A cantora Vanessa da Mata usou as redes sociais neste domingo, 12, Dia das Mães, para falar sobre a adoção dos três filhos: Felipe, 22, Micael, 20, e Bianca, 19, que chegaram à vida da artista ainda crianças. Vanessa desabafou sobre o desafio do processo no Brasil e criticou a legislação do país acerca do assunto.

“Hoje faz 15 anos que eu me tornei mãe de trigêmeos […] Dentre os desafios da adoção, dentre as delícias da adoção, é o amor da adoção, a transformação que gera nas crianças, nos pais”, começou a cantora, em seu Instagram.

Na sequência, ela falou sobre o sistema de adoção do país: “Eu uso esse dia para falar aqui das falhas da adoção no Brasil. A quantidade de negligência da adoção no Brasil, que usa a coisa de proteger as crianças e entra numa burocracia infernal. E essa criança acaba se vendo crescendo nos abrigos até ter uma idade onde as pessoas não se interessam mais por ela. Muito triste”.

“Essa negligência dentro dos abrigos vai junto de um começo ao fim. Vai da deseducação até os abusos físicos, mentais e os traumas que geram. Não existe apoio psicológico, não existe um apoio na escola. Esses abandonos geram falta de memória, porque a memória não pode se lembrar de tantas coisas ruins”, continua.

E protesta: “Pouquíssimas pessoas que têm um abrigo realmente fazem um trabalho maravilhoso, e essas são lindas de viver. Mas os abrigos, em geral, são um caos pra essas crianças. Elas não são preparadas pra sair aos 18 anos, elas vão pra rua. Elas não são preparadas pra um emprego, elas têm muitas dificuldades. A falta de apoio psicológico também gera uma intensidade de características de não-socialização”.

Cantora falou sobre a própria experiência com adoção

Ainda no vídeo compartilhado em seu Instagram, Vanessa da Mata contou detalhes de sua própria experiência. “Quando os meus filhos chegaram, uma professora da escola veio conversar comigo dizendo que era para eu ter muito cuidado […] Dizendo para eu não ter esses filhos, porque o mais velho era extremamente revoltado — e por que será, né? — e batia em todas as crianças e eles não tinham mais o que fazer. O meu mais velho chegou com oito anos e meio, já falei isso aqui, sabendo três cores apenas, por causa do Flamengo: branco, preto, vermelho. Sabia assinar só o nome. E ele batia nas crianças todos os dias”.

“Meu ex-marido, pai deles, começou a levá-los para a escola. E ele, mais velho, do jeitinho dele, chegou para a gente e disse: ‘Vovó, você sabe que desde que esse pai novo aí começou a me levar para a escola, nunca mais bateram nos meus irmãos?’ Ele parou de brigar. Ele estava se defendendo, defendendo os irmãos o quanto ele podia”.

“Os castigos que dão para as crianças dentro dos abrigos são proporcionais à dor que eles tiveram. Eu me lembro que uma menina, filha da senhora que trabalhava no abrigo, corria atrás da minha filha e dizia assim: ‘Você não tem mãe, você não tem pai!’ Eu segurei a menina e falei: ‘Agora ela tem!’ E a minha filha abriu um sorriso enorme […] E também tem a vontade da criança em querer ser adotada por aquela pessoa. Isso tem que ser levado em conta como o mais importante em um primeiro momento. Essa empatia é extremamente séria”, continuou Vanessa.

E a cantora concluiu: “Meu protesto é sempre o mesmo. Quem ganha por criança dentro dos abrigos? Qual é a desculpa pra manter essas crianças dentro dos abrigos? Que legislação é essa que produz muito mais gente querendo adotar do que crianças nos abrigos? E elas não saem dos abrigos. Quem é que está ganhando com isso? Lembrando que não estou falando de todos os abrigos. Não generalizar é importante porque tem muitos abrigos não-institucionalizados que são muito sérios”.

Assista: