Não dá para esconder: o Brasil respira aliviado com o fim do desgoverno de Jair Bolsonaro. É impressionante, no entanto, ver milhares de pessoas dispostas a fazer um papel ridículo e pedir “intervenção militar” na frente de quartéis ou até colocar em risco a vida de seus filhos colocando crianças como escudos humanos para bloquear estradas. Isso mostra um pouco do grau de loucura que essa turma chegou. Culpa de quem? Do presidente, por sua postura covarde de sempre. Com a cumplicidade criminosa das plataformas de redes sociais, operadas sem limites pela máquina de desinformação do bolsonarismo.

Não sei se você teve tempo de ver algumas cenas insanas. Se não teve, descrevo algumas aqui. Peço, por favor, para que contenha a gargalhada: o assunto é sério. Sim, seria engraçado, se não fosse trágico. São pequenos retratos que demonstram o tamanho do problema que nos metemos quando votamos nesse “moleque” – termo usado por um ministro do STF para descrever o energúmeno que ocupa o Palácio do Planalto. As cenas traduzem bem o manicômio que o Brasil se tornou desde 2019.

Cena 1: Estrada federal em Irati, Paraná. Cerca de trinta manifestantes bolsonaristas organizados em um círculo dão as mãos. No centro, um pneu. Ele é reverenciado como se fosse algo sagrado. Todos sérios e compenetrados, começam a cantar o hino nacional para o pneu.

Cena 2: Outra turma de manifestantes está em frente a um quartel, cerca de vinte deles. Um deles consegue entrar. Os outros olham para dentro, curiosos. Querem saber como esse “herói” nacional será recebido pelos recrutas. De repente a porta se abre e um cara com camisa do Brasil é chutado para fora. Cai de bunda no chão, observado pelos outros manifestantes, que não entendem bem o que está acontecendo. Por que os militares não os ajudam? Parece uma cena dos Trapalhões nos anos 1970, mas é o Brasil de ontem à tarde.

Cena 3: Bloqueio de uma estrada é feito por meia dúzia de desocupados. Um caminhoneiro profissional, que parece ter mais o que fazer do que dar palanque para maluco, fura o bloqueio e passa pela turma em velocidade reduzida, com medo de machucá-los. Um dos malucos fica na frente do caminhão; sobe e se agarra à janela dianteira, na frente do motorista. Não quer largar. O motorista começa a dirigir, avisa que ele deve descer ou vai se machucar. O maluco continua lá, sem se mexer. O caminhão parte. Não sei como a história termina porque o vídeo acaba. Mas imagino que o maluco terá uma boa caminhada de volta até seu carro.

Cena 4: Um homem com camisa do Brasil, aparentemente confuso, mas certamente empolgado, marcha sozinho pela rua. Braços esticados, passos altos. Parece meio atrapalhado, talvez tenha problemas mentais. Aliás, certamente tem. Exibe orgulho de alguma coisa que não dá para compreender bem o que é. Algum gênio da edição montou essa vídeo com a música “marcha soldado, cabeça de papel”, versão Galinha Pintadinha, ao fundo.

Cena 5: Grupo de whatsapp bolsonarista espalha uma foto do presidente conversando com a “ministra Stefani Germanotta, do tribunal de Haia”, que teria autorizado a “intervenção federal” no Brasil. Pelo jeito eles não perceberam que a ministra é, na verdade, a Lady Gaga. Eu pagaria caro para ver a cara deles quando descobrirem.

Cena 6: Bolsonarista recebe áudio dizendo que o ministro Alexandre de Moraes foi destituído e que o presidente Lula foi preso. Ele anuncia isso para uma turma de manifestantes. Explosão de felicidade! Catarse geral à beira da rodovia! O Brasil vai dar certo! Pena que é fake news. Quem diria que gente tão inteligente cairia em um trote desses, não é?