Uma moção de censura rejeitada, um governo socialista com uma instável “maioria Frankenstein”, ou eleições antecipadas? Veja a seguir os principais cenários da crise política espanhola que ameaça o governo de Mariano Rajoy.

– Uma moção bloqueada? –

Apresentada na sexta-feira passada pelo Partido Socialista (PSOE), depois que o Partido Popular (PP) de Rajoy foi condenado em um grande processo por corrupção, a quarta moção de censura desde o restabelecimento da democracia, em 1977, terá dificuldades de alcançar a maioria absoluta indispensável de 176 votos. As três precedentes fracassaram.

O PSOE, principal força de oposição que propõe o seu líder Pedro Sánchez para substituir Rajoy, dispõe somente de 84 deputados dos 350 da Câmara dos Deputados.

Por enquanto, conta somente com o apoio do partido de esquerda radical (67 deputados) e deve convencer outras forças políticas no debate que acontecerá entre quinta e sexta-feira.

O partido liberal Cidadãos (32 deputados), que, segundo as pesquisas, está sendo bem visto, não tem nenhuma intenção de facilitar a chegada dos socialistas ao poder.

Assim, Sánchez terá que ir atrás dos votos dos pequenos partidos regionais, incluindo os separatistas catalães e os nacionalistas bascos.

Os mesmos independentistas catalães contra os quais o PSOE fez frente comum com o PP e o Cidadãos.

O novo presidente catalão, Quim Torra, já condicionou o apoio de seu grupo à libertação dos líderes separatistas em prisão preventiva.

Se a moção de censura fracassar, Rajoy se manteria no poder. Mas, ainda que “sobreviva ao voto, o país se afundará no bloqueio, já que o Cidadãos não estará disposto a continuar dando o apoio” necessário para o governo em minoria do PP, e a oposição poderia se ver tentada “a voltar a tentar tirar o chefe de Governo este ano”, advertiu Antonio Barroso, do gabinete Teneo Intelligence.

– Governo instável de Sánchez –

Se, apesar de tudo, o PSOE conseguir uma “coalizão Frankenstein”, será impossível governar com ela, previne o consultor político Ignacio Varela.

Os socialistas preveem convocar os espanhóis às urnas, mas somente depois de governar “alguns meses”, detalhou uma de suas porta-vozes, a ex-ministra da Cultura Carmen Calvo.

Um tempo para “fazer modificações suficientes” em termos de salários, aposentadorias e educação, continuou. Tudo isso com o objetivo de aumentar sua popularidade depois de registrar em 2016 o pior resultado eleitoral de sua história recente.

– Eleições imediatas? –

É o que reclama o Cidadãos, que rejeita continuar apoiando o governo de Rajoy ou apoiar a moção socialista.

Seu líder, Albert Rivera, que declarou que “a legislatura está liquidada pela condenação por corrupção”, se mostrou nesta segunda-feira disposto a debater com Rajoy uma “saída ordenada” fixando “data e hora” para novas eleições, que, em sua visão, deveriam ser convocadas para o outono (Hemisfério Norte).

Caso contrário, seu partido de centro direita é a favor de um “plano B”, que consistiria em uma nova moção de censura, mas com um “candidato independente” ao invés de Sánchez, que faria aprovar definitivamente o orçamento de 2018, contra o qual os socialistas votaram, e convocar eleições.

O Cidadãos não tem os 35 deputados necessários para apresentar sua própria moção de censura.

Mas essas eleições antecipadas são resistidas pelos nacionalistas bascos do PNV, que temem a chegada ao poder de um partido como o Cidadãos, disposto a reduzir os privilégios do País Basco.

As eleições seriam “um despropósito que daria ao Cidadãos a situação de bandeja e não resolveria nada”, explicou no domingo o presidente do PNV, Anodni Ortuzar.