SYDNEY, 8 JAN (ANSA) – O Vaticano teria contestado as informações da Austrac, a entidade do governo da Austrália que investiga crimes financeiros, sobre o envio de cerca de 1,4 bilhão de euros ao país entre os anos de 2014 a 2020, informou o jornal “The Australian” nesta quinta-feira (07).
Segundo os investigadores da Santa Sé tanto o valor total como as 400 mil transações financeiras citadas em relatório estão “significativamente superestimadas” pelo órgão australiano.
Ainda conforme a publicação, membros das unidades de inteligência financeira da Igreja Católica estão trabalhando de maneira próxima a Austrac para “estabelecer cifras corretas” sobre a transferência de fundos vaticanos para o país.
As fontes ouvidas pelo jornal afirmaram que os valores são “espantosos” e que duvidam de sua correção, já que o montante representaria “três ou quatro vezes” o orçamento anual do Vaticano. “Isso não é dinheiro nosso porque nós nem temos essa quantidade de dinheiro”, disse um dos representantes vaticanos à publicação.
A revelação das transações financeiras foi feita pela Austrac após uma senadora questionar a presidente do órgão, durante uma reunião corriqueira, se ela confirmava que o Vaticano enviou dinheiro para o país acima do considerado normal durante o período. Não se sabe como a senadora Concetta Fierravanti-Wells soube da investigação que estava sendo feita pela Polícia Federal australiana, mas o fato é que há uma análise em andamento contra a Igreja Católica.
Isso porque os valores teriam sido enviados ao país durante o período em que o cardeal australiano George Pell respondia a um processo por abuso sexual de menores.
O prelado, o mais alto religioso da Santa Sé a responder judicialmente por pedofilia, foi condenado em primeira instância em 2018 a seis anos de prisão pelo abuso de dois adolescentes em 1996, em pena confirmada em agosto de 2019 pela Corte de Apelação. No entanto, em abril de 2020, a Alta Corte – a maior instância judicial do país – anulou a sentença por falta de provas e mandou o religioso ser libertado da prisão.
Os bispos australianos também estão questionando a quantidade de dinheiro, já que a Conferência Episcopal afirma não saber qual o destino do montante ao longo dos anos. Inclusive, enviaram um pedido para que o papa Francisco abra uma investigação sobre as remessas financeiras ao país.
Além disso, o período do envio da maior parte do dinheiro ocorreu durante o tempo em que o cardeal Angelo Becciu era o “número 2” da Secretaria de Estado do Vaticano (2011-2018). O religioso é um “adversário” ferrenho de Pell, que comandou a Secretaria para a Economia da Santa Sé entre 2014 e 2019 e é um dos maiores aliados do Pontífice.
Becciu já é investigado por ter usado milhões de euros da caridade da Igreja Católica para a compra de imóveis de alto luxo em Londres. (ANSA).