27/10/2022 - 17:30
Bandeirinhas, mastros, fachadas, santos e figuras mitológicas são alguns dos elementos que tornaram a obra do pintor modernista Alfredo Volpi (1896-1988) tão facilmente identificável e apreciada. Essa assinatura visual agora leva o pintor a um novo patamar, passadas mais de três décadas de sua morte: Volpi virou fenômeno de vendas, inserido na cultura pop. Prova do frenesi que rodeia a obra do artista aconteceu durante o leilão de seu espólio, no último dia 19. Todas as 2.875 gravuras disponíveis foram vendidas, algumas delas alcançando 50 vezes o preço de seu valor inicial.
Trabalhos com lances mínimos que giravam em torno de R$ 2 mil chegaram a quase R$ 100 mil – caso de uma das famosas “madonas de Volpi”, que alcançou R$ 97 mil, e outra obra, com as bandeirinhas, arrematada por R$ 94 mil. Os valores de compra de obras avaliadas inicialmente em R$ 500 atingiram cifras entre R$ 20 mil e R$ 25 mil, fato que comprova a posição do pintor como um dos nomes mais caros e disputados da atualidade.
O leiloeiro James Lisboa, guardião do espólio do artista desde 2012, diz que se surpreendeu com a velocidade com que os lotes eram vendidos. “Agora estamos despachando as obras para todo o País. Foi o momento certo de vender”, explica Lisboa, se referindo aos anos em que esse conteúdo permaneceu impedido de ir a leilão por uma disputa judicial entre herdeiros. “Havia demanda reprimida”, diz.
As gravuras leiloadas, feitas com base em pinturas em têmpera e produzidas em diferentes técnicas (serigrafia, litogravura e impressão offset), trazem ainda um detalhe que poucas gravuras que circulam no mundo da arte têm: todas são assinadas e levam uma marca d’água com os dizeres “Espólio Alfredo Volpi”, incluindo um carimbo com o nome do liquidante.
Os efeitos imediatos do sucesso do leilão foram o aumento dos preços das peças à venda em galerias e também uma busca desenfreada por seus trabalhos. Há até mesmo gravuras disponíveis em sites de venda de produtos usados, como o Enjoei e Mercado Livre, oferecidas por milhares de reais. “O brasileiro tem o hábito de ir para o exterior e só lá visitar museus, mas mesmo por lá, ele não encontra nada semelhante à originalidade de Volpi”, diz o leiloeiro.
