As eleições para as prefeituras das capitais mobilizam não apenas forças políticas locais, mas também os chefes de Executivo estaduais, que têm relações diretas com as gestões dessas cidades.
Nesse cenário, o apoio de governadores é um ativo eleitoral muito usado por quem concorre a essas prefeituras — assim como, em alguns casos, a oposição a eles. Veja a seguir quem os governadores de 26 unidades da federação apoiam nas eleições para as prefeituras de suas capitais.
SÃO PAULO-SP
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem se posicionado como o principal cabo eleitoral da campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB) pela reeleição na capital paulista. Em meio a uma debandada de eleitores bolsonaristas para a candidatura de Pablo Marçal (PRTB), Tarcísio publicou um vídeo em seu Instagram reforçando apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao emedebista e elogiou a relação entre as duas administrações.
Pesquisas de opinião mostram o governador como cabo eleitoral mais positivo na cidade, e Nunes chegou a chamá-lo de “irmão” na agenda em que deixou para Tarcísio fazer o anúncio do coronel Ricardo Mello Araújo (PL) como seu candidato a vice. Em entrevista ao canal CNN Brasil na segunda-feira, 19, Nunes reiterou que é o candidato de Tarcísio na corrida.
RIO DE JANEIRO-RJ
O impopular governador Cláudio Castro (PL) tem no colega de partido Alexandre Ramagem, que chefiou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sob Bolsonaro, seu candidato à prefeitura do Rio de Janeiro.
Além da correspondência partidária e da associação ao campo bolsonarista, a relação é movida pela rivalidade de Castro com o prefeito Eduardo Paes (PSD), que enfrentará Ramagem nas urnas e lidera as pesquisas de intenções de voto na cidade. Recentemente, o governador acusou o pessedista de disputar a reeleição pensando no governo do estado — analistas e fontes da política fluminense consideram que Paes é virtual candidato à eleição para governador em 2026, mas o prefeito afirma publicamente que cumprirá seu mandato caso seja reeleito.
BELO HORIZONTE-MG
Em aliança pouco provável, Romeu Zema (Novo) emplacou sua ex-secretária Luísa Barreto (Novo) na vice de Mauro Tramonte (Republicanos). Pouco habituado a alianças em sua carreira política, o governador agora divide palanque com o ex-prefeito e rival Alexandre Kalil (Republicanos), a quem derrotou nas eleições estaduais de 2022.
Tramonte, por sua vez, tem destacado na campanha justamente o diálogo com diferentes interlocutores para se dizer alheio à polarização — na disputa presidencial de 2022, Zema apoiou Bolsonaro, enquanto Kalil apoiou Lula. O custo do apoio do governador foram críticas do campo bolsonarista, em especial de Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, pelo fato de Zema não estar ao lado de Bruno Engler (PL), postulante do grupo ao cargo.
VITÓRIA-ES
Depois de apoiar Lula nas eleições presidenciais de 2022, o governador Renato Casagrande (PSB) não subirá ao palanque petista em Vitória e optou por endossar o ex-deputado federal Luiz Paulo (PSDB).
Com a decisão, a candidatura de João Coser (PT) ficou isolada à esquerda em oposição ao prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), que busca a reeleição. Vale lembrar que, embora tenha se aliado ao PT em pleitos anteriores, Casagrande também já foi adversário do partido — quando se elegeu governador, em 2018, por exemplo.
CURITIBA-PR
Bastante popular no estado, Ratinho Júnior (PSD) tem como uma de suas premissas nas eleições de outubro eleger o aliado Eduardo Pimentel (PSD) prefeito da capital.
Embora tenha formado alianças amplas no cargo, o governador é um dos principais bastiões bolsonaristas do partido de Gilberto Kassab e reforça esse alinhamento no pleito municipal. Pimentel tem apoios importantes da direita — PL e Novo — e, vice-prefeito da cidade desde 2017, tem como cabo eleitoral ainda o prefeito Eduardo Greca (PSD).
FLORIANÓPOLIS-SC
Jorginho Mello (PL) articula nas eleições municipais uma frente de aliados nas cidades catarinenses e, na capital, subirá no palanque do prefeito Topázio (PSD).
Para obter a “benção” do governador e de seu grupo político, Topázio foi mais um prefeito de partido de centro a abrigar na chapa uma vice militar e bolsonarista (Maryane Mattos, do PL) em troca do voto do campo, que não o acompanhava historicamente.
PORTO ALEGRE-RS
O governador Eduardo Leite (PSDB) articulou para que os tucanos tivessem concorrente próprio à prefeitura de Porto Alegre — o ex-prefeito Nelson Marchezan Jr. foi cotado –, mas acabou se aliando à candidatura da ex-deputada estadual Juliana Brizola (PDT), conhecida opositora de seu governo.
Prova do distanciamento dessa aliança é que o vice-governador Gabriel Souza (MDB) apoia a reeleição de Sebastião Melo (MDB), prefeito que consolidou uma aliança bolsonarista — o que afastou as chances de apoio do governador.
GOIÂNIA-GO
Avaliado como governador mais popular do país em pesquisas de opinião, Ronaldo Caiado (União Brasil) testará sua força como cabo eleitoral independente em Goiânia ao romper com o bolsonarismo no pleito para apoiar o ex-deputado Mabel, seu colega de partido.
A ruptura dividiu a direita na cidade. O PL lançou Fred Rodrigues e o prefeito Rogério Cruz (Solidariedade) concorre à reeleiçao.
CAMPO GRANDE-MS
A capital sul-matogrossense se tornou uma das principais apostas do PSDB para as eleições municipais. Combalidos politicamente, os tucanos têm no governador Eduardo Riedel (PSDB) um de seus nomes mais relevantes e confiam na força eleitoral do político para impulsionar a candidatura de Beto Pereira (PSDB) à prefeitura de Campo Grande.
Como efeito do poder estadual, a sigla conseguiu atrair apoios de PSD, Republicanos, MDB, Podemos, Solidariedade e até do PL de Bolsonaro — que indicou a vice, Coronel Neidy — ao deputado, desfalcando a campanha da prefeita Adriane Lopes (PP), apadrinhada pela senadora e ex-ministra Tereza Cristina (PP).
CUIABÁ-MT
Em capital de poucas candidaturas, Eduardo Botelho (União Brasil) é um deputado estadual da base do governador Mauro Mendes (União Brasil) que concorre à prefeitura com apoio do mandatário estadual.
O reforço da relação é um dos instrumentos para Botelho enfrentar obstáculos como a fragmentação de grupos importantes locais — mesmo sem formar uma aliança robusta, o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) emplacou Kennedy, seu colega de partido, como postulante à sucessão.
SALVADOR-BA
A capital baiana concentra uma das principais rivalidades de grupos políticos que exercem domínios regionais distintos: enquanto o PT governa o estado há 18 anos, o carlismo busca completar 16 à frente de Salvador.
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) apoia o próprio vice, Geraldo Júnior (MDB), em uma chapa robusta formada para retirar o grupo adversário — hoje representado por Bruno Reis (União Brasil), prefeito e candidato à reeleição — do poder na cidade.
MACEIÓ-AL
O governador Paulo Dantas (MDB) fechou apoio ao deputado Rafael Brito (MDB), hoje um azarão na disputa pela prefeitura da cidade. Mas o apoio referenda o nome do grupo político do senador Renan Calheiros (MDB), aliado importante do presidente Lula — cujo partido, o PT, também está na chapa.
Já o prefeito da capital, João Henrique Caldas (PL), disputa a reeleição à luz de uma relação pouco amistosa com o governador e apoiado pelo grupo de Arthur Lira (PP), presidente da Câmara, que emplacou o senador Rodrigo Cunha (Podemos) como candidato a vice do mandatário.
FORTALEZA-CE
Eleito em primeiro turno em 2022, o governador Elmano Freitas (PT) busca transferir sua popularidade para o deputado Evandro Leitão (PT) em Fortaleza.
Atual prefeito da cidade, José Sarto (PDT) busca a reeleição por um grupo político fraturado do petismo e viu seu principal expoente a nível estadual, o senador Cid Gomes (PSB), desembarcar da candidatura rumo à campanha do ex-pedetista Leitão.
SÃO LUÍS-MA
O governador Carlos Brandão (PSB) é um dos padrinhos da ampla coligação de Duarte Jr. (PSB) nas eleições da capital. A aliança une não só o chefe do Executivo estadual, mas ainda o presidente Lula, o PL de Bolsonaro e as forças políticas aliadas a Flávio Dino, ex-governador do estado e hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
O alinhamento entre o gestor estadual e o postulante municipal tem o objetivo de não reproduzir o pleito de 2020, quando o então governador Dino se dividiu entre diferentes aliados e o mesmo Duarte Jr. acabou derrotado por Eduardo Braide (PSD), atual prefeito e candidato à reeleição.
JOÃO PESSOA-PB
A aliança de forças políticas tradicionais faz com que o apoio do governador João Azevedo (PSB) à reeleição do prefeito Cícero Lucena (PP) na capital não surpreenda.
Lucena, que já foi prefeito outras duas vezes, senador, vice-governador e governador do estado, tem trajetória marcada por caminhos ideologicamente difusos, mas uma constância de proximidade com os principais grupos políticos locais.
RECIFE-PE
Responsável por romper com a hegemonia estadual do PSB nas eleições de 2022, a governadora Raquel Lyra (PSDB) tem no apoio ao ex-deputado Daniel Coelho (PSD) a esperança de reproduzir o feito no Recife, onde o prefeito João Campos (PSB) desponta como favorito à reeleição.
Lyra incluiu os pessedistas em sua gestão para reorganizar as forças políticas que estão ao seu lado. Prova da atuação firme da governadora pelo pleito da capital é que tanto Coelho quanto a vice, Mariana Melo (PSDB), chefiavam secretarias estaduais — do Turismo e da Mulher, respectivamente — e foram exonerados para disputar a eleição.
TERESINA-PI
O governador Rafael Fonteles (PT) é um importante cabo eleitoral de Fabio Novo (PT) pela prefeitura da capital. O estado está no centro dos esforços petistas nas disputas municipais (são 1.893 candidaturas ao todo), com base no espólio construído durante os governos de Wellington Dias, hoje ministro do Desenvolvimento Social.
O administrador estadual se une a uma ampla aliança — que inclui siglas de centro, como MDB e PSD — para fortalecer Novo no embate contra Dr. Pessoa (PRD), candidato à reeleição em Teresina.
NATAL-RN
A deputada federal Natália Bonavides (PT) disputa a prefeitura com o apoio da governadora Fátima Bezerra (PT) e a sinalização de uma das principais apostas do partido para outubro.
Para enfrentar a dobradinha, destacam-se Paulinho Freire (União Brasil), candidato do prefeito Álvaro Dias (Republicanos), e o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD), nome conhecido da política potiguar que já foi aliado e adversário do petismo local.
ARACAJU-SE
O governador Fábio Mitidieri (PSD) decidiu apoiar Luiz Roberto (PDT) na capital, em sinalização que consolida ainda uma aliança com o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), que tem em Roberto seu postulante a sucessão após dois mandatos em Aracaju.
RIO BRANCO-AC
Em outro caso de capital onde prefeito candidato a reeleição e governador são aliados, Tião Bocalom (PP) terá o apoio de Gladson Cameli (PP) em busca da reeleição.
MANAUS-AM
A exemplo do que faz Ronaldo Caiado em Goiânia, o governador Wilson Lima (União Brasil), apostou na própria força como cabo eleitoral em Manaus e se distanciou das alianças políticas de Bolsonaro para apoiar Roberto Cidade (União Brasil), presidente da Assembleia Legislativa estadual, à prefeitura. O bolsonarismo tem como candidato o capitão Alberto Neto (PL).
O movimento de Lima também consolidou uma ruptura com o prefeito David Almeida (Avante), seu ex-aliado e candidato à reeleição na cidade.
MACAPÁ-AP
Clécio Luís (Solidariedade), que administrou Macapá por oito anos, é o único governador sem um apoio declarado à prefeitura da capital em que reside.
Josiel Alcolumbre (União Brasil, irmão do senador Davi), que era seu candidato, desistiu de concorrer novamente à prefeitura (em 2020, ele ficou em 2º lugar) e disputará uma vaga na Câmara Municipal. Pleiteando a reeleição, Dr. Furlan (MDB) é um adversário político de Luís.
BELÉM-PA
Eleito com amplitude de apoio partidário e vantagem sobre os concorrentes em 2022, Helder Barbalho (MDB) lançou o deputado estadual Igor Normando (MDB), seu secretário da Cidadania, na disputa por Belém.
Pelo apadrinhado, o governador estará em palanque oposto ao do presidente Lula, seu aliado nacional, que apoia a reeleição de Edmilson Rodrigues (PSOL). Ocorre que, além de integrar o PSOL — partido mais distante ideologicamente do MDB de Barbalho do que os petistas –, o prefeito ostenta índices de rejeição na casa dos 75%, pior índice registrado entre os gestores das capitais e um obstáculo na busca por apoios políticos.
PORTO VELHO-RO
O apoio do governador Marcos Rocha (União Brasil) à candidatura de Mariana Carvalho (União Brasil), que concorreu em sua chapa ao Senado em 2022 (ficou em segundo lugar), consolidou uma ampla aliança em torno da ex-deputada, que inclui o atual prefeito Hildon Chaves (União Brasil) e as principais forças políticas da direita em Porto Velho.
BOA VISTA-RR
Às voltas com processos que pedem sua cassação na Justiça Eleitoral, Antonio Denarium (PP) encaminhou apoio à chapa do União Brasil em Boa Vista. Apesar do apoio estadual, a candidatura de Catarina Guerra só foi concretizada por intervenção da executiva nacional da sigla, uma vez que a convenção municipal se dividiu entre dois postulantes –o deputado Nicoletti chegou a ter o nome registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Do outro lado, o prefeito Arthur Henrique (MDB) disputa a reeleição em esforço para manter o poder nas mãos do grupo político do ex-senador Romero Jucá e da ex-prefeita Teresa Surita, ambos emedebistas, que rivaliza a nível estadual com o grupo de Denarium.