ROMA, 2 OUT (ANSA) – A Associação Internacional de Vítimas de Abusos de Eclesiáticos da rede Abuse (ECA) denunciou nesta terça-feira (2) que o Vaticano teria acobertado pelo menos quatro casos de abusos sexuais contra menores de idade na Itália, relatados na acusação do arcebispo italiano Carlo Maria Viganò. De acordo com a denúncia, os casos teriam passado “pelas mãos do Vaticano”, que não os tratou com a devida “tolerância zero prometida, mas com grande negligência”.   

O novo escândalo foi revelado por Francesco Zanardi, fundador da rede “Abuse”, durante coletiva de imprensa. “Há quatro casos Viganò na Itália”, disse.   

Os episódios teriam ocorrido com menores no pré-seminário São Pio X, na Santa Sé, que abriga coroinhas e possíveis seminaristas, no Instituto Provolo de Verona, além da diocese de Milão, onde o padre Mauro Galli é investigado, e na diocese de Nápoles, tendo como alvo o pároco Silverio Mura.   

Segundo Zanardi, o primeiro caso de pedofilia “foi escondido duas vezes pelo Vaticano e atualmente o suposto agressor, nunca sancionado, é um sacerdote em Como. No início deste ano ele recebeu as inscrições para os exercícios espirituais”. “Um caso cujas investigações começaram com o Papa Francisco, que pretende resolver os problemas do mundo e não conseguiu resolver o problema dentro de seu Estado”, afirmou.   

Já o segundo, em Verona, teria ocorrido em 2014. Na ocasião, uma delegação de ex-alunos surdos se reuniu com o Pontífice e entregou-lhe uma carta com os nomes de 25 padres suspeitos de abuso sexual, incluindo Nicola Corradi, que atualmente está detido na Argentina.   

“Ele não foi preso pelo Vaticano ou a pedido do Papa com base neste relatório, mas foi a Justiça argentina que o prendeu”, acrescentou Zanardi. Na terceira denúncia, sobre Galli, o fundador da “Abuse” ressalta que o padre foi condenado há apenas duas semanas a seis anos e quatro meses. No entanto, o caso já havia sido relatado “várias vezes para o Vaticano e o Papa, tanto que há cartas da Congregação para a Doutrina da Fé certificando que o Vaticano estava ciente”.   

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No último caso, do padre Mura, a vítima denunciou o religioso há cerca de oito anos e, recentemente, chegou a se encontrar com Jorge Mario Bergoglio. Os abusos teriam ocorridos em Nápoles.   

“Encontramos este padre em fevereiro deste ano em uma pequena cidade, chamada Pavese, sob um nome falso. A Igreja o mandou para lá e, agora que foi descoberto, ele desapareceu novamente”, concluiu Zanardi. Em agosto passado, Viganò, ex-núncio apostólico em Washington, divulgou um dossiê no qual afirma que o Papa Francisco ignorou as denúncias de pedofilia contra o ex-cardeal norte-americano Theodore McCarrick, que só foi afastado do colégio cardinalício em julho deste ano, após também ter sido envolvido em um caso de abuso ocorrido na década de 1970. O Pontífice, por sua vez, se recusa a comentar as denúncias. (ANSA)


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