Vários países rejeitam esboço de tratado sobre poluição por plásticos

Os esforços para elaborar o primeiro tratado internacional contra a poluição por plásticos fracassaram nesta quarta-feira (13) em Genebra, a trinta horas do final previsto das negociações, após a maioria dos países rejeitarem uma tentativa desajeitada de rascunho.

Após quase três anos de negociações e nove dias de intensas conversas sobre o tema, o diplomata que preside os debates, Luis Vayas Valdivieso, apresentou um texto de síntese e um procedimento de consulta bastante complexo para tentar superar as posições ainda muito distantes.

Mas, em vez de permitir avanços, o texto de 31 artigos provocou a ira ou, pelo menos, a insatisfação da maioria dos delegados presentes na sala, que não o aceitam como base para a negociação.

A Colômbia, que deseja um texto ambicioso para combater a poluição por plásticos, considerou o documento “inaceitável”.

Chile, México, Panamá, Canadá e a União Europeia juntaram-se à postura do país latino-americano, assim como as pequenas ilhas do Pacífico.

– “É rendição” –

Para o representante do Chile, este texto está “claramente desequilibrado”, já que “tudo é relegado ao âmbito nacional e o texto não cria nenhum espaço de cooperação internacional para combater a poluição por plásticos”.

O texto “não faz o mínimo necessário para responder à urgência do desafio que enfrentamos”, destacou o ministro de Meio Ambiente da Dinamarca, Magnus Heunicke, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE.

“Este texto fala de fechar uma ferida… mas o texto apresentado aqui torna essa ferida mortal e não o aceitaremos”, declarou o negociador panamenho. “Isso não é ambição, é rendição”, acrescentou.

A União Europeia considerou que o texto é “inaceitável” e carece de “medidas claras, sólidas e concretas”.

As ONGs que acompanhavam as conversas também manifestaram sua oposição, especialmente pela ausência de referências a qualquer restrição sobre a produção industrial de plástico virgem.

O rascunho é um “presente para a indústria petroquímica e uma traição à humanidade”, considerou Graham Forbes, chefe da delegação do Greenpeace.

– “Concentrar-se” nos problemas –

Até mesmo os países petrolíferos, que se opunham a todas as solicitações de regulação da produção de plástico, indicaram que não gostaram do texto.

Esses países, entre os quais estão Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein e Catar, concentraram suas críticas na ausência de um “marco” e de áreas de atuação.

A China, o maior produtor mundial de plástico, tomou a palavra na sessão plenária para chamar o presidente a “concentrar-se” nos problemas mais importantes nas últimas horas da negociação “em vez de aumentar as divergências”.

O presidente da sessão limitou-se a pedir que se continuasse o debate com os chefes das delegações com base em todo texto.

Por sua vez, o Conselho Internacional de Associações Químicas (ICCA pela sigla em inglês) não emitiu nenhuma opinião sobre o rascunho: “Nossa indústria continua comprometida em apoiar um acordo que ajude a pôr fim à poluição por plásticos e encorajamos os governos a continuarem trabalhando para finalizar um acordo”.

“Se o desejo de alcançar um acordo perfeito tiver como consequência sair de Genebra sem acordo, o mundo terá perdido a melhor oportunidade que já teve para enfrentar a poluição por plásticos em escala mundial”, indicou em um breve comunicado enviado à AFP.

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