Cinco anos após a extinção, o horário de verão pode voltar a ser adotado no Brasil. A medida é analisada pelo governo federal em decorrência da seca que atinge o país.

De acordo com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), a retomada do horário de verão garantiria um alívio ao sistema energético durante o horário de pico de consumo, entre as 18h e 20h, quando as pessoas saem do trabalho e retornam para casa.

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O horário de verão foi criado por Getúlio Vargas em 1931 e extinto pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019. Na época, a justificativa foi de que os hábitos dos consumidores haviam mudado e, portanto, não ocorreria uma economia de energia significativa com o prosseguimento da medida.

A retomada do horário de verão foi ponderada pelo governo Lula em outras oportunidades e, após declaração do ministro Alexandre Silveira, a discussão acerca do tema voltou a receber atenção do Planalto.

Demanda durante horário de pico e seca

Em entrevista ao “Poder360”, Silveira declarou que não há nada definido e a volta do mecanismo ainda é avaliada. “Apesar de ser controverso do ponto de vista da opinião pública, há uma pequena maioria que gosta e, mais que isso, a economia agradece”, pontuou o ministro.

Segundo o economista Diogo Lisbona Romeiro, pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas), no horário de pico, das 18h às 20h, há um aumento no consumo que obriga as hidrelétricas a trabalharem em sua capacidade máxima em decorrência da demanda. “Com reservatórios baixos, esvaziados, há maior gasto de água para geração do mesmo potencial.”

Lisbona enfatiza que, em momentos de seca, o horário de verão não resolveria o problema da crise, representando apenas uma medida adicional.

Vantagens para a economia e segurança

De acordo com o chefe da pasta de Minas e Energia, o horário de verão seria positivo para a microeconomia. Para a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), a medida estimula uma maior movimentação de pessoas em estabelecimentos comerciais. Em estimativa de 2023 feita pela entidade, foi apontado que haveria um crescimento no faturamento que varia entre 10% a 15% com o maior fluxo de consumidores.

Ainda no ano passado, a Acsp (Associação Comercial de São Paulo) manifestou apoio à volta do horário de verão. A instituição sugeriu que a medida faria empreendimentos economizarem com gastos elétricos, o que consequentemente traria a possibilidade de preços mais baixos aos consumidores.

O presidente da Acsp, Roberto Matheus Ordine, também acredita que a luz natural torna as cidades mais seguras, com menos incidência de acidentes e crimes, estimulando ainda mais o comércio noturno.

Contrapontos

Apesar dos possíveis benefícios à economia, o físico Fábio Raia, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que tal vantagem é “irrisória” e não justifica os transtornos sociais gerados pelo mecanismo.

“Lâmpadas de LED tem baixíssimo consumo. Casas, lojas e indústrias ficam fechadas, têm vidros escuros, ar condicionado… Dentro desses lugares você nem sabe se é dia ou noite lá fora, nenhum escritório grande trabalha com janelas abertas”, pontua Raia, salientando que, de fato, o alívio do horário de pico ainda ocorreria com a medida. “Economia de energia hoje se faz com outras políticas, de outras maneiras”, declarou.

*Com informações da Deutsche Welle e do Estadão