VATICANO, 5 ABR (ANSA) – A Promotoria de Justiça do Vaticano convocou nesta quarta-feira (5) o irmão de Emanuela Orlandi, desaparecida desde 1983, quando tinha 15 anos de idade, para colher novas informações depois de decidir reabrir a investigação daquele que é considerado um dos grandes mistérios da história italiana.   

A advogada Laura Sgrò explicou à ANSA que Pietro Orlandi verá o promotor de Justiça vaticano, Alessandro Diddi, “imediatamente após a Páscoa”, na primeira vez em que foi intimado.   

Segundo ela, eles “trarão as provas” que coletaram nos últimos anos “para contextualizá-lo”. Entre os novos documentos que serão utilizados na investigação, Pietro levará quatro folhas de um bate-papo, datado dos primeiros anos do pontificado do papa Francisco, que fala sobre o caso de Emanuela, além de evidências que poderão provar que, após seu desaparecimento, sua irmã foi levada para a ilha da Sardenha e posteriormente para a Inglaterra.   

Entre os interlocutores desta conversa estaria também o cardeal Santos Abril y Castelló, arcebispo emérito da Basílica Papal de Santa Maria Maggiore.   

“Também vamos trazer a documentação que fala da estadia da Emanuela em Inglaterra, é uma documentação que tem de ser analisada, também para perceber se é fiável”, explica a advogada.   

Pietro Orlandi e sua advogada retornarão para pedir que algumas testemunhas da época sejam ouvidas, entre elas o cardeal Giovanni Battista Re, o cardeal argentino Leonardo Sandri, o cardeal polonês Stanislaw Dziwisz, que foi secretário histórico de João Paulo II, além do arcebispo Georg Gaenswein, secretário de Bento XVI e ex-comandante da Gendarmaria Domenico Giani.   

Entenda o caso – Emanuela Orlandi, 15, é filha de um funcionário da Santa Sé, cidadã do Vaticano, e residia dentro dos muros do menor país do mundo. Ela desapareceu em 22 de junho de 1983 enquanto voltava para casa.   

Diversas hipóteses foram consideradas nas últimas décadas, desde crime comum até vingança contra seu pai ou contra o Vaticano.   

O filme “A verdade está no céu” (2016), de Roberto Faenza, cogita que Orlandi tenha sido sequestrada por mafiosos e jogada em uma betoneira. Nenhuma das hipóteses, no entanto, foi confirmada pela Justiça.   

Em 2019, o Vaticano chegou a abrir um inquérito para apurar se ossadas encontradas em um imóvel da Igreja Católica pertenciam à desaparecida, mas o caso foi encerrado no ano seguinte, uma vez que os restos mortais eram anteriores ao fim do século 19.   

No entanto, a investigação sobre o desaparecimento em si foi arquivada em outubro de 2015, a pedido do então procurador Giuseppe Pignatone, agora presidente do Tribunal Vaticano.   

Em novembro de 2022, a exibição da série “A Garota Desaparecida do Vaticano”, pela Netflix, voltou a colocar holofotes no sumiço da adolescente e cartazes com o rosto de Emanuela voltaram a ser vistos nas ruas de Roma.   

Já no dia 23 de março deste ano, o plenário da Câmara dos Deputados da Itália aprovou por unanimidade a criação de uma Comissão Parlamentar Bicameral de Investigação sobre os casos de desaparecimento de Orlandi e Mirella Gregori. Agora, o texto segue para a aprovação do Senado. (ANSA).