade de aproximação, ainda mantendo a independência, mas buscando uma relação mais direta com o Legislativo. Estou sentindo do presidente e ministros uma disposição maior para interagir de maneira direta sem que necessariamente tenha que passar pelos presidentes das duas Casas (Maia e Alcolumbre).
O governo quer ter uma base parlamentar agora?
Eu não sou a pessoa mais adequada para responder isso, mas pode dizer que com certeza o governo quer ter uma relação mais direta com os líderes e os partidos.
E o presidente da Câmara?
O caso do Rodrigo Maia é bem particular. Ele, embora tenha um poder de articulação muito grande dentro da Câmara, tem uma rejeição muito grande fora do Parlamento. Parte da população o vê de modo negativo. As lideranças esperavam que, como no passado, o líder do governo fosse o grande gestor de liberação de emendas para a base. E a decisão do governo de não se aproximar diretamente dos líderes também dificultava e fazia com que eles fossem articular e acessar o governo pelo presidente da Câmara.
Isso deu superpoder a Maia?
Isso certamente contribuiu para o protagonismo que ele teve no ano passado. Embora uma parte da população tem uma visão negativa do Rodrigo.
Aliados do presidente acusam Maia de aproveitar a crise do coronavírus para se promover politicamente. O sr. pensa assim?
Todos os poderes têm responsabilidade sobre a crise. Ele é chefe de uma das casas e é natural que ele queira dar satisfação à população. O que eu vejo, muitas vezes, é um excesso de críticas em relação ao Executivo.
Esta nova postura é reflexo das dificuldades que o Executivo encontrou no primeiro ano?
Foi um primeiro ano difícil, o presidente foi eleito por dois partidos (PSL e PRTB) pequenos e não loteou os ministérios. Acho que eram normais essas faíscas. Agora, com a crise, a necessidade se colocou mais alta. É a chance de aproximar. Isso não quer dizer que eles vão assumir que são governo, mas vão se sentir mais próximos. Quando o governo for apresentar uma medida provisória ou projeto de lei, vai poder discutir antecipadamente a forma e o conteúdo.
Após um ano no cargo, as pessoas o veem como um articulador político?
O discurso que trouxe o presidente ao poder, que colocava em xeque o próprio Parlamento, criava dificuldades. Cheguei lá (na Câmara) como deputado de primeiro mandato, como representante de um presidente que questionou o sistema. É natural que houvesse uma resistência inicial.
Isso aconteceu no caso do auxílio emergencial?
No caso do auxilio emergencial, o Paulo Guedes (ministro da Economia) anunciou e a Câmara começou a discutir. A definição dos critérios para poder o auxilio emergencial tem que ser muito bem feito, porque se não o governo não consegue individualizar quem é o beneficiário. Era coisa que poderiam ser construída juntos, ou aguardar para o governo apresentar uma proposta melhor.
Como o senhor avalia a atuação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta?
Ele conduziu o início do enfrentamento à pandemia de forma coerente com o que ele acreditava. Como subordinado ao presidente, tem que haver um esforço maior para compatibilizar a forma como ele vê o problema com as diretrizes maiores, que são do presidente, que é quem foi eleito. A solução da crise não será só no âmbito do Ministério da Saúde.
Como vê a postura do presidente, que tem ignorado recomendações do Ministério da Saúde e ido ao encontro de pessoas em aglomerações, a exemplo do que ocorreu no sábado em Goiás?
Não foi o presidente que estimulou as pessoas estarem lá. Não vejo a atitude do presidente como uma afronta a quem defende o isolamento total. Ele vai ver um hospital, as pessoas querem vê-lo e ele vai agradecer o apoio. Tem que ver as atitudes dele como presidente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.