Nos próximos capítulos de “Vale Tudo”, remake exibido no horário das 21h na TV Globo, o personagem Renato Felipelli, vivido pelo ator João Vicente de Castro, vai parar no hospital por excesso de trabalho. O empresário, dono da agência Tomorrow, sente uma forte dor no peito e desmaia dentro do escritório por uso abusivo de estimulantes e é diagnosticado com síndrome de burnout.
O colapso acontece depois de uma sequência de pressões pessoais e profissionais, como o fim de seu relacionamento com Leila, personagem de Carolina Dieckmann. A sequência deve ir ao ar ainda neste mês e reacende um alerta importante: o burnout é real, atinge cada vez mais profissionais, mesmo em carreiras idealizadas, e exige atenção urgente das empresas.
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A síndrome é tratada como doença ocupacional na nova Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2022 e, a partir de 2025, o código entrou em vigor para pacientes brasileiros que enfrentam o quadro caracterizado por esgotamento físico e mental, alterações de humor, insônia, sentimentos de fracasso, dores musculares e de cabeça, alterações nos batimentos cardíacos e outros sintomas relacionados às atividades profissionais.
O advogado trabalhista *Rafael Medeiros, especialista em causas acidentárias, afirma que, por essa classificação, a síndrome também é considerada um acidente de trabalho.
“O colaborador que for diagnosticado com o transtorno tem direito ao auxílio-doença do INSS, caso o afastamento seja superior a 15 dias. Além disso, deverá ter estabilidade no emprego, por pelo menos 12 meses, após o retorno ao trabalho”, explica o advogado.
Lamentavelmente, a grande maioria das empresas tem como prioridade a produtividade, e não o bem-estar do colaborador, o que torna o ambiente de trabalho extremamente prejudicial. É o que observa a psicóloga **Amanda Carvalhal, especialista em gestão de pessoas. Ela alerta que não existe produtividade adequada quando o trabalhador está com a saúde mental prejudicada.
“Se, para o empregador, o funcionário não está sendo cada vez mais produtivo, ele já não tem mais tanto valor. Falar de burnout é falar de uma pessoa extremamente cansada que está em busca de cumprir todas as metas. Isso vai para o corpo porque, muitas vezes, já começa com sintomas físicos e doenças devido ao esgotamento”, explica.
Um aspecto essencial para o bom funcionamento de uma empresa é a personalização das estratégias de cuidado, levando em conta o perfil e as necessidades de cada equipe. Para isso, ferramentas de mapeamento comportamental e pesquisas internas podem ajudar a entender melhor os desafios específicos enfrentados pelos colaboradores. Amanda Carvalhal ressalta que o líder precisa compreender o motivo do colaborador estar esgotado e, assim, poder dar um suporte emocional adequado a cada caso.
Essa ideia é reforçada pelo especialista em educação empresarial e gestão emocional ***Leonardo Loureiro, que destaca ser fundamental que as empresas adotem um mapeamento eficaz dos fatores de risco e implementem políticas de prevenção de doenças psíquicas nos negócios. Esse processo deve ser contínuo e envolver tanto a liderança quanto os próprios colaboradores.
“A gestão emocional no trabalho não pode ser vista como um diferencial, mas sim como uma necessidade estratégica. Empresas que ignoram esse aspecto tendem a lidar com maior rotatividade, desmotivação e perda de talentos”, afirma Leonardo.
O primeiro passo para uma gestão eficaz dos riscos à saúde mental é identificar os sinais de alerta dentro da organização. O excesso de demandas, a falta de reconhecimento do trabalho, ambientes de extrema competição e a ausência de apoio psicológico são fatores que podem comprometer o equilíbrio emocional dos colaboradores.
“O gestor precisa estar atento a mudanças no comportamento da equipe, como queda no desempenho, aumento do absenteísmo e sinais de exaustão. São indicativos que algo não está bem e precisa ser tratado antes que se agrave”, explica o especialista.
Além do diagnóstico, a empresa deve investir em medidas preventivas para reduzir os impactos negativos no bem-estar dos funcionários. Criar um ambiente de trabalho mais humano, incentivar a cultura do diálogo e oferecer suporte psicológico são ações essenciais para minimizar os riscos. “É preciso desenvolver políticas claras que estimulem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, além de oferecer treinamentos que preparem os líderes para lidar com essas questões. O gestor bem treinado consegue agir proativamente, evitando que pequenas dificuldades se transformem em crises”, pontua Leonardo Loureiro.