Rio – Nos diversos pontos de ônibus da Avenida Brasil, no entorno da estação do metrô de Coelho Neto ou nas imediações do calçadão de Campo Grande. As vans clandestinas, sem autorização para transportar passageiros, estão por toda parte. Apesar de a Prefeitura do Rio alegar que faz fiscalizações frequentes, elas são facilmente encontradas, principalmente na Zona Oeste. Algumas usam as mesmas faixas coloridas que as legalizadas, mas não têm o número de identificação fornecido pela Secretaria Municipal de Transportes.
Ninguém barra o vai e vem clandestino. Em Bangu, na altura do número 32.000 da Avenida Brasil, mototaxistas dizem que tudo ocorre na mais perfeita normalidade. Não se vê fiscalização por ali há meses, segundo eles. O ponto é um dos mais importantes da região, por onde passam veículos, não apenas para a Zona Oeste, mas também para municípios da Baixada, como Seropédica. Ainda na Avenida Brasil, entrando no bairro de Campo Grande, uma moradora de Inhoaíba explica que a van clandestina é o único meio que se tem disponível em algumas regiões.
“A gente usa porque precisa se deslocar entre a casa e o trabalho. No meu bairro, praticamente não existe ônibus”, reclama a moradora, que usa o transporte do bairro onde vive até o sub-bairro Adriana. Numa volta rápida pelo bairro, há vans piratas fazendo o trajeto das mais distintas linhas de ônibus. Dali até a estação de Coelho Neto, na linha 2 do metrô. Para Padre Miguel. Para Senador Camará. Ou para municípios vizinhos, como Seropédica. Sempre misturadas às legais. Basta uma placa na dianteira e um cobrador convocando os passageiros aos berros.
Apesar de diversos flagrantes, o delegado Marcelo Ambrósio, da Coordenadoria Especial de Transporte Complementar (CETC), diz que as ações para coibir o transporte irregular são diárias. “Nosso trabalho segue um cronograma em todo o município, de acordo com a especificidade de cada região, e sempre planejadas com as informações do setor de inteligência para reprimir as vans piratas”, diz.
O número de irregulares e piratas retiradas das ruas, só este ano, é superior ao número de vans autorizadas a circular na cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), há 2.069 permissionários. E, segundo a Secretaria de Ordem Pública (Seop), 2.178 vans e kombis já foram removidas.
Para atender a uma antiga reivindicação dos permissionários, a prefeitura prepara um novo planejamento de itinerários das linhas de vans da cidade. Prometido pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB) no dia 18 de junho, após manifestação da categoria, o plano ficaria pronto em até 90 dias.
No entanto, uma resolução da Secretaria Municipal de Transportes prorrogou o prazo por mais 90 dias. “Estamos trabalhando com afinco para chegarmos a um resultado satisfatório para os operadores do STPL, bem como para a população”, disse a secretária municipal de Transportes, Virginia Salerno.

‘Fiscalizar é fundamental para proteger a população’

Ex-coordenador da Coordenadoria Especial de Transporte Complementar, o delegado Claudio Ferraz destaca que a falta de ônibus atendendo localidades mais afastadas nos bairros da Zona Oeste só incentiva a proliferação das linhas piratas.
“Quando fazíamos operações para retirar as vans clandestinas das comunidades, a população se revoltava, porque há muitos lugares onde só existe a van clandestina. É um problema grave e crônico”.
Ele também chama a atenção para a necessidade de maior atuação das forças de segurança naquela região, não apenas para ajudar a coibir as vans piratas. “Há grupos que ameaçam motoristas que se recusem a pagar diária, mesmo nas vans legalizadas. E eles pagam porque precisam trabalhar. Fiscalizar é fundamental para proteger a população”, completa.
Procurado para explicar quais tipos de ações vêm sendo tomadas para coibir a exploração do transporte alternativo por grupos paramilitares, o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), delegado Gabriel Ferrando, é sucinto:
“Várias ações são feitas semanalmente para coibir essas quadrilhas. Mas as operações são todas em sigilo”, diz ele, sem dar informação sobre a investigação que estaria em andamento. A Secretaria de Ordem Pública pede que a população denuncie as vans piratas através do telefone 1746. Os informes são anônimos e é preciso fornecer placa, data, horário e local por onde passou o veículo.