De acordo com uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), durante dois anos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) desembolsou quase R$ 300 mil na compra de 12 salas comerciais com recursos de origem incerta, que sequer passaram por sua conta bancária. As informações são do UOL e constam na denúncia protocolada no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

+ Mensagens de ex-assessora de Flávio Bolsonaro confirmam esquema das ‘rachadinhas’

Os valores foram utilizados pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, entre os anos de 2008 e 2009, quando ele era deputado estadual, para dar entrada em 12 salas comerciais e pagar o financiamento desses imóveis.

Segundo o MP-RJ, foram utilizados dinheiro vivo, cheques de terceiros e boletos bancários. As salas ficam no Barra Prime Offices, centro comercial de algo padrão na Barra da Tijuca, área nobre da zona Oeste do Rio.

A defesa do hoje senador foi procurada pela reportagem, mas não comentou sobre o pagamento dessas 12 salas. Ela vem apontando que Flávio é inocente, e tem feito críticas à denúncia do MP-RJ, dizendo que ela contém “vícios processuais, enganos e erros de cálculo”.

Para o Ministério Público, o uso de dinheiro vivo é uma forma de tentar ocultar a origem dos recursos, supostamente ilícita, e as transações com imóveis, uma forma de lavagem de dinheiro.

Segundo a investigação, os primeiros pagamentos foram feitos em dezembro de 2008, e que somariam pouco mais de R$ 297 mil até o fim de 2009, sendo R$ 86,7 mil por meio de depósitos em dinheiro, R$ 16,8 mil em cheques de terceiros e outros R$ 193,6 mil em boletos que não saíram da conta corrente de Flávio.

Só em 2008, o valor pago pelo filho do presidente chegou a R$ 262 mil, mas ao longo do ano Flávio teria sacado pouco mais de R$ 90 mil de sua conta. Mas esse valor pode ter sido utilizado para que ele pagasse parte de suas despesas pessoais, uma vez que ele praticamente não utilizava cartões de crédito e débito, segundo informações obtidas pelos investigadores.

O então deputado declarou no Imposto de Renda de 2008 ter pegado emprestado R$ 230 mil com amigos e parentes, o que poderia justificar a origem dos recursos usados para pagar os 12 imóveis. No entanto, o MP aponta que esses valores também não passaram pela conta de Flávio, e que não há provas de que essas operações existiram. Para os promotores, casos sejam verdadeiros, esses empréstimos também ocorreram em dinheiro vivo.

O Ministério Público ainda aponta que, por conta de operações semelhantes feitas na compra de outros imóveis, foi possível encontrar provas de que foram utilizados recursos das supostas “rachadinhas“, esquema que envolve Fabrício Queiroz e vários outros assessores de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no qual esses assessores, vários deles fantasmas, devolviam a maior parte dos seus salários para Queiroz.

Um dos exemplos seria a compra de um apartamento em Laranjeiras, na zona Sul do Rio, em 2011, no qual Queiroz e Miguel Ângelo Braga Grillo, principais assessores de Flávio e apontados pelo MP como operadores do suposto esquema das rachadinhas, fizeram repasses para a conta da esposa de Flávio, Fernanda Bolsonaro, em datas próximas ao pagamento de parcelas dos imóveis.

Fernanda, além de Flávio, Queiroz e outras 14 pessoas, foi denunciada por suposta participação no esquema das rachadinhas da Alerj. O MP afirma que Flávio comandou uma organização criminosa que nomeou funcionários fantasmas e se apoderou de grande parte de seus salários entre 2007 e 2018.

O Ministério Público ainda identificou que Queiroz pagou mais de cem boletos de despesas pessoais de Flávio em operações com dinheiro vivo que chegaram a mais de R$ 261 mil, entre elas a mensalidade da escola de suas filhas e o plano de saúde da família. Essas provas foram usadas para embasar a Operação Anjo, que prendeu preventivamente Fabrício Queiroz em junho desse ano.

Outro lado

Em nota, a defesa de Flávio disse que “em função do segredo de Justiça, a defesa está impedida de comentar detalhes, mas garante que a denúncia contra Flávio Bolsonaro é insustentável. Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o senador se mostra inviável e não passa de uma crônica macabra e mal engendrada, influenciada por grupos que têm claros interesses políticos e que, agora, tentam voltar ao poder”.

Segundo os advogados de Flávio, “a denúncia, com tantos erros e vícios, não deve ser sequer recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprios e no momento adequado”.

O senador não comentou as acusações referentes à compra das 12 salas comerciais.