13/06/2020 - 9:12
A psicóloga e empresária Viviane Senna é a responsável por dar vida ao um sonho do irmão Ayrton (1960-1994), piloto que se tornou um dos maiores ícones esportivos do mundo: investir em educação para ajudar o País a reduzir as desigualdades sociais e criar oportunidades de desenvolvimento para crianças e jovens.
Na sexta-feira, 12, Viviane participou de uma live da IstoÉ. Na entrevista com o jornalista Vicente Vilardaga, ela fez uma análise do cenário da educação no Brasil após a pandemia do novo coronavírus. “A Covid-19 acelerou várias tendências mundiais, em todas as áreas. Um padrão de mudanças que veio para ficar”, disse. “O mundo está incerto, imprevisível. Tudo é móvel e volátil.”
Em uma frase, Viviane resume: “O mundo mudou em 100 dias.” Estamos diante da hiper-aceleração da história. Segundo Viviane, são questões que estavam lá no fundo e que vieram para a superfície reconfigurando todos os cenários.
O Instituto Ayrton Senna, que ela fundou em 1994 e preside até hoje, pesquisa e produz conhecimento para melhorar a qualidade da educação, colocando à disposição das administrações públicas, sem custos, serviços de gestão do processo educacional que abrangem diagnóstico e planejamento, formação de gestores e educadores, desenvolvimento de soluções pedagógicas e tecnológicas inovadoras.
Com a experiência acumulada nos 25 anos que está à frente da organização, Viviane avalia que as pessoas têm que se preparar para um novo mundo. “É a vez e a hora das habilidades socioemocionais”. Para ela, as habilidades cognitivas ficarão em segundo plano. O mundo exigirá a reorganização, a flexibilidade, capacidade de adaptação, criatividade e resiliência emocional. “O mundo pós-Covid terá um novo padrão. Vamos viver nos próximos 15 anos o que se viveu em 150 anos”, avalia.
Na live da IstoÉ, Senna avaliou que o fechamento das escolas por causa do coronavírus e a transição forçada para a educação a distância que foi imposta a todos, somados aos problemas sociais anteriores, são elementos que vão potencializar a desigualdade.
“Nós não estávamos preparados como geração para este novo padrão. A gente vinha funcionando no padrão antigo, padrão século 19 e até parte do século 20, em que você tinha uma configuração muito diferente.”
Na entrevista, ela citou outras situações de calamidades já vivenciadas pela humanidade, como o genocídio de Ruanda, em 1994, e a passagem do furacão Katrina por Nova Orleans, em 2006, para construir a argumentação da importância das ações na “reconstrução da educação” no pós tragédias. Ambas ceifaram vidas, ampliaram a pobreza e impingiram situações de redução de bem-estar físico e mental, mas tiveram desfechos diferentes.
No primeiro caso, as políticas públicas de retomada focaram no atendimento de necessidades básicas como inclusão e alimentação de estudantes e famílias, mas foram necessários até 16 anos para retomar níveis de escolarização pré-crise.
Já no caso de Nova Orleans, políticas públicas com foco na gestão e na capacitação de professores e diretores alçaram escolas que anteriormente eram de pior nível a um patamar superior de aprendizagem em dois anos.
É também possível encontrar exemplos em território nacional, como Sobral (CE), que reforça a importância dessas alavancas para a maior eficiência de resultados e menor desigualdade educacional.
Aos 63 anos, Viviane faz parte de conselhos consultivos e administrativos de várias empresas e ainda preside o comitê técnico do movimento “Todos pela Educação” (que ajudou a fundar), o maior fórum nacional de debates e mobilização sobre educação.