Documentos secretos dos Estados Unidos, alguns altamente confidenciais, publicados online depois de um vazamento, detalham as opiniões de Washington sobre a guerra na Ucrânia e parecem indicar a coleta de dados de Inteligência de aliados próximos de Washington.

O Pentágono considerou que essa divulgação de documentos sigilosos representava um “risco muito grave” para a segurança nacional americana e o Departamento de Justiça abriu uma investigação criminal.

No entanto, autoridades ainda não confirmaram a autenticidade do material que circula em vários sites. Tampouco foi possível verificar de maneira independente se eles são verídicos.

Confira os pontos principais dos documentos analisados pela AFP:

– Perdas na guerra da Ucrânia –

Um dos documentos faz um balanço do conflito na Ucrânia em 1º de março de 2023, ou seja, uma semana depois do primeiro aniversário dos combates, e avalia as perdas de vidas da Rússia entre 35.500 e 43.500 pessoas, frente às 16.000 a 17.500 da Ucrânia. Moscou também teria perdido mais de 150 aviões e helicópteros, frente aos mais de 90 de Kiev.

Outra versão do documento, aparentemente modificada digitalmente, afirma, no entanto, que as perdas ucranianas seriam maiores que as russas, o que parece confirmar os temores do Pentágono de que esse vazamento poderia “alimentar potencialmente a desinformação”.

– Escassez de mísseis antiaéreos –

Dois documentos datados de 28 de fevereiro detalham o preocupante estado das defesas aéreas ucranianas, que, até agora, exerceram um papel crucial contra os ataques russos, impedindo que Moscou obtenha o controle do espaço aéreo.

A capacidade de Kiev para manter defesas aéreas de médio alcance para proteger a linha de frente “se reduzirá a zero até 23 de maio”, indicam.

Um dos documentos aponta que quase 90% das defesas de médio e longo alcance da Ucrânia são compostas por sistemas SA-11 e SA-10 da era soviética, que poderiam ficar sem munições até o fim de março e início de maio, respectivamente.

O documento enumera possíveis respostas, como o reabastecimento com munições de aliados e parceiros no curto prazo, e o pedido de contribuições de sistemas de defesa aérea ocidentais – vários dos quais já foram prometidos – no médio prazo.

– Ataques com drones na Rússia –

Segundo um documento sem data, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, teria lamentado, em 28 de fevereiro, diante do seu mais alto general que o exército ucraniano não teve mísseis de longo alcance que permitiriam atacar diretamente as forças inimigas em território russo, e sugeriu realizar um ataque assim utilizando drones.

Essa informação, que parece indicar que Washington vigia o seu parceiro, poderia explicar, em parte, a relutância dos Estados Unidos em fornecer as armas de maior alcance que Kiev está pedindo, porém essa hesitação americana é anterior à conversa mencionada no documento.

– Protestos em Israel –

Outro documento não datado afirma que os líderes do Mossad, o serviço secreto israelense, incentivaram tanto funcionários da agência como cidadãos comuns a protestar contra a controversa reforma judicial proposta pelo governo de Israel.

A fonte dessa informação, a interceptação de comunicações eletrônicas, parece apontar para operações de espionagem dos Estados Unidos contra um país aliado.

– Preocupação com munições da Coreia do Sul –

Segundo outro documento, que detalha uma conversa em 1º de março entre dois funcionários da Coreia do Sul, o conselho de segurança sul-coreano temia que os Estados Unidos transferissem munições solicitadas de Seul para Kiev.

Isso teria violado a política sul-coreana de não proporcionar ajuda letal à Ucrânia, cujas forças enfrentaram uma escassez crítica de munições.

Essa revelação, que de novo parece sugerir que Washington está espionando um aliado próximo, despertou críticas na Coreia do Sul, onde a oposição pediu, nesta quarta-feira (12), a abertura de uma investigação sobre o caso. O gabinete do presidente Yoon Suk Yeol respondeu que as acusações de espionagem eram “mentiras sem sentido”.

– Vigilância do Mar Negro –

Um documento de 27 de fevereiro analisa os voos de vigilância do Mar Negro por parte de Estados Unidos, Reino Unido, França e Otan entre o final de setembro e o final de fevereiro utilizando drones e aviões tripulados.

Aproximadamente duas semanas depois da data desse documento, Washington acusou o exército russo de interceptar um dos seus drones MQ-9 Reaper sobre o Mar Negro e destruí-lo, o que Moscou negou.

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