CIDADE DO VATICANO, 18 JAN (ANSA) – O Vaticano informou nesta segunda-feira (18) que desistiu de extraditar a italiana Cecilia Marogna, mulher de confiança do cardeal Angelo Becciu e que está envolvida em um escândalo financeiro na Igreja Católica. No entanto, a Justiça informou que ela responderá pelo crime de peculato em breve.   

“Na data de 13 de janeiro de 2021, o juiz instrutor do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano, acolhendo a instância formulada pelo Escritório do Promotor de Justiça, revogou a medida cautelar disposta no confronto da senhora Cecilia Marogna, a cargo da qual está iminente a celebração de um julgamento pela hipótese do peculato cometido em concorrência com terceiros”, diz uma breve nota publicada pela Santa Sé.   

O comunicado diz que a medida pretende, “entre outras coisas, permitir a imputada – que já recusou a se defender abandonando o interrogatório perante a autoridade judicial italiana, a pedido do Promotor de Justiça – de participar no processo no Vaticano, livre da pendência da medida cautelar”.   

Marogna chegou a ser presa em 13 de outubro, mas foi colocada em liberdade condicional no dia 30 daquele mesmo mês pelo Tribunal de Apelação de Milão. No entanto, os juízes determinaram que ela estava obrigada a comparecer à justiça e aguardar seu processo no Vaticano.   

Os advogados da italiana, Fabio Federico e Maria Cristina Zanni, publicaram uma nota sobre a decisão da Justiça do Vaticano dizendo terem ficado “desconcertados” com a decisão de suspender a extradição.   

“Isso foi uma fuga sem honra, por parte do Vaticano, que devia ter feito uma afirmação dizendo que errou e que não havia base jurídica para prendê-la com um provimento que a deixou 17 dias presa”, disseram os defensores.   

A italiana de 39 anos foi presa pela Guarda de Finanças, através de um mandato da Interpol, após a Santa Sé descobrir que ela recebeu cerca de 500 mil euros do cardeal Becciu, que à época era o “número dois” da poderosa Secretaria de Estado. O dinheiro fazia parte do fundo de reserva do Vaticano.   

Apesar de não dar detalhes, a imprensa italiana noticiou que o montante foi entregue por meio de uma empresa com sede na Eslovênia e oficialmente especializada em segurança e relações internacionais. O dinheiro seria por conta de operações humanitárias secretas na Ásia e na África, em particular, para a libertação de religiosos católicos sequestrados.   

No entanto, ainda conforme as reportagens, o montante teria sido usado para a compra de produtos de luxo, como bolsas, sapatos e acessórios de grifes internacionais. Definida como “dama do cardeal”, Marogna teria recebido os valores entre dezembro de 2018 e julho de 2019, mas documentos mostram a relação dela com Becciu desde 2016.   

O cardeal foi forçado a se demitir do cargo de prefeito da Congregação para as Causas do Santo e a renunciar aos direitos do cardinalato em outubro do ano passado. Apesar do Vaticano não falar de detalhes do caso publicamente, descobriu-se que Becciu estava ciente do uso de dinheiro voltado para o Óbolo de São Pedro, serviço que gerencia os valores para a caridade do Papa, para a compra de imóveis de luxo em Londres.   

Por conta do escândalo, o papa Francisco mudou toda a estrutura de gestão de fundos da Secretaria de Estado. (ANSA).