08/02/2022 - 9:35
Danilo, 20 anos, é um baiano de riso fácil. Motivos para sorrir ele tem de sobra. É o único jovem revelado pelo Palmeiras titular no time de Abel Ferreira, ganhou recentemente uma valorização salarial, teve seu contrato ampliado até 2026, recebeu sondagens de clubes da Europa e tem sido observado com atenção por Tite, técnico da seleção brasileira. O meio-campista teve uma ascensão rápida. Subiu para os profissionais em 2020 sem muito alarde, mas foi um dos protagonistas nas conquistas recentes da equipe e hoje sua titularidade não se discute. Será certamente titular da equipe na estreia do Mundial contra o Al Ahly, nesta terça-feira, às 13h30 (de Brasília).
“Cada um tem sua fase, seu momento. Eu consegui subir e me manter bem. Que eu continue evoluindo mais e mais nessa temporada”, diz ao Estadão o meio-campista, um dos atletas indispensáveis de Abel Ferreira na disputa do Mundial de Clubes. Ele é o mais novo entre os titulares, mas seu futebol é de quem parece ter acumulado já muita experiência.
Danilo conversou por 20 minutos com a reportagem do Estadão. Tímido, não se alonga nas respostas. Ele fica à vontade mesmo é em campo. Em tese, joga como um camisa 5, mas também faz a função de um 8. Sua versatilidade permite que seja importante na contenção e armação das jogadas. É comum vê-lo começando os lances e até chegando para concluir ao gol.
Essa versatilidade e a “correria”, como ele define a capacidade de estar em todo canto do campo, encantaram Vanderlei Luxemburgo, que gostou de sua exibição em um treino quando ele defendia o sub-20 e o promoveu aos profissionais na metade de 2020. “A correria, a marcação, o passe são minhas virtudes”, considera o jovem. Na base, ele foi atacante e meia até recuar um pouco e virar volante.
Danilo foi decisivo para as duas últimas taças da Libertadores. Na final de 2020, contra o Santos, ele deu o lançamento para Rony cruzar e Breno Lopes marcar. Na campanha vitoriosa de 2021, foi o único da equipe a disputar todas as partidas. Na decisão diante do Flamengo, grudou como um carrapato no uruguaio Arrascaeta. Correu tanto que teve de ser substituído após sentir câimbras no segundo tempo.
O jovem desbancou jogadores mais experientes para se consolidar entre os titulares e hoje forma com Zé Rafael a dupla de volantes do Palmeiras. Ainda que não seja mais o meia armador, sua inspiração é em Ronaldinho Gaúcho. “Quando me perguntam, eu falo Ronaldinho Gaúcho. Sou muito fã dele”, conta.
DISPENSADO DO BAHIA AOS 15 – Danilo, como muitos atletas, viveu frustrações. Foi dispensado aos 15 anos do Bahia. Mas teve o apoio de Adenílson de Jesus Freitas, conhecido como Dego, seu professor quando atuava no Deguinhos da Bola, e insistiu. Dego colocou o garoto no Instituto Social Manassés, projeto social que estimula a prática do esporte e tem parceria com o Cajazeiras. Na equipe, foi vice-campeão da Série B do Campeonato Baiano e chamou a atenção do Palmeiras, que o captou. Hoje é famoso e ostenta títulos, mas não esquece das raízes. Nas férias, foi visitar a escolinha em que jogava.
“Fui lá no Deguinho. Passei quase um dia todo lá nas férias. Virei referência lá. As crianças querem autógrafo, foto”, afirma o sorridente jogador. Também visitou os pais, que moram em Salvador. Foram eles que demoveram o filho da ideia de desistir do futebol. Ele pensou em abandonar a carreira quando estava já na base alviverde. “Foi difícil. Estava sem treinar, sem jogar. Quando o Luxemburgo me chamou eu já tinha tirado da cabeça esse negócio de desistir”, recorda-se.
Danilo tem 86 jogos e cinco gols pelo Palmeiras. A capacidade de marcação, os lançamentos precisos e a dinâmica que dão ao time despertaram o interesse de times europeus. Não houve propostas ainda porque a diretoria só vai negociar atletas depois do Mundial. Mas o clube recebeu sondagens de equipes inglesas. A tendência é de que não saia por menos de R$ 100 milhões.
Sua multa para o exterior é de 100 milhões de euros – R$ 606 milhões. “Vários me falam que meu futebol se encaixaria na Inglaterra, Itália ou Espanha. Que Deus abençoe que eu jogue na Inglaterra. Dá pAra dar um caldo lá”, avalia.
Ele está em Abu Dabi “com a energia a mil”. O meia reforça o discurso de seus companheiros e salienta que, com o tempo adequado para descansar e treinar, o time está muito mais bem preparado para brigar pelo título Mundial neste ano. “Ano passado, ganhamos a Libertadores, mal pudemos comemorar e fomos ao Mundial. Foram jogos atrás de jogos. Três vezes por semana. Foi desgastante”, relembra, em referência à edição em que a equipe naufragou ao terminar em quarto. O título mundial é possível. O importante, ele diz, é “igualar aos outros times na correria porque nossa qualidade vai sobressair.”