A vaquinha online para o alpinista Abdul Agam, que se voluntariou para auxiliar no resgate do corpo da brasileira Juliana Marins, na Indonésia, foi cancelada no domingo, 29. Em comunicado oficial divulgado nas redes sociais, a organização informou que a devolução integral dos valores será automática a partir desta segunda-feira, 30, pelos meios originais.
Até as 19h do domingo, a mobilização virtual já tinha arrecadado mais de R$ 522 mil. A campanha era coordenada pelo site “Razões Para Acreditar” e o “Vooa”, plataforma especializada em vaquinhas online. O motivo do cancelamento, segundo o comunicado, foi o alto número de questionamentos de seguidores de doadores sobre a taxa de 20% imposta na mobilização virtual.
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“Tomamos essa decisão após muitos questionamentos relacionados à nossa taxa administrativa de 20%, que, apesar de comunicada em nosso site desde o início, gerou desconforto em algumas pessoas. Reconhecemos que a comunicação nesta história poderia ter sido mais clara”, escreveu.
De acordo com a organização, a taxa de 20% praticada pela “Vooa” é resultado de um modelo de operação único, “que vai muito além de simplesmente disponibilizar uma plataforma para arrecadação”.
“Informamos que a devolução dos valores será feita diretamente pelos meios de pagamento originais nesta segunda-feira dia 30 de junho, automaticamente, sem necessidade de ações adicionais por parte dos doadores e respeitando os prazos de cada meio”, finalizou.
Abdul Agam foi voluntário no resgate da brasileira Juliana Marins, que morreu após cair de um penhasco enquanto fazia uma trilha ao cume do vulcão Rinjani, na ilha Lombok, na Indonésia, no dia 21 de junho.
O alpinista passou a madrugada ao lado da vítima, em uma encosta íngreme e instável, para evitar que o corpo da publicitária escorregasse ainda mais.
Relembre o caso
De acordo com relatos, Juliana teria dito ao guia que estava muito cansada para continuar a caminhada. Ele, então, falou para ela descansar e seguiu com o grupo de turistas.
Mariana Marins, irmã de Juliana, disse ao “Fantástico” que a brasileira teria sido abandonada pelo guia por mais de uma hora, entrou em desespero, tentou alcançar o grupo e caiu.
Em entrevista ao “O Globo”, o guia Ali Musthofa confirmou que tinha aconselhado a brasileira a descansar, mas afirmou que o combinado era apenas esperá-la um pouco mais à frente.
“Na verdade, eu não a deixei, mas esperei três minutos na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz de Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la”, disse. “Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda”, completou.
Apesar da queda, as autoridades locais afirmaram que Juliana ainda estava viva, no sábado. Isso está de acordo com imagens de drones feitas no dia que circulam nas redes sociais.
Três dias depois, na terça-feira, 24, equipes de resgate disseram que conseguiram se aproximar de Juliana, que estava a cerca de 600 metros abaixo da trilha, e a declararam morta.
A família de Juliana apontou lentidão das autoridades locais durante o processo de resgate da brasileira. O chefe do Parque Nacional do Monte Rinjani (TNGR), Yarman Wasur, disse que o processo de evacuação foi realizado de acordo com os procedimentos padrões e negou as críticas de que o processo tenha sido lento.
“Formamos uma equipe imediatamente. O processo de formar uma equipe, preparar equipamentos e outros itens leva tempo. Esta equipe precisa ser profissional, pois envolve a segurança também da equipe de evacuação”, explicou.
O chefe do parque ainda destacou que o monte Rinjani é um local extremo, que possui uma topografia difícil e o clima muda constantemente. Tudo isso implica no procedimento de resgate.
Mesmo assim, a família de Juliana afirmou que ela sofreu uma “grande negligência” e pretende “lutar por justiça” pela jovem. Na quinta-feira, 26, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou que conversou por telefone com o pai de Juliana, Manoel Marins, e garantiu o auxílio do Itamaraty, inclusive no translado do corpo.