Nos próximos capítulos de “Vale Tudo”, Raquel Acioli (Taís Araújo) viverá um dos momentos mais difíceis de sua trajetória: a falência do restaurante Paladar. A responsável pela queda será Odete Roitman (Débora Bloch), que, ao descobrir o relacionamento da rival com Ivan Meireles (Renato Góes), decide agir para destruí-la. Em mais um capítulo de vingança, a vilã usa estratégias desleais para minar a estabilidade do restaurante, empurrando Raquel de volta ao ponto de partida.
Da ficção, a queda da empresa de catering encontra paralelo com a realidade. Dados do Sebrae mostram que mais de 20% dos empreendimentos brasileiros encerram as atividades nos primeiros dois anos, seja por má gestão, endividamento ou fatores externos, como crises econômicas e aumento da concorrência.
Segundo Gabriel Pagliarin, empresário e consultor empresarial, os sinais de crise são como sintomas de uma doença – quando você percebe, muitas vezes já é tarde.
“Eu aprendi isso da pior forma possível aos 25 anos, quando minha empresa que faturava R$6 milhões por mês quebrou. Os sinais estavam todos lá: fluxo de caixa imprevisível, dependência excessiva da minha presença, processos caóticos e uma equipe que só resolvia 20% dos problemas sozinha. O maior erro foi ignorar esses gargalos invisíveis achando que eram ‘problemas normais de crescimento’. Na verdade, eram alertas vermelhos de que a estrutura interna estava comprometida. Hoje, quando faço diagnósticos empresariais, identifico esses mesmos padrões em 95% das empresas que atendo”, diz.
O enredo da novela chama a atenção para um tema delicado: a importância de estar preparado para os imprevistos. Especialistas apontam que o planejamento financeiro e o acompanhamento constante de indicadores de gestão são decisivos para manter a saúde do negócio mesmo diante de instabilidades.
“A preparação começa muito antes da crise aparecer. Depois de quebrar e reconstruir, desenvolvi uma metodologia que identifica os 7 gargalos invisíveis que levam empresas à falência. O primeiro é criar sistemas que funcionem sem você – se sua empresa para quando você sai de férias, ela já está em risco. O segundo é ter previsibilidade financeira real, não apenas ‘achismos’. O terceiro é formar uma equipe que tome decisões certas na sua ausência. Empresários que faturam R$10 milhões trabalham 30 horas a menos por semana que os que faturam R$2 milhões — a diferença não é sorte, são sistemas preventivos. A melhor defesa contra a falência é construir uma empresa que cresça sem depender exclusivamente do fundador”, compartilha o empresário.
Para quem, assim como Raquel, precisa recomeçar após um prejuízo, o processo pode ser desafiador, mas também transformador. Muitos empresários conseguem reconstruir sua trajetória com mais maturidade, aproveitando os aprendizados da experiência.
“A falência é uma das experiências mais devastadoras que um empresário pode passar, mas também pode ser a mais transformadora. Quando perdi tudo aos 25 anos, senti que minha identidade havia desaparecido junto com a empresa. Mas foi no fundo do poço que descobri que eu não era minha empresa – eu era muito mais que isso. O recomeço exige humildade para admitir erros, coragem para tentar novamente e sabedoria para fazer diferente. Hoje, ajudo empresários a evitarem o que passei, mas também a se reconstruírem quando necessário. A diferença entre quem quebra e desiste e quem quebra e reconstrói está na capacidade de transformar dor em aprendizado. Minha falência me ensinou mais sobre negócios do que qualquer MBA poderia ensinar”, afirma Pagliarin
O arco da personagem em “Vale Tudo” mostra que, apesar das perdas, a resiliência pode abrir novos caminhos. Entre ficção e realidade, a mensagem é clara: mesmo diante dos maiores obstáculos, ainda é possível reerguer-se e buscar novos começos.