MILÃO, 14 JUN (ANSA) – A promotoria de Milão abriu neste domingo (14) uma investigação após o monumento em homenagem ao jornalista italiano Indro Montanelli (1909-2001), localizado no jardim de um parque homônimo, no centro de Milão, ser pichado e manchado de tinta vermelha.   

O inquérito será comandado pela Divisão de Investigações Gerais e Operações Especiais (Digos), que analisará todos os vídeos das câmeras próximas ao local para tentar investigar os responsáveis pelo vandalismo. Ontem (13), as palavras “estuprador” e “racista” foram escritas na base da estátua. Segundo as autoridades locais, pelo menos quatro latas de tinta vermelha também foram derramadas na escultura.   

Montanelli, que faleceu em 2001, admitiu, em entrevista à emissora Rai em 1969, que havia comprado uma garota, de 12 anos, no Chifre da África. O episódio ocorreu na década de 1930, quando o regime fascista de Benito Mussolini tentava estabelecer um império com a conquista da Etiópia.   

Em um vídeo publicado nas redes sociais, os grupos Rede Estudantes Milão e o Laboratório Universitário Metropolitano (Lume) reivindicaram o ato. “Pedimos em voz alta e com convicção para derrubar a estátua em seu nome”, escrevem eles, ressaltando que “um colonialista que fez da escravidão uma parte importante da sua atividade política não pode e nem deve ser celebrado na praça pública”.   

O ato ocorre na mesma semana em que o debate sobre a remoção de monumentos de personalidades com histórico de racismo e colonialismo chegou à Itália, inflamado pela onda de protestos #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre).   

Nos últimos dias, um grupo contra a discriminação racial, sexual e de gênero chamado “Sentinelli di Milano” (“Sentinelas de Milão”) já havia pedido ao prefeito da cidade, Giuseppe Sala, e à Câmara Municipal a remoção da estátua em homenagem a Montanelli.   

Segundo o coletivo, o jornalista “reivindicou com orgulho até o fim da vida o fato de ter comprado e se casado com uma menina eritreia de 12 anos para que ela fosse sua escrava sexual”.   

Hoje, Sala, por sua vez, disse acreditar que a estátua de Montanelli deve permanecer lá, no entanto, afirmou estar disponível para conversar sobre racismo e sobre italiano.   

Em um vídeo em suas redes sociais, o prefeito de Milão defendeu a permanência do monumento no parque. “Quando julgamos nossas vidas, podemos dizer que a nossa é impecável, sem coisas que eu não faria de novo? Levanto minhas mãos, na minha vida não cometi erros e coisas que gostaria de não ter feito. Mas a vida continua a julgar por sua complexidade. Por todas essas razões, acho que a estátua deve permanecer lá”, finalizou.   

Esta não é a primeira vez que a estátua do jornalista é alvejada, já que em 2019 ela foi manchada durante uma manifestação de 8 de março. (ANSA)