O Vasco acabou com o esporte paralímpico com a justificativa de cortar gastos por causa da pandemia do novo coronavírus. A decisão pegou a comissão técnica e os atletas de surpresa, pois a folha salarial total não passava de R$ 40 mil mensais.

A informação foi divulgada pelas redes sociais do paradesporto do Vasco. “Brigamos até o fim. Uma luta bem desleal porque não tivemos direito à defesa, porém o comitê gestor, junto com nosso vice-presidente, Francisco Vilanova, e o presidente, Alexandre Campello, decidiram finalizar com os esportes paralímpicos.”

A coordenadora do paradesporto e técnica de natação do clube, Lívia Prates, disse que manterá o treinamento de todos os atletas durante a quarentena. “Conversei com todos. Eles continuam em atividade dentro de casa. Assim que flexibilizar o período de isolamento social encontraremos um novo local para treinar. A dispensa do Vasco não afetará nosso planejamento”, disse ao Estado.

Lívia revelou que os salários da comissão técnica do Vasco estão atrasados desde dezembro. Ela começou a desconfiar do encerramento do paralímpico há duas semanas, quando todos os atletas olímpicos receberam aviso ou de suspensão de contrato ou de redução de salário. “Procurei o vice-presidente (Francisco Vilanova) para saber. Disseram que não seria mexido. Ficamos tranquilos dentro do possível.”

As atividades continuaram normalmente em casa respeitando a quarentena: 80% dos paratletas do Vasco são grupos de risco. Na sexta-feira, Lívia recebeu mensagem do vice-presidente para uma reunião presencial na segunda-feira com objetivo de discutir planejamento. Pediu a presença dos 21 atletas assalariados.

“Botei de baixo do braço todo o planejamento, convoquei todos e fomos. Chegamos lá só tinha a gente. Marcaram às 13h. Quando foi 14h a secretária da vice-presidência desceu e falou que era para entrar um por um no RH pois naquele momento estávamos recebendo aviso de dispensa. Tentei argumentar que os atletas poderiam pedir demissão para evitar mais gastos e que mantivessem as cinco pessoas da comissão técnica. Disseram que não, que a modalidade estava encerrada.”

Os 21 atletas de ponta do Vasco recebem apenas um salário mínimo para representar o clube. Em nenhum dos casos esse dinheiro é a principal fonte de renda. Por isso a proposta de manter somente a comissão técnica, que tem custo mensal de R$ 17.800,00 para o clube.

“Se (esse valor) for sanar a crise financeira que a pandemia está gerando no clube, (o esporte paralímpico) saio feliz por poder ter mais uma vez ajudado ao clube. Porém, se todo esse aporte financeiro mensal supracitado não influenciar em nada, sairemos com a dúvida que não quer calar: ‘Porque apenas os deficientes precisam deixar o clube, já que todos os outros atletas serão mantidos?'”, encerrou a nota publicada no Instagram.

O esporte paralímpico do Vasco tinha como meta ter pelo menos seis atletas representando o Brasil nos Jogos de Tóquio – dois do vôlei sentado e quatro da natação. Entre os atletas demitidos, talvez a mais conhecida seja a nadadora Camille Rodrigues, campeã pan-americana. Ela tem a perna direita amputada, nada na classe S9. Há dois anos foi destaque na nova abertura do Fantástico. Outro destaque do clube era a nadadora Joana Maria, que no Parapan de Lima, no ano passado, conquistou quatro ouros, duas pratas e um bronze.

O clube é também a base da seleção brasileira do futebol de 7, que saiu do quadro das Paralimpíadas. O Vasco era pentacampeão brasileiro nessa modalidade. O fim do esporte paralímpico impactara o total de 128 alunos, de crianças a adultos do alto rendimento. “Não entendi até agora porque colocaram um segurança na porta do RH no dia que fomos assinar o acordo de demissão. Mas o clima estava bem estranho. Não deram espaço para negociação. Em dado momento, pediram que a gente se retirasse.”